Wagner Gonzalez |
Automobilismo vive mudanças involuntárias
Não faz muito tempo seria difícil imaginar
que uma pandemia e um ato bárbaro acontecido na cidade de Minnesota pudessem
causar tamanha repercussão dentro de autódromos. A F-1 anunciou ontem uma
campanha para difundir a inclusão social e nos EUA o FBI investiga episódio no
box de Bubba Wallace.
Não
faz muito tempo seria difícil imaginar que uma pandemia e um ato bárbaro
acontecido na cidade de Minnesota pudessem causar tamanha repercussão dentro de
autódromos. Categoria historicamente refratária à temas de comportamento
social, a F-1 anunciou ontem uma
campanha para difundir sua nova imagem
institucional com na inclusão. Nos Estados Unidos o FBI (Agência Federal de
Investigação) foi chamado a investigar um fato certamente inédito: durante a
etapa de Talladega, disputada ontem, uma forca foi encontrada no box de Bubba
Wallace, único piloto negro dessa especialidade.
O
ambiente em um paddock de F-1 sempre exalou uma mescla de cores e aromas que se
combinam numa
amálgama que gera oportunidades para imagens exaltadas pelas
câmeras de cinegrafistas e fotógrafos. Nesse processo, palacetes montados sobre
enormes reboques recebem mortais ansiosos por virar celebridades enquanto se
misturam a celebridades que preferem disfarçar, até esconder, a realidade
suntuosa que vivem fora dali. Detalhes mundanos como leis trabalhistas e
décimo-terceiro salário são temas que jamais são credenciados para circular
nesse espaço.
Forçada a
interromper um dos seus atrativos comerciais mais fortes, apresentar-se
quinzenalmente pelo mundo entre março e novembro, a forma mais exuberante do
automobilismo mundial ensaia seu regresso dentro de novos parâmetros. Sem
convidados selecionados para gerar cliques e com arquibancadas vazias,
buscou-se um artifício para gerar impressões e construir uma imagem mais
palatável aos padrões do socialmente correto de nossos dias: no GP da Áustria,
dia 5 de julho, carros e painéis ao longo da pista levarão a mensagem
“WeRaceAsOne” obviamente acompanhada de uma hashtag.
O conteúdo
implícito nessa frase remete a algo do tipo “aqui não se vê cara nem coração,
somos todos iguais”, ou seja nega-se o racismo e outros preconceitos como os de
gênero e origem. A Liberty Media (proprietária dos direitos comerciais da F-1)
e a Federação Internacional do Automóvel (FIA) insistem que a proposta não tem
prazo de validade e será reforçada ao longo dos próximos meses. Nada mais
justo: não se transforma um mercado de trabalho há sete décadas dominado por
homens brancos do dia para a noite, muito menos de um GP na Áustria para outro
na Hungria, uma quinzena mais tarde.
Detentor
se seis títulos mundiais na F-1, o inglês Lewis Hamilton embarcou nessa movida
com algumas voltas de atraso em relação a outros esportistas negros, em
particular norte-americanos. No fim de semana anunciou o lançamento da Comissão
Hamilton horas antes de participar de um protesto que celebrou o movimento
“Black Lives Matter” nas ruas de Londres. Sua proposta foca no engajamento de
mais negros em temas como ciências, tecnologia, engenharia e matemática, algo
também em voga e identificado pela sigla em inglês, STEM.
O
fato mais contundente das mudanças que são cobradas no momento aconteceu nos
Estados Unidos, mais especificamente, no box de Bubba Wallace, piloto de ponta
da Nascar, modalidade que se consolidou na região mais segregacionista dos EUA.
Dois fatos lastimáveis construíram um cenário que levou os dirigentes da
categoria a banir a exibição da bandeira dos estados confederados que
identifica essa área. No primeiro deles Kyle Larson usou um insulto racista
contra um rival durante uma corrida virtual (“Você não consegue me ouvir,
negro?”) e acabou despedido da equipe Chip Ganassi. Semanas mais tarde o
inaceitável assassinato de George Floyd, asfixiado pelo policial de Minneapolis
Derek Chauvin, provocou uma onda inédita de protestos por inúmeras cidades
norte-americanas, fenômeno que no domingo alcançou a categoria automobilística
mais popular dos Estados Unidos. Para tratar de temas envolvendo esses
acontecimentos Brandon Thompson foi anunciado, há uma semana, como
vice-presidente para assuntos como diversidade e inclusão.
Neste fim de
semana foi encontrada uma forca no box da equipe de Wallace que disputava uma
prova em Talladega, cidade localizada no estado do Alabama. O fato repercutiu
de forma ampla, geral e irrestrita: aos 82 anos de idade Richard Petty – o
maior vencedor da categoria- abandonou seu isolamento coercitivo e foi ao
circuito solidarizar-se com o piloto que defende seu time; mais, todas as
equipes escoltaram o carro 43 no processo de formação do grid de largada. Ato
contínuo, mais uma ˆhashtag” foi criada para divulgar a palavra de ordem “I
stand with Bubba”( “Eu estou com o Bubba). Para reforçar a seriedade de
proprósito em acabar com o racismo, Steve Phelps, presidente da Nascar,
admitiu que uma vez descoberto quem deixou a forca na garagem de Wallace será
banido para sempre da categoria. Seja quem for, as chances de ser
descoberto são grandes: a agência federal convocada para descobrir o autor da
asneira tem fama de levar a sério seu trabalho.
Na McLaren o problema é $
Há alguns meses
Zak Brown, CEO da McLaren, vem fomentando o processo de instituir limites de
gastos na F-1, algo que culminou com a introdução de um teto orçamentário 2021
estipulado em US$ 145 milhões por equipe (cerca de R$ 762 milhões ao câmbio de
22/6/2020). O que não se esperava é que a situação da sua empresa estivesse tão
ruim a ponto de estabelecer mecanismos legais para garantir novos empréstimos e
evitar que bancos e instituições financeiras possam executar dívidas ainda em
período de amortização. Já se fala que até o dia 17 de julho será necessária
uma injeção £112,8 milhões (aproximadamente R$740 milhões) para cobrir as
perdas geradas pelos fracos resultados no Mundial de F-1 e a queda nas vendas e
encomendas dos seus carros de rua.
Segundo a BBC, um
grupo de credores se opõe ao uso da coleção de carros de corrida e seu centro
tecnológico como garantias de um novo empréstimo alegando que esses bens já
estão comprometidos em outras operações financeiras. A situação ganha ares mais
pesados quando se nota que recentemente o grupo anunciou o corte de 1.200 vagas
e viu rejeitado sua demanda de assistência financeira do governo britânico para
empresas afetadas pelo Covid-19. Fica no ar se a recente mudança de Daniel
Ricciardo trocar a Renault pela McLaren não se transforme em outra decisão que
prejudicará a carreira do australiano.
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