Alta Roda nº 863/213– 19 /11 /2015
Fernando Calmon |
Muito
se comenta sobre sistemas de direção autônomos ou semiautônomos para
revolucionar a maneira de guiar. Além de aumentar a segurança ativa/preditiva,
aliviar o estresse no trânsito congestionado ou em monótonas viagens, o
motorista poderá assumir o comando quando lhe for prazeroso. Essas tecnologias
passarão por complexas regulamentações técnicas, legislativas e jurídicas,
ainda em estudos profundos. Os grandes fabricantes mundiais de veículos
trabalham com fervor nesse objetivo e estão numa verdadeira corrida
tecnológica. Ninguém quer ficar para trás, mesmo sem enxergar bem o que está na
linha de chegada.
Nada impede, porém, que empresas como Google e Apple de investir pesadamente no
desenvolvimento de automóveis autônomos. Ainda são nebulosos os planos desses
gigantes da teleinformática. A Apple nem ao menos deixa escapar o que realmente
prepara nesse campo. Google tem até um protótipo de um microcarro próprio em
testes nas ruas da Califórnia. Entretanto, no recente Salão do Automóvel de
Frankfurt, a empresa afirmou pela primeira vez não pretender construir ou
administrar uma fábrica de automóveis, o que causou surpresa.
Fornecedores da indústria de autopeças desenvolvem grandes projetos em conjunto
com fabricantes de veículos e criam vínculos difíceis de desfazer em favor de
empresas de outros setores. Isso não significa situação imutável. Um exemplo é
a Tesla, fabricante independente americano de sedãs elétricos, que partiu do zero
e tentará voos mais altos.
Já os fornecedores de autopeças poderiam se juntar para desenvolver e fabricar
um carro, porém nada indica que o farão. Mas é possível projetar um automóvel
de demonstração, como fez a ZF com o seu Veículo Urbano Avançado (VUA),
apresentado um mês antes do Salão de Frankfurt. Trata-se de um subcompacto, sem
arroubos de estilo, apenas para reafirmar sua capacitação tecnológica ampliada
após adquirir a americana TRW.
A ZF produziu o VUA elétrico em suas próprias instalações, focado em
maneabilidade urbana e assistência semiautônoma para melhorar conforto,
conveniência, segurança e eficiência também em estradas. Um dos destaques é o
volante de direção multifuncional capaz de detectar as mãos do motorista (e
assumir parte dos comandos), que inclui um mostrador OLED embutido no aro. Pode
procurar uma vaga e estacionar comandado a distância por meio de telefone ou
relógio de pulso inteligentes. O motorista não precisa estar a bordo e abrir
uma porta, possibilitando criação de vagas perpendiculares mais estreitas para
otimizar o espaço urbano e permitir garagens menores.
Além de inovações eletrônicas, chamam particular atenção as soluções mecânicas.
A começar pelo eixo de torção traseiro que inclui dois motores elétricos de 54
cv, um para cada roda. Mais interessante ainda, as rodas dianteiras podem
esterçar até 75 graus, algo inédito. Assim, precisa de uma vaga apenas 60 cm
maior do que seu comprimento (em torno de 3 metros), o que também ajudará no
planejamento das cidades. Diâmetro de giro de apenas sete metros, um terço a
menos que qualquer subcompacto moderno, permite retorno em manobra única em
pistas de largura padrão.
RODA VIVA
MOTORES de três cilindros continuam na ordem do dia. O da
Fiat, previsto para estrear no novo subcompacto no início de 2016, foi adiado
para o final do próximo ano (apenas o motor, claro). Esse bloco dará origem a
um novo quatro-cilindros, de 1,4 L, substituto do atual Fire. E Hyundai também
terá um turbo de 1 L no HB20, como up! TSI e futuro Honda Fit.
PREÇOS dos veículos se mantêm em alta (como previu esta
coluna) não só pela inflação, mas porque a desvalorização do real tem impacto
sobre componentes importados. Isso afeta de forma diferenciada cada modelo,
inclusive os que vêm da Argentina. Mas a principal causa é a queda de escala de
produção: 21% sobre 2014. Sobre isso não há o que fazer.
HYUNDAI HB20 2016, que já tinha ótimo motor de 1,6 L, pode
aproveitá-lo melhor com o novo câmbio automático de seis marchas. Trocas são
suaves e relativamente rápidas, considerando limitações de preço de um
compacto. Novos amortecedores (agora sem ruídos de fim de curso), retoques de
estilo e equipamentos adicionais o tornam ainda mais competitivo.
FILIAL brasileira da Porsche, recém-aberta, será mais assertiva
ao nomear novas concessionárias. Hoje, todas as existentes, têm ligação direta
ou indireta com o antigo importador oficial, a Stuttgart Sportcar. Estratégia
faz parte do crescimento da marca no País com potencial de retomar do México o
posto de mercado número uma da América Latina.
NOVA embreagem automática de acionamento eletrônico da
Bosch, incorporada à função roda-livre, está em testes no Brasil. Certamente há
algum fabricante interessado, embora a empresa trabalhe em testes, no momento,
por si só. Mais barato do que um câmbio automático, pode eliminar os incômodos
do terceiro pedal e potencializa diminuir consumo de combustível em até, nada
desprezíveis, 5%.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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