Em momentos de grande dificuldade no mercado é natural que se procurem novas formas de estimular as vendas, principalmente as financiadas. Além do Crédito Direto ao Consumidor e dos consórcios, o leasing é outro instrumento, mas sua participação é quase simbólica no Brasil. Estima-se que ocupe menos de 5% do total de financiamentos de veículos leves.
No exterior, em especial nos EUA, o leasing na modalidade
operacional – que funciona de modo semelhante a um aluguel de longo prazo – tem
participação bem maior. Ultimamente vem ocorrendo forte migração dos
financiamentos comuns para o leasing por parte de compradores mais jovens. Essa
nova geração, nascida na era do “débito direto” na conta bancária, no cartão,
em computadores, tabletes e até telefones, prefere e já se acostumou ao
pagamento mensal por uso do bem, sem ter sua efetiva propriedade.
Entretanto, quando os veículos de direção autônoma
começarem a chegar no final desta década é muito provável que acelerem a
tendência de maior participação do leasing nas vendas totais. Em mercados
maduros os motoristas poderão dar preferência a pagar um aluguel ou optar pela
utilização compartilhada de um veículo específico e até de uma frota pública,
como já ocorre em algumas cidades europeias. O pagamento seria pelo tempo de
uso ou quilometragem percorrida.
Alguns especialistas acreditam que os próprios
fabricantes de veículos prefeririam reter a propriedade do veículo por toda sua
vida útil e alugá-los individualmente para pessoas ou grupo de pessoas em áreas
urbanas. Automóveis autônomos representam tecnologias relativamente novas e em
diferentes estágios de evolução que os deixariam obsoletos em curto e médio
prazo.
O grande ponto de interrogação é se esses veículos se
tornarão disponíveis para o mercado de usados em seu sentido amplo, dos
particulares aos lojistas. A fábrica talvez simplesmente opte por ir até o
processo final de desmontagem, reciclagem ou sucateamento. O longo processo de
desenvolvimento é um complicador para se estabelecer um cenário previsível
desde agora.
Ainda existem incertezas sobre se os motoristas vão se
entusiasmar mesmo por carros em que o verdadeiro “piloto automático” os
conduziria ao destino final. Há sinais de uma parcela de clientes bem
interessados nos países centrais. Recentemente, o diretor do Google responsável
pelo programa de veículos autônomos afirmou que seu filho de 11 anos não terá
necessidade de treinar e obter uma carteira de motorista obrigatoriamente,
quando atingir a idade permitida para tal (em alguns países, 16 anos).
Otimismo exagerado à parte, já se sabe que de cara o alto
preço será um sério limitador à escalada dos carros que se autodirigem. Eles
não aumentarão sua presença da noite para o dia em ruas e estradas. O processo
consumiria bastante tempo – sem contar implicações legais e mudanças na
legislação de trânsito – e sempre existirão motoristas que vão querer manter
seu automóvel sob seu próprio controle.
Afinal, mal entramos nesse mundo turbulento de novidades
e valorização da segurança preditiva. Mas que o leasing tem grande potencial de
facilitar o processo há poucas dúvidas.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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