Wagner Gonzalez |
Perdemos Brian
Hart
Automobilismo
perde o genial e humano Brian Hart, “autoentusiasta” de carteirinha e
verdadeiro hedonista do esporte. Dakar 2014 começa em Rosário, Michael
Schumacher continua em estado de coma em Grenoble.
Brian Hart, 7/9/1936 - 5/1/2014 |
Foto Jordan Grand Prix |
Não foi a melhor
transição de calendário para o automobilismo de competição: na última semana de
dezembro de 2013 o alemão Michael Schumacher sofreu lesões cerebrais em
consequência de acidente enquanto esquiava em Meribel e no primeiro domingo de
2014 o inglês Brian Hart faleceu, aos 77 anos. Personagem dos mais tranquilos
nos paddocks da F-1, com ele desfrutei inúmeras oportunidades de aprendizado,
bom papo e muito vinho, em particular durante a temporada em que ele cuidou dos
motores da equipe Minardi, em 1997.
Apaixonado pelo
automobilismo, Hart aprendeu engenharia durante o período em que trabalhou para
a De Havilland, empresa aeronáutica britânica onde surgiram vários outros nomes
de relevo para o automobilismo mundial, em particular o inglês. Entre eles
Maurice Phillipe (que viria a participar do projeto Copersucar) e Mike Costin,
o “Cos” da empresa Cosworth. Piloto com o pé direito pesado e de capacete
recheado por inteligência e conhecimento mecânico acima da média, o esguio e
calvo Brian se destacou na F-2 dos bons tempos tanto ao volante – venceu em
Nurburgring, em 1969 -, quanto como fabricante de motores. Além de suas versões
para os motores Ford BDA e FVA, ele construiu um modelo sob encomenda para Ted
Toleman, engenho que fez Brian Henton e Derek Warwick dominarem a temporada de
1980. Este resultado impulsionou Toleman – então proprietário da maior
transportadora de carros novos da Inglaterra -, a embarcar num projeto mais
ousado: uma equipe de F-1 mais tarde rebatizada em Benetton, Renault e, mais
recentemente, Lotus.
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Sempre trabalhando
com orçamentos ridiculamente baixos em relação aos seus concorrentes, Hart
construiu um modelo de quatro cilindros que tornou-se famoso na temporada de
1984, quando equipou o Toleman TG 184 (TG de Toleman Group, 1 de F-1 e 84 do
ano em que foi usado), carro com o qual Ayrton Senna estreou na categoria. Tal
qual a aerodinâmica peculiar desenvolvida por Rory Byrne, detalhe
característico de uma época em que os chassis da F-1 tinham personalidade e
traziam conceitos diversos, o motor construído pelo inglês também trazia
soluções ortodoxas, como o cabeçote e o bloco formando uma única peça. A
obstinação de Senna motivou Hart a desenvolver sua máquina de forma mais
acelerada e no meio da temporada o brasileiro estreava uma unidade com bicos
injetores duplos. A colaboração entre ambos resultou em três pódios: o
antológico segundo lugar em Mônaco e dois terceiros, em Brands Hatch e Estoril,
esta última ao lado de Prost e Lauda.
Sempre amistoso
e disponível para ensinar e conversar sobre automobilismo e boa mesa, Brian
Hart deu inúmeras demonstrações de levar a vida ao largo da ganância. Um
exemplo aconteceu à época em que o campeonato de F-1 históricos começava a
ganhar proeminência e os felizardos milionários envolvidos na categoria não
poupavam investimentos. Nessa época fui convidado a colaborar na tradução de um
livro publicado na Espanha e bancado por um mecenas tão apaixonado pelo
automobilismo quanto Hart, Joaquín Folch-Rusiñol.
Durante o
lançamento da obra que conta a história da Penya Rhin – um bar de Barcelona
onde se reunia o mundo do automobilismo catalão -, levei Hart como meu
convidado à festa, que aconteceu na finca de Folch-Rusiñol, nor arredores de
Barcelona. Na garagem estavam algumas peças de respeito no que diz respeito à
F1, entre elas uma Ferrari 312 T, um Lotus 49 e outro 81 e o Williams FW7-C
construído para a final do campeonato mundial de 1981. Homem de posses –
inclui-se aqui uma bodega em Cenicero, região nobre da Rioja espanhola -,
Joaquín de imediato quis encomendar a Hart um motor DFV de curso curto,
coqueluche das equipes pequenas no Mundial de F-1 daquele momento. Nosso
anfitrião já se preparava para puxar o talão de cheques, por assim dizer, e
fechar a compra quando eu e ele ficamos estupefatos pela resposta do
preparador:
“Esquece, não
vai fazer nenhuma diferença trocar esse motor nesses carros...”
