Alta Roda nº849/199– 13/08/2015
Uma nova fonte inesperada de problemas para a indústria
automobilística surge à medida que aumenta o número de carros conectados à
internet por vários aparelhos, do telefone inteligente às centrais de
multimídia. Interferