Buracos e mais buracos. Essa parece ser a
sina a evitar do brasileiro motorizado tal o número e variedade de obstáculos a
superar dia após dia. Os gastos extras e mesmo prejuízos altos são fáceis de contabilizar,
sem contar os ônus indiretos de reforços estruturais e de suspensões dos
automóveis aqui produzidos. Pior é a profusão de vales (buracos, depressões) e picos
(lombadas, tachões).
Para resistir a essa verdadeira prova de
obstáculos, projeto e produção de veículos ficam mais caros. Há acréscimo de
peso e menor eficiência energética. Frear e acelerar para conviver com a
buraqueira gasta combustível, além de gerar poluição adicional. A distância
livre do solo precisa ser aumentada, muda a área frontal, a aerodinâmica piora
e a conta pesa no bolso.
Chuvas fortes, em razão de infiltração de
água na pavimentação, podem de fato fazer surgir novas depressões no solo ou
buracos se transformarem em crateras urbanas e rodoviárias. Tem a ver ainda com
a qualidade da infraestrutura de preparação do solo e erros na execução dos
serviços.
Algumas situações, porém, são inaceitáveis.
Inaugurar asfaltamento novo e deixar bueiros ou tampas desniveladas geram sentimento
de revolta. O jogo de empurra torna-se frequente entre quem fiscaliza a obra,
os que a executam e os responsáveis pelo renivelamento. Ideal seria o uso, na
grande maioria dos recapeamentos, de máquinas fresadoras. Elas raspam o
pavimento e permitem reciclar o asfalto velho.
Como se enfrentam situações semelhantes no
exterior? Invernos são rigorosos nos países do Hemisfério Norte. Há infiltração
de umidade no pavimento, quando se joga sal para derreter as camadas espessas
de neve. No verão, chuvas fortes. Então, buracos também causam dificuldades por
lá. A (enorme) diferença é que as autoridades se preocupam bastante.
O Departamento de Transportes (DT) da
Inglaterra, equivalente ao nosso ministério, planejou ações práticas. Procurou
o Clube de Turismo de Ciclistas, quando soube que tinham desenvolvido um aplicativo
para telefones inteligentes capaz de relatar a existência de buracos na pista. Bicicletas
são ainda mais vulneráveis porque facilmente se desequilibram em superfícies
irregulares. O ciclista corre grandes riscos de sofrer lesões sérias ao cair ou
de morte, se for atropelado.
Celulares modernos com GPS permitem
identificar a localização exata dos buracos e reportar diretamente aos
conselhos municipais (prefeituras, no nosso caso). Com uma verba de 30.000
libras (R$ 127.000), o DT conseguiu expandir de 9 milhões para 26 milhões o
número de telefones aptos a instalar o aplicativo, pois pôde acrescentar o
sistema operacional Android.
Agora, não apenas ciclistas reportam situações
de perigo. Motoristas se sentem estimulados em colaborar a fim de evitar danos
potenciais aos veículos. Administradores das vias também se beneficiam ao saber
com presteza informações que muitas vezes demoravam a chegar. Quanto menor a
extensão dos estragos na pista, mais barato fica o conserto e, claro, poupa o
dinheiro dos contribuintes. E lá o poder público indeniza de verdade pelos
prejuízos.
Essa fórmula poderia ser útil também no
Brasil. Programadores criativos de aplicativos de celulares existem. Resta
saber se os administradores querem fazer parte da solução ou continuarão como fonte
dos problemas.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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