Qualquer
vivaldino de plantão teria botado pilha e faturado uns bons trocados com essa
compra por impulso, mas Hart sempre trabalhou com o coração, tanto que o logo
de sua empresa tinha essa “bomba de óleo” estilizada como logotipo. Outra
situação semelhante envolve a origem do carro que Hart usava com mais
frequência, uma BMW cupê azul marinho da série 6. Naquela época eu havia recém
adquirido de um piloto de F1 um sedã bávaro modelo E 34 equipado com motor de
seis cilindros e especificação I Sport, típica do mercado inglês. Conversávamos
sobre o meu novo brinquedo quando descobri que o carro de Hart tinha sido a
retribuição dos engenheiros de Munique pela colaboração em solucionar uma
crônica falha nos pistões usados naquela usina de força que impulsionava o
carro de Nelson Piquet. Diz a lenda – isso Hart jamais confirmou -, que ele
teria proposto forjar duas saliências diametralmente opostas na cabeça dos
pistões como forma de evitar a rachadura que detonava os motores, algo que deu
certo.
Outra ocasião
degustávamos mais uma garrafa de vinho no motor-home da equipe Minardi e a
conversa fluiu para onde iria parar a F1 com o retorno das grandes marcas à
categoria. E novamente a BMW foi usada para ilustrar a relação de poder
econômico entre uma fábrica de automóveis e os abnegados que fazem
automobilismo no mais alto nível permitido pela paixão.
“Wagner,
acredite, os alemães gastam mais em canetas esferográficas durante o ano do que
eu preciso para desenvolver meus motores...”
Sempre disposto
a viver para e do automobilismo ele acabou entrando para um grupo significativo
de pessoas que fizeram maus negócios com Tom Walkinshaw, escocês que disputou a
temporada brasileira de F-Ford em 1970 e que ficou conhecido como Tom Walkinshark por
causa dos seus, ahamm... métodos empresariais. A negociação de veda da empresa
Hart Engines para o então proprietário da Arrows acabou em processo e acabou
levando Brian a mudar-se para da Inglaterra para uma casa de campo na França e
afastar-se do esporte.
Schumacher:
promotoria francesa convoca coletiva
Após os médicos
do Hospital Universitário de Grenoble e a família de Michael Schumacher
anunciarem que novas informações sobre o estado de saúde do heptacampeão
mundial de F1 somente serão reveladas quando houver mudança significativa de
seu estado de saúde a promotoria francesa anunciou uma entrevista coletiva para
amanhã (quarta, 8 de janeiro). No evento previsto para acontecer na cidade de
Albertville o promotor público Patrick Quincy poderá revelar detalhes do
acidente que provocou traumatismo craniano no piloto e cuja recuperação o
mantém em coma induzido há mais de uma semana. Acredita-se que as declarações
de Quincy serão baseados nas imagens capturadas em uma camera de vídeo
instalada no capacete de Schumacher e investigações realizadas junto a
esquiadores que estavam na área do acidente, ocorrido dia 28 de dezembro na
estação de esqui de Meribel.
Brasileiros no Dakar
Duas duplas na
categoria automóveis – Guiga Spinelli/Youssef Haddad e Reinaldo Varela/Gustavo
Gugelmin – e dois pilotos na categoria motos – Jean Azevedo e Dario de Souza -,
representam o brasil na edição deste ano do Rally Dakar, que começou domingo em
Rosário (Argentina) e passará pela Bolívia antes de terminar no Chile no dia
18. Na etapa de ontem Varela e Gugelmin destacaram-se com um resultado entre os
10 primeiros, e que os colocou provisoriamente em oitavo lugar na classificação
geral. Spinelli e Haddad estavam em 17* enquanto Azevedo e Souza ficaram em 24*
e 28* após duas etapas, respectivamente, Os líderes nessas categorias são os
franceses Stephane Peterhansel e Jean-Paul Cotret e o espanhol Joan
Barrada Bort.
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