Alta Roda nº814/164 – 11/12/2014
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Fernando Calmon |
A
primeira refinaria do País que terá 75% de sua produção direcionada ao diesel
começa agora a processar cargas (trens, no jargão próprio) de petróleo.
Localizada em Ipojuca, Pernambuco, continua envolvida na confusão atual da
Petrobrás e em um inexplicável aumento de custos – cerca de 10 vezes – que
envergonha os brasileiros. Exige um tempo até alcançar os 200 mil barris
diários de diesel, que podem diminuir, mas não eliminar de todo a dependência
de importação desse derivado. Há duas novas refinarias projetadas, sem data nem
de início das obras.
Esse acontecimento traz à discussão o momento de liberar o uso de diesel em
automóveis no Brasil. Existe até lobby de produtores de autopeças em esforço de
convencimento, porém curiosamente nenhuma fábrica de veículos. Mais curioso
ainda foi a decisão do governo francês, anunciada semana passada, de
desestimular veículos de passeio a diesel. Na França 70% das vendas de modelos
novos das marcas locais, Citroën, Peugeot e Renault, se concentram em motores
diesel. Será estreitada a diferença de preço para a gasolina e tomadas as
providências para diminuir a frota que usa o mesmo combustível de caminhões,
ônibus, trens e outros veículos e máquinas comerciais.
Note-se que o governo tem 15% das ações da Renault e 14% da PSA Peugeot
Citroën. Ambas se queixaram de perda de competitividade, maior dificuldade em
atender as emissões de CO2 (gás carbônico), mas nada se reverteu. No entanto,
utilização de turbocompressor em motores a gasolina de menor cilindrada
(chamado de downsizing) vem tirando a desvantagem de consumo e de nível de
torque frente aos a diesel. Mesmo na França é preciso rodar 20.000 km por ano
para valer a pena porque um automóvel a diesel tem custos (e preços) até 10%
superiores. Com essa rentabilidade camarada é fácil compreender a existência de
lobbies, mesmo que desbalanceie a estrutura de refino de combustíveis.
Nos EUA, o governo também “atrapalha” a dieselização de veículos leves e
autorizou apenas gasolina no programa de forte redução de consumo (e também de
CO2) até 2022. Como sobra diesel no país exportam para a Europa que, há
décadas, investiu nesse combustível para se defender dos carros japoneses a
gasolina.
Quanto ao Brasil, existe o etanol nessa equação, alternativa capaz de reduzir
em 80% as emissões de CO2 no ciclo fechado da produção ao consumo. Se liberado
diesel indiscriminadamente para automóveis, emissões de gás carbônico
aumentarão, autossuficiência em diesel ficará difícil de alcançar e tornará
ainda menos rentável produzir etanol – cerca de 50 usinas já fecharam.
Ao contrário do que se pensa, há poucos estímulos no Brasil para etanol. Cide,
por exemplo, incide apenas sobre gasolina, mas foi zerada para “combater a
inflação”. Propulsor de 1 litro responde por quase metade das vendas e tem a
mesma alíquota de IPI para flex ou gasolina. IPVA, idem, para gasolina ou flex,
enquanto motor só a etanol tem alíquota apenas 1% menor.
Colocar o diesel com Arla 32, contaminável por água depois de 30 dias
armazenado e biodiesel de várias fontes como quarto combustível (somado o GNV),
precisa ser muito bem pensado e pesado.
RODA VIVA
CASO as vendas em 2014 caiam um pouco menos de 10%
frente a 2013 já será um pequeno alívio. Ao longo deste ano atípico se temeu
queda ainda maior. Estoques voltaram a subir de 40 para 42 dias entre outubro e
novembro. Este mês se espera pequena reação pela maior oferta de crédito e
compras antecipadas para fugir do aumento do IPI em janeiro próximo.
FORD antecipou, sem pormenores, que terá oito
novidades em 2015, sendo duas em caminhões leves. Já se tem como certo
reestilizações de Focus (hatch e sedã), Ranger (cabines simples e dupla), nova
geração do crossover Edge (estreia em janeiro no Salão de Detroit) e, a
concluir o processo de homologação, o Mustang.
ARGENTINO Citroën C4 Lounge 2015 tem versões
intermediárias e de topo com primeiro motor turboflex, 1,6 L, do segmento de
médios-compactos. Importado da França e desenvolvido em conjunto com engenharia
brasileira, ganha 7 cv (agora, 173 cv) quando abastecido a etanol. Câmbio
automático também foi melhorado e o conjunto impressiona bem. Preços: R$ 78.790
a 85.490.
NISSAN não importará o Nissan GT-R, de 545 cv e nada
menos de 64 kgfm, pela dificuldade de homologar e nem tanto pelo preço que
seria competitivo (menos de R$ 500 mil) em relação ao desempenho excepcional.
Afinal, baixar de três segundos de 0 a 100 km/h o coloca em um clube que se
conta os sócios pelos dedos de uma mão. Sua produção muito limitada também é
empecilho.
EMPRESAS de rastreamento estão se sofisticando. A
Ituran, multinacional israelense, já oferecia seguro total contra furto/roubo
de veículo que usasse seu sistema e não fosse recuperado. Agora agregou também
seguro contra danos materiais e físicos a terceiros, cobertura acessível e muitas
vezes pouco valorizada. A empresa espera atrair mais clientes das classes C e
D.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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