Alta Roda nº 719/79 – 07/02/2013 |
Fernando Calmon |
Depois de algumas mudanças, a lei realmente seca para
dirigir foi regulamentada pela resolução nº432, do Contran,semana passada. Este
será o primeiro Carnaval em que estreia a tolerância zero para qualquer traço
de bebida alcoólica em exame de sangue ou de 0,05 mg de álcool por litro de ar
de ar expelido captado por etilômetro (bafômetro). O segundo limite apenas
corrige um possível erro de leitura do instrumento.
Antes dessa regulamentação era possível ao motorista tomar um copo de cerveja
ou uma taça de vinho – até o dobro disso se esperasse pelo menos duas horas
para que o organismo eliminasse 50% do excesso. A polêmica em torno da recusa
de se submeter ao bafômetro, alegando direitos constitucionais de evitar prova
contra si mesmo, levou ao endurecimento da lei. O Contran também reiterou, de
resolução anterior, os sinais de alteração de sobriedade e outras provas:
testemunhais, fotos e imagens.
Ainda se discute se o limite anterior – 0,3 mg/l – deveria ter sido reduzido
pela metade para se enquadrar como crime de trânsito. Na maioria dos países
europeus o limite é de 0,25 mg/l (em alguns 0,1 mg/l ou até zero), nos EUA 0,4
mg/l (em alguns estados americanos também se consideram outras evidências a
partir de 0,25 g/l). No Japão, a legislação mudou e foi zerado. Quem se recusa,
no exterior, a soprar o bafômetro não tem escapatória constitucional, mas nunca
aparece quem aponte a realidade mundial. Aqui nem há certeza de como agirão os
tribunais, apesar da nova lei e sua regulamentação.
Um erro comum é achar que alguém está obrigatoriamente bêbado, quando superasse
o antigo limite de 0,3 mg/l. Depende de cada organismo, se homem ou mulher,
condições de saúde, além de outras condicionantes. Ele ou ela poderá até
dirigir devagar e em linha reta, sem cometer erros, mas será pesadamente
multado, terá a carteira de habilitação suspensa, impedido de prosseguir ou
preso em flagrante, de acordo com a legislação de cada país, se ultrapassar a
indicação legal no bafômetro.
Estudo da Universidade de Yale, de 1992, indica que há nove vezes mais chance
de acidente fatal se o motorista tiver concentrações entre 0,25 mg/l e 0,45
mg/l. Entretanto, existe no Brasil a cultura de certa permissividade quanto ao
fato de beber e, em seguida, assumir o volante. E há também o péssimo hábito da
dose de “saideira”, quando muitos já atingiram o perigoso estágio de alegria
fácil e o bom senso indicaria esquecer o banco do motorista.
Fiscalização, praticamente, não existia no Brasil até 2008, quando o Congresso
aprovou a chamada lei seca que, na realidade, nem era, pois até 0,1 mg/l
indicado no bafômetro nada acontecia. Hoje, em várias cidades, a fiscalização é
constante, rigorosa e alguns motoristas são presos. Mas quantos foram
condenados, de fato? Se alguns tivessem ido para a cadeia por ultrapassar o
antigo limite de 0,3 mg/l, o efeito de inibição seria, provavelmente,
equivalente ao de 100 blitze.
Resta saber por quanto tempo o rigor das fiscalizações será mantido. Mas se
ajudar a mudar a consciência coletiva, terá sido um grande passo em prol da
segurança do trânsito.
RODA
VIVA
AINDA não se estabeleceu uma data para a BMW
promover cerimônia da pedra fundamental de sua fábrica em Araquari (SC).
Cronograma de início de vendas permanece para o final de 2014: primeiro produto
é o crossover X1, seguido, a cada dois meses, pelo hatch Série 1 e sedã Série
3. Os três modelos respondem por mais de 80% das vendas da marca aqui.
PEUGEOT considera
o novo 208 como produto da virada no Brasil, a partir de abril. Presidente
mundial do grupo francês, Philippe Varin, e Thierry Peugeot, da família
controladora, estiveram em Porto Real (RJ) para lançamento industrial do hatch.
SUV compacto 2008 é para 2014, mas a empresa descarta produção do sedã 301,
apesar da base comum com o 208.
MOTOR flex 2 litros/155 cv dará impulso ao Civic
ano-modelo 2014, já neste mês. Com etanol não há mais injeção de gasolina na
partida em dias frios . Mostra disposição e harmonia com câmbio automático de
cinco marchas. Preço de R$ 83.890 poderia incluir acessórios como retrovisor
fotocrômico. Motor 1,8 litro ganhou vida graças ao novo câmbio manual de seis
marchas.
INSPEÇÃO ambiental na cidade de São Paulo tem
absurdos burocráticos: a cada ano, carros com motores dois-tempos devem pedir
dispensa e quem precisar trocar o para-brisa vai penar para obter segunda via
do selo anual. Novo Secretário do Verde e Meio Ambiente extrapolou ao comparar
vidas salvas pelos cintos de segurança e pela melhoria do ar.
PARA defender
seu negócio de venda de carros usados, Associação Brasileira de Locadoras de
Automóveis (ABLA) criticou a redução do IPI no ano passado, que desvalorizou
sua frota. Só faltava essa. Empregos salvos na indústria não parecem ter a
menor importância para a entidade. Que, aliás, compra carros novos com
descontos mais que generosos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do
twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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