Alta Roda nº788/138 – 12/06/2014 |
Fernando Calmon |
Se existe um programa governamental que deu certo, com (quase)
unanimidade do ponto de vista técnico, é o Programa Brasileiro de Etiquetagem
Veicular (PBEV). Embora estudos tenham se iniciado bem antes, o programa coordenado
pelo Inmetro estreou em 2009 com apenas cinco marcas: Chevrolet, Fiat, Honda,
Kia e Volkswagen. No ano passado, como reflexo das exigências do regime
Inovar-Auto, 35 marcas haviam aderido, inclusive importadas sem plano de
produção local.
Única “desistente”, por enquanto, é a Chevrolet, mas até
2017 todas as marcas participarão inclusive por razão de sanções financeiras
previstas no regime. A meta compulsória, em relação a 2012, é melhorar a
eficiência energética em 12%, o que significa, na prática, diminuição de
consumo em 13,6%, sempre considerada a média dos modelos à venda de cada
fabricante. Há dois objetivos voluntárias: redução de 18,2% e 23,1%. Nestes
casos, a empresa receberá um bônus de 1% e 2% do IPI, respectivamente, apenas entre
2017 e 2020.
Acredita-se que a maioria das fábricas tentará atingir
pelo menos o primeiro nível do desafio adicional, o que inclui custos de
difícil repasse ao preço final de venda. Indicativo disso foram “escaramuças”
iniciadas com o Renault Clio, em 2012. Em seguida, o VW up!, com seu motor de 3
cilindros, passou à frente nas configurações que incluem ar-condicionado e
direção eletroassistida.
Semana passada, antes mesmo do início de vendas do Ka
previsto para agosto próximo, a Ford anunciou que o seu compacto, também
tricilíndrico, alcançou a melhor média absoluta até agora: 8,9 km/l, etanol e
13 km/l, gasolina na cidade, e de 10,4 km/l, etanol e 15,1 km/l, gasolina na
estrada. Sua eficiência energética é de 1,56 MJ (megajoule)/km, o que leva em
conta as diferenças químicas entre etanol e gasolina. Deve-se ressaltar que os
números incluem ar-condicionado e direção de assistência elétrica.
Em programas desse alcance pode existir alguma
controvérsia, no caso, o enquadramento pelo porte dos veículos. Optou-se pela
área projetada no solo (largura x comprimento) e a massa. Criaram-se, assim, cinco
categorias para modelos de passageiros e sete categorias especiais, de
esportivo a minivan. Quanto ao ar-condicionado, não é ligado durante os testes
em dinamômetro, mas a sua influência é computada previamente por uma penalidade
fixa. Provavelmente, o Inmetro incluirá, depois de 2017, o equipamento em
funcionamento para estimular sistemas eficientes como compressor de geometria
variável.
O instituto não mudou – e nem poderia, no momento – o ciclo
de medição, como aconteceu na Europa, para considerar a função desliga-liga motor,
que em cidade melhora o consumo, em especial nos congestionamentos. Veículos
híbridos são os que mais se beneficiam por ciclos sem ajustes. Europa está
atrasada quanto à correção de resultados para o “mundo real”, o que Brasil e
EUA já fazem.
O PBEV inclui ainda dados de emissões de gases reguladas
e de efeito estufa (CO2 fóssil). Hoje 36% dos modelos participantes
precisam vir de fábrica com a etiqueta nos carros em exposição nas lojas. Mas
até 2017, aos poucos, todos os veículos de todas as marcas terão de afixá-las. Compradores
poderão assim valorizar veículos mais eficientes.
RODA VIVA
PERMANECEM dúvidas
sobre nível de queda nas vendas e produção este ano. Nos cinco primeiros meses,
em relação a 2013, tombo foi de 5,5% e de 13,3%, respectivamente. Por efeito
estatístico (primeiro semestre do ano passado melhor que o segundo), é provável
2014 fechar entre -5% e -1% de crescimento. Depende se o IPI subir parcialmente
(mais 2 p.p.) ou nem subir em 1º de julho.
ESTOQUES totais
estabilizados em preocupantes 41 dias não ajudam a manter o nível de emprego,
mesmo que exportações para Argentina reajam. Para os quatro fabricantes de
maior tradição (Fiat, Ford, GM e VW) a vida continua difícil. Juntos conseguiram
64,4% de participação de janeiro a maio, pela primeira vez abaixo de 65%.
MINI mudou,
sem mudar. Sem desmerecer o espírito do modelo original de 1959, o carro ficou
um pouco maior que a geração anterior, por dentro e por fora, e ainda cinco kg
mais leve. Já painel e quadro de instrumentos estão bem diferentes, para
melhor. Surpreende o novo motor 3-cilindros, 1,5 L, de 136 cv. Preços chegam a R$
124.950 (básico na faixa de R$ 85 mil).
AGORA apenas
na versão Griffe, Peugeot 3008 agrada pelo desempenho e ao mesmo tempo
suavidade ao volante. Combinação de motor 1,6 L Turbo/165 cv e câmbio automático
de seis marchas é adequada para a proposta de um modelo espaçoso e formato de
carroceria que o diferencia de um simples SUV. Porta-malas de 512 L equivale a
de um sedã compacto.
CIVIC recebeu
retoques bem sutis para marcar o ano-modelo 2015 e só na versão intermediária
LXR. Nova grade, por exemplo, pode-se colocar sem dificuldade no modelo 2014.
Agora com rodas de liga leve de 17 pol., dirigibilidade melhorou, de forma
também discreta. Preço subiu em torno de R$ 500,00, abaixo do que valem as
mudanças.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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