Alta Roda nº 864/214– 26 /11 /2015
A 2ª Conferência
Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, realizada semana passada em
Brasília, foi meritória por reunir experiências nesse tema tão complicado ao
redor do mundo. Acima de tudo, ficaram registradas assimetrias por todos os
lados dadas as diferenças culturais, de mentalidade e de desenvolvimento
econômico entre os países.
O documento final, denominado de Projeto de Declaração de Brasília, é muito
longo e burocrático. Só a introdução inclui 31 tópicos, seguidos por mais 30
itens de ações recomendadas para “fortalecer o gerenciamento de segurança no
trânsito e aprimorar a legislação e a fiscalização”. Além do conteúdo
repetitivo, algumas organizações internacionais, na ânsia de se destacar,
forçaram sugestões difíceis de aceitar dentro do bom senso. Optaram por pecar
pelo excesso e pintam um quadro ainda mais sinistro.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas morrem em acidentes terrestres.
Estatísticas são, de fato, precárias entre outras razões por exigir dinheiro e
coordenação, raros em países pobres e até emergentes. O número em voga chega a
1,25 milhão de mortes/ano, porém o mundo tem 7 bilhões de pedestres permanentes
ou eventuais, 1,2 bilhão de veículos motorizados de quatro ou mais rodas e bem
além disso entre motocicletas e bicicletas. As distâncias percorridas são descomunais,
mas quem leva em conta? Nos países desenvolvidos e de média força econômica os
mortos registrados representam cerca de 120.000/ano (10% do total).
O governo brasileiro anunciou, finalmente, sua adesão “em pouco tempo” ao
protocolo WP.29, o Fórum Mundial para a Harmonização dos Regulamentos
Veiculares, da ONU. Desde 1952 há tentativas, com maior ou menor sucesso, de
coordenar os esforços de vários países em melhorar segurança veicular,
emissões, eficiência energética e até dispositivos antifurto. O desastrado
projeto de rastreadores no Brasil teria sido evitado sob o WP.29, fora outros
desmandos.
No entanto, a obrigatoriedade do sistema eletrônico de estabilidade (ESC, sigla
em inglês) ainda está em “fase final de discussão”, segundo o ministério das
Cidades. Previsão de anúncio para todos os automóveis é o final deste ano, com
prazo até 2020. Perdeu-se, assim, a oportunidade de algum protagonismo do Brasil
na conferência, pois dificilmente cumprirá a meta de redução pela metade do
número de mortes, depois de o País ter aderido à Década de Ação pela Segurança
no Trânsito 2011-2020, outra campanha da ONU. O ministério também acenou que
iniciará, “em breve”, estudos para implantar algum sistema de frenagem
autônoma.
A organização Global NCAP lançou a iniciativa de âmbito mundial Stop the crash
(em tradução livre, Basta de acidentes). Além do ESC e do ABS para motos,
preconiza três níveis de frenagem emergencial a fim de evitar colisões em
cidade e estrada, além de atropelamento em baixa velocidade (o mais comum).
Cada acionamento automático de freio tem custo diferente, mas o conjunto deles
ficaria mais barato de implantar, se houvesse adoção simultânea em muitos
países. Também sugeriu sistema de monitoração da pressão de pneus, defendido
por essa coluna por sua atraente relação custo-benefício.
RODA VIVA
APESAR de manter o nome Captur, o crossover médio-compacto que
a Renault produzirá na fábrica paranaense nada tem a ver com o produto
original, concorrente do Peugeot 2008, à exceção de sutis traços de estilo.
Estrutura é o da família Logan/Sandero/Duster/Oroch e as dimen sões internas
permitem até sete pessoas. Lançamento previsto para daqui a um ano.
NOVEMBRO marca os 40 anos de criação do Proálcool,
o pioneiro programa de combustível renovável que ajudou o País a atravessar o
segundo e mais grave choque do petróleo nos anos 1980. Atualmente os EUA
produzem mais etanol que o Brasil, mas no uso em motores flex continuamos bem à
frente. Essa tecnologia é oferecida por 19 marcas e cobre 90% do mercado.
NADA como a boa concorrência. EcoSport com motor
de 1,6 litro mais potente (131 cv) e câmbio automatizado de duas embreagens, a
preço competitivo na faixa do HR-V e do Renegade, pode ganhar fôlego até chegar
a reestilização em 2016. Câmbio de seis marchas em algumas situações fica mais
lento nas trocas, mas no geral o nível de conforto oferecido é bom.
MECANISMO fiscal de substituição tributária do ICMS
(uma aberração brasileira) até funciona em tempos de vendas boas para evitar
sonegação. Mas, em situações extremamente difíceis como a atual, é um fator que
segura descontos legítimos de preços. Afinal, não dá para recolher impostos
sobre uma base alta fictícia imposta pelos Estados. Todos saem perdendo.
MODISMO de estepe externo pendurado na tampa de
modelos aventureiros e pseudoaventureiros está em paulatino recuo. Além do
custo maior, estética discutível e eventuais danos a outros carros em manobras
de estacionamento há ainda o peso extra de reforços estruturais e aerodinâmica
prejudicada. Em tempos de economia de combustível é tudo o que não se quer.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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