Alta Roda nº 995/345 – 31/05/2018
Fernando Calmon |
O verdadeiro pesadelo nacional em que se
transformou a greve dos caminhoneiros termina com balanço nitidamente de
perde-perde. Perderam: a sociedade com prejuízos aos deslocamentos e
desabastecimentos; as atividades econômicas em quase sua totalidade; o governo
federal por ser obrigado a subsidiar o preço do diesel; e os próprios
manifestantes porque nos últimos dias houve desgaste na imagem positiva dos que
labutam ao volante de forma solidária e profissional.
Uma das coisas estranhas no acordo entre governo e motoristas é a generalização
de isenção de pedágio por eixo suspenso dos caminhões. Isso não é adotado em
outros países simplesmente pela dificuldade de fiscalizar se o semirreboque ou
baú está mesmo vazio. Há racionalidade em levantar um eixo para poupar pneus e
combustível, mas está longe de ser uma solução correta e justa para todos os
que pagam pedágio, além dos caminhoneiros.
Esta é a quinta paralisação nas estradas desde 2000. Em todas as vezes se
questiona a vulnerabilidade do Brasil quanto à concentração de rodovias nos
modais de transporte. Essa “fraqueza” existe, mas não é exclusividade nossa. Na
Europa Ocidental, por exemplo, o porcentual de 60% é bem próximo ao existente
aqui. Mesmo nos Estados Unidos, onde a rede ferroviária é sete vezes maior que
a brasileira (210.000 km, ante 30.000 km, aproximadamente), as mercadorias
transportadas por estradas, em valor, representam algo perto de 60%.
Independentemente da participação inadequada dos modais, há grandes gargalos
logísticos no Brasil. Como um país com 8.000 km de litoral e tantos portos
continua quase a desprezá-los? Mas algo precisa ser dito sobre a participação
de estradas pavimentadas na malha total. Apenas 12% não são de terra. À exceção
da África, nosso país é caso único no mundo. Se essa proporção dobrasse, por
exemplo, rodovias seriam competitivas mesmo em relação às ferrovias em grandes
distâncias. Basta ver os treminhões em algumas estradas brasileiras.
Subsídio ao óleo diesel precisa ser visto com cautela. Em termos de preços
internacionais o país está agora, como sempre esteve, no meio termo entre o que
se cobra nos Estados Unidos e na União Europeia. Mesmo em relação aos nossos
vizinhos o preço não é muito diferente, sem contar a Venezuela, onde fica quase
de graça. Se o preço internacional e a cotação do dólar sobem, o repasse
torna-se inevitável. O ritmo dele pode se atenuar, mas alguém vai pagar de
qualquer jeito na forma de impostos ou de diminuição de incentivos em outros
ramos da economia.
Bom lembrar também que picapes médias e SUVs de tração 4x4 podem abastecer
livremente com esse diesel subsidiado. Na maioria dos casos, trata-se de
modelos caros e de uso não comercial. Preço diferenciado na bomba é
inexequível. Aumento do IPVA, específico para esse tipo de veículo-utilização,
pode ser alternativa. Outra solução: voltar ao que sempre foi. SUVs só com
motor de ciclo Otto (gasolina ou flex).
Legislação de emissões para motores diesel em picapes e SUVs é muito frouxa no
Brasil: pega carona no uso em caminhões leves. Sem inspeção veicular, pode se
tornar um problema nas grandes cidades, cedo ou tarde.
RODA VIVA
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CITROËN C4 Cactus estreia em setembro próximo, mas a marca já revelou
visual externo igual ao francês, salvo rack de teto, rodas e vidros das portas
traseiras (descem e não basculam, como no original). Na avaliação dos
protótipos, por 250 km, o desempenho agradou. Mesmo motor 1,6-litro turboflex
do Peugeot 2008, mas com câmbio automático 6-marchas. Interior foi
simplificado.
OUTRA pré-antecipação: aventureiro Ford Ka
FreeStyle chega ao mercado em julho. Bem formulado, sem exageros. Trata-se de
versão completa: seis airbags, ESC e câmera de ré associada a sensores de
obstáculos. Preços partem de R$ R$ 63.490, mais R$ 4.500 pelo câmbio automático
convencional de seis marchas. Estreia também motor tricilindro de 1,5 litro e
136 cv.
CÂMERA de ré de série (quando há central
multimídia), cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça para a
posição central traseira são principais novidades do Chevrolet Onix 2019, a
partir de R$ 54.390 (automático, mais R$ 5.300). Carlos Zarlenga, presidente da
GM Mercosul, afirmou que escalada do dólar impacta de forma brusca as contas da
empresa.
MINI 2019 mudou faróis e passa a utilizar novo
logotipo inspirado nos modelos dos anos 1990. Lanternas traseiras homenageiam
bandeira britânica. Eletrônica geral e infotretenimento com boa evolução.
Sistema desliga/liga o motor funciona agora orientado pelo GPS. Há novo câmbio
automatizado de dupla embreagem e sete marchas nos Cooper. R$ 119.990 a
179.990.
APLICATIVOS para telefone celular continuam a
facilitar a vida de quem depende de prestação de serviços ligados ao uso do
automóvel. A Sompo Seguros acaba de lançar um novo e específico processo de
indenização de segurados, após ocorrência de sinistro. Constatação dos danos
(com a câmera do celular), análise e liquidação da ocorrência ficaram mais
rápidos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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