Alta Roda nº 878/228– 03 /03 /2016
Fernando Calmon |
A
eterna rivalidade entre otimistas e pessimistas sobre o que ocorrerá este ano
com o mercado interno de veículos atingiu seu ápice nas últimas semanas. Stefan
Ketter, presidente da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) para a América Latina e
principal executivo do grupo no Brasil, primeiro a se manifestar a uma pergunta
direta deste colunista, não fez previsões diferentes da Anfavea, que ainda
acredita em um segundo semestre de reação e um resultado final de menos 7,5%
(2016 x 2015) ou algo em torno de 2,38 milhões de veículos leves e pesados.
Ele acrescentou: "O brasileiro é extremamente crítico quando fala de si, o
que não faz sentido. É preciso acreditar mais no seu talento, acreditar mais em
nosso povo.” Uma posição surpreendente talvez porque a Fiat, líder de mercado,
tenha dois produtos novos este ano (picape Toro já lançada e subcompacto Mobi
no próximo mês). A outra marca da FCA, Jeep, também vai bem com uma fábrica
inteiramente nova em Pernambuco.
Quatro dias depois, Dan Ammann, presidente mundial da GM, veio ao Brasil e manifestou
enorme preocupação com os rumos da economia e política brasileiras. “Teremos
que reavaliar os investimentos de R$ 6,5 bilhões no Brasil se a situação não se
alterar até meados de 2017”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Acrescentou
que o País não é competitivo de modo geral, inclusive para exportar automóveis,
nem que o dólar suba para R$ 4,50. Ele prevê que este ano se vendam no máximo 2
milhões de unidades, um recuo expressivo de 22% que, juntando-se aos 27% de
2015 ante 2014, chega a 55%.
O presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels, dois dias depois da Ammann,
reconheceu plenamente as dificuldades da indústria automobilística, mas não
falou em diminuição de investimentos e adiamento de planos. Centrou-se na
marca, que sofre desgaste de imagem com os problemas dos motores diesel, e
preferiu falar sobre os esforços para aumentar produtividade e qualidade nas
suas quatro fábricas com muito treinamento. “Continuaremos a incrementar nossas
exportações”, acrescentou.
Passaram-se mais quatro dias e o presidente da JAC Motors, Sérgio Habib,
considerado mestre das estatísticas, comparou o que acontece hoje no Brasil com
outros países que tiveram quedas bastante expressivas nos anos recentes:
Estados Unidos, Espanha, Itália e Portugal. “Nada indica que somos diferentes
dos outros. Este ano teremos nova queda superior a 20% e será difícil chegar a
dois milhões de veículos vendidos (incluídos os pesados). Regredimos para o ano
de 2006.” Quanto ao futuro, foi ainda mais ácido: só entre 2022 e 2023
voltaremos ao patamar já atingido em 2013.
O balanço entre as afirmações de quatro executivos tende nitidamente para um
tempo de suor e lágrimas. Desemprego em alta, inflação fora da meta e
desajustes fiscais de fato desanimam. William Ward, teólogo católico inglês
(1812-1882), cunhou a frase: “O pessimista se queixa do vento, o otimista
espera que ele mude e o realista ajusta as velas.” O grande problema do Brasil
é saber como e quem vai ajustar as velas. Se os políticos deixarem.
RODA VIVA
Entre os quatro produtos de uma nova arquitetura de
compactos até 2018, tudo indica a transformação do Fox num crossover para
atender o mercado de SUVs compactos em que a VW está ausente (CrossFox é
paliativo). Mudanças devem ser mais profundas que no Honda WR-V, na realidade
uma evolução no Fit Twist com a tradicional criatividade brasileira.
JAC T5 é um SUV compacto que demonstra a evolução
chinesa principalmente em relação ao estilo em parceria com casas italianas de
desenho. Interior muito espaçoso, boa posição ao volante e porta-malas grande
(600 litros, mas aqui há exagero no método de medição). Suspensão passa
sensação de firmeza e segurança, apesar da altura típica desses modelos.
MOTOR de 1,5 L/127 cv (etanol) do T5 junta-se a câmbio
manual de seis marchas para reduzir consumo (automático CVT disponível em
agosto). Lista de equipamentos do T5 é generosa. Sistema multimídia com tela de
8 pol. (só encontrável em veículos de maior porte) permite espelhar telefones
Android e aplicativo Waze. Preços são bem competitivos: R$ 59.990 a R$ 68.990.
SEGUNDO o Centro de Experimentação e Segurança Viária
(Cesvi Brasil), a chave de ignição presencial, entre outras vantagens práticas
como acionar o veículo sem necessidade de inserir a chave no painel ou coluna
de direção, tem características adicionais interessantes. Ela dificulta a
localização de antenas de curto alcance e equipamentos usados em furtos de
automóveis.
SITE especializado em cotações de preços de seguros
para automóveis – www.comparaonline.com.br/seguroauto – é boa ferramenta para
quem quer economizar. Não inclui a totalidade das seguradoras, mas permite
pesquisas abrangentes, em especial pelo valor da franquia, coberturas,
benefícios e formas de pagamento. Tudo grátis. Pede, porém, dados pessoais.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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