Entre as visões sobre o futuro do automóvel nas cidades
aparece uma dúvida. Os carros continuarão a ser comprados (à vista ou
financiados) como hoje ou a comercialização vai evoluir para a utilização partilhada
em que o interessado pagaria exclusivamente pelo uso? Tudo indica que as duas
opções coexistirão, mas a tendência é o avanço na direção dessa espécie de
aluguel por horas ou mesmo por alguns dias.
Independentemente de uma concessionária vir a se tornar
também uma locadora e vice-versa, dependendo da legislação específica de cada
país, há experiências em curso. Compartilhar carros por curto prazo não é, de
fato, uma novidade. Várias empresas especializadas em locação na América do
Norte, Europa e até no Brasil já oferecerem esse serviço. Alguns fabricantes de
veículos, porém, decidiram aprofundar esse negócio a fim de avaliar o real
interesse de compradores em abrir mão da propriedade física em troca do simples
uso em momentos convenientes.
Tudo começou em outubro de 2008 com a criação do projeto car2go,
em Ulm, Alemanha. A iniciativa da Mercedes-Benz envolve o microcarro de dois
lugares smart, sempre escrito em letras minúsculas, como o nome do projeto. A alternativa,
no caso, foi que os automóveis não ficassem obrigatoriamente em postos fixos. Podem
ser reservados, apanhados e devolvidos também em locais públicos, dentro de uma
área previamente conhecida. Por isso, iniciou naquela cidade de 120.000
habitantes, a 100 km de Stuttgart, onde se poderia avaliar o funcionamento da
operação com 200 unidades.
No momento está em 17 cidades da Europa, EUA e Canadá, a
frota é pouco superior a 5.000 unidades e passou a incluir versões elétricas do
smart. Recentemente, recebeu o reforço de uma plataforma de mobilidade, por
meio da rede de telefonia celular, batizada de moovel (também em minúsculas).
O moovel é um aplicativo capaz não apenas de localizar e
reservar os microcarros de aluguel de curto prazo. Também oferece um modo de
avaliar as alternativas de transporte público com horários disponíveis, tempo
de deslocamento e tarifas. O serviço inclui a possibilidade de chamar um táxi e
até de pagar antecipadamente o serviço de ônibus, trem, bonde ou metrô. Existe
a facilidade adicional de interagir às redes de programas de caronas, onde elas
existirem. A flexibilidade, assim, é ampla, mas se aplica, por enquanto, às
cidades de Stuttgart e Berlin.
A car2go parece uma operação consolidada e tem uma base
internacional de mais de 200.000 clientes porque o sistema permite alta
rotatividade da frota relativamente pequena. Não quer dizer que deu certo em
todos os lugares: foi suspenso em Lyon, França.
BMW e Volkswagen também iniciaram experiências semelhantes. Já
Renault e Peugeot-Citroën introduziram seus carros elétricos, por meio de uso
compartilhado, em esquema parecido.
Toda essa organização, no entanto, mostra baixa adaptabilidade
ao uso mais abrangente do automóvel, que inclui liberdade total de ir e vir por
estradas e outros caminhos. Mas como no futuro há espaço para as chamadas
rodovias inteligentes, não se descarta que possam se integrar aos programas
urbanos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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