Wagner Gonzalez |
A cada rodada Grosjean
traça seu destino.
Franco-suíço
da F-1 revive sua chegada na categoria e acaba punido pela FIA.
Alguns pilotos da F-1 ocupam, ciclicamente, o pedestal de
vilões da categoria. Foi o caso do sul-africano Jody Scheckter, dos italianos
Riccardo Patrese e Andrea De Cesaris, do venezuelano Pastor Maldonado e, mais
recentemente, de Romain Grosjean.
Não é a primeira vez que o nome deste
franco-suíço nascido em Grenoble (Suíça) aos 17 de abril de 1986 é envolto em
situações controversas devido à sua atuação na pista. No fim de semana em
Barcelona, Grosjean perdeu o controle do seu Haas VF18-Ferrari na terceira
curva da primeira volta da corrida e ao tentar corrigir a situação acabou
eliminando da prova ele próprio e dois rivais: Nico Hulkenberg e Pierre Gasly.
Confira o acidente neste link, onde nota-se claramente que tudo começou
quando Romain tirou o pé do acelerador para evitar bater na traseira de seu
companheiro de equipe, o dinamarquês Kevin Magnussen.
A carreira de Grosjean é marcada por extremos e sua
experiência na F-1 tem momentos que remetem a um comportamento de altos e
baixos, em particular quando mostrou fidelidade indelével à equipe Lotus. Entre
2013 e 2015 o tradicional time inglês vivia uma fase de penúria onde o dinheiro
em caixa era imensamente inferior aos débitos, o que levou o gélido Kimi
Räikkönen a abandonar o barco a duas provas do final da temporada, quando foi
substituído pelo compatriota Heikki Kovalainen. Por seu lado, entre açoitar a
equipe pelos pagamentos atrasados Grosjean optou por encarar a situação calma e
discretamente, mesmo que o sétimo lugar e os 132 pontos que registrou em 2012,
ao lado de Räikkönen, jamais se repetissem.
Ironicamente, foi também em 2012 que Grosjean teve sua
carreira mais ameaçada: sua largada no GP da Bélgica desse
ano parece
ser o episódio mais espetacular da sua biografia na F-1 e como consequência ele
foi suspenso da etapa seguinte, o GP da Itália, em Monza. Na temporada seguinte
o franco-suíço iniciou um amadurecimento que foi se consolidando a ponto de lhe
garantir o convite para ser o líder da equipe Haas, ao lado do novato Estebán
Gutiérrez, em 2016. Coincidência ou não, a condição de primeiro piloto ajudou a
marcar os 29 pontos do time norte-americano em sua temporada de estreia,
incluindo um pódio na mesma Spa-Francorchamps. Tudo parecia caminhar confirmar
que ele havia superado seus piores fantasmas.
A chegada de Kevin Magnussen em 2017, substituindo o
mexicano de resultados fracos e comportamento errático, no entanto, parece ter
diluído em doses homeopáticas a confiança do de Grosjean. Enquanto o arrojado
dinamarquês conquistava seu lugar em meio a manobras discutíveis, ele ficava
famoso por reclamar constantemente dos freios do seu carro; mesmo assim
praticamente repetiu o placar da temporada anterior ao marcar 28 pontos contra
19 do dinamarquês. Em 2018, porém, Romain tem alternado voltas rápidas com acidentes
que denotam erros não esperados de um piloto com sua experiência. O melhor
exemplo é sua relargada no GP do Azerbaijão quando bateu sozinho (veja aos 5’20”deste video) e chegou
a sugerir que teria sido abalroado um concorrente que estava distante dezenas
de metros.
O mesmo Grosjean, porém, fez questão de consolar e apoiar o
mecânico responsável
pela mal sucedida troca de pneus no GP da Austrália, prova de abertura da
temporada e quando ele e Kevin Magnussen tinham grandes chances de marcar bons
pontos. A atitude foi reconhecida mundialmente e certamente influenciou o
italiano Guenther Steiner, chefe da equipe Haas, a sair em defesa do piloto
após os comissários desportivos do GP da Espanha anunciarem a punição de dois
pontos em sua carteira e a perda de três posições no grid de Mônaco.
“Foi a mesma coisa que chutar a cara de que está caído,
de joelhos” comentou Steiner. “Se ele tivesse ficado parado talvez tivesse
acertado uns cinco carros. Ele teve que tomar uma decisão em questão de
milésimos de segundo e escolheu cruzar a pista. Atualmente sua reputação não é
a mais alta por fazer coisas que ele não deveria ter feito e, talvez por isso,
se transforme num alvo fácil”.
Sábias palavras de um executivo que enxerga claramente a
melhor maneira de acalmar a situação, defender os interesses da sua equipe e
contribuir para que Grosjean reencontre o equilíbrio e necessário para
contribuir na extração do grande potencial do carro que a Haas utiliza este
ano. O caminho para isso deve ser longo: Grosjean é um dos dois pilotos que
ainda não marcou pontos este ano, ao lado do russo Sergey Sirotkin, e Kevin
Magnussen já soma 19, tantos quantos marcou em toda temporada de 2017. Se essa
recuperação não acontecer é pouco provável que o franco-suíço continue na F-1
em 2019.
Campeonato:
Hamilton ganha pontos e Ferrari perde o ritmo
A segunda vitória consecutiva de Lewis Hamilton na atual
temporada ampliou ainda mais sua vantagem na liderança do Campeonato Mundial de
Pilotos, onde já soma 95 pontos contra 78 de Sebastian Vettel, quarto colocado
no GP da Espanha.
Ao lado de Hamilton subiram pódio Valtteri Bottas (segundo) e Max Verstappen,
que conquistou seu primeiro pódio da temporada. Apenas 14 carros completaram a
prova, tries deles envolvidos no acidente da primeira volta (Romain Grosjean,
Pierre Gasly e Nico Hulkenberg) e outros três por falhas mecânicas (Kimi
Räikkönen, Estebán Ocón e Stoffel Vandoorne), todos com problemas de motor,
índice bastante alto para os padrões da categoria.
Dois pontos marcaram a competição de Barcelona, onde as
equipes voltam a se apresentar hoje (terça) e amanhã para treinos livres: o
desgaste dos pneus e o ritmo de Daniel Ricciardo na fase final da prova.
Segundo o australiano, que estabeleceu novo recorde oficial para o circuito
catalão (1’18”441) dois problemas afetaram seu resultado final na primeira
corrida do ano em que ele terminou atrás do seu companheiro de equipe, uma rodada durante
uma intervenção de carro de segurança virtual (virtual safety car) e o
comportamento errático do seu carro.
“Eu vivi momentos em que o carro era extremamente rápido,
mas era uma condição muito difícil de manter volta após volta. Temos um bom
potencial, mas ainda difícil de ser convertido em realidade. No fundo foi
uma corrida chata, mas eu vejo o lado positivo disso: Mônaco deverá ser o
circuito mais apropriado para nós nesta fase da temporada”.
Ricciardo, assim como a maioria dos pilotos que
terminaram a prova, andava com seu carro calçado com pneus de composto médio,
os mais duros das três opções disponíveis em Barcelona; as exceções ficaram por
conta de Sérgio Perez (largou com macios, trocou por médios e voltou aos
macios) e Marcus Ericsson (largou com médios e terminou com macios. Tal
situação reflete um conjunto de circunstâncias que permitiu registrar tempos,
em média, quatro segundos mais baixos que no ano passado. A primeira condição é
o novo asfalto do traçado catalão, some-se a isso a chuva que caiu durante a
madrugada de sábado para domingo e o fato que, até agora, as equipes ainda não
conseguiram explorar o melhor dos compostos mais macios.
Isto fica evidente quando se nota que a volta mais rápida
da prova (Ricciardo. 1’18”441) foi obtida com o pneu mais duro e foi dois
segundos melhor que o melhor tempo da prova com pneus macios (Verstappen,
1’20”603) ou super macios (Sirotkin, 1’22”260). Cabe registrar que o holandês
chegou a andar em 1’19”823 com pneus médios, e o russo não fez melhor que
1’23”907 com equipamento igual
Não deixa de ser curioso que os pneus mais duros foram
usados quando os carros estavam com menor carga de combustível e, portanto,
mais leves, o que indicaria os compostos mais macios, e teoricamente mais
aderentes, como a escolha ideal.
Com a confirmação das três equipes de
ponta – Mercedes, Ferrari e Red Bull, nesta ordem – a briga pela liderança
entre o melhor do resto fica cada entre Renault, McLaren e Haas. Dos três a que
tem maior potencial de crescimento é o time francês; a esquadra inglesa parece
viver em águas cada vez mais turvas enquanto a norte-americana vive, até agora,
dos resultados de um único piloto, Kevin Magnussen.
As equipes da categoria voltam a se apresentar em
Barcelona hoje (terça-feira, 15) e amanhã para a realização de testes de pneus
e novos pilotos.
O resultado completo do GP da Espanha você encontra neste link.
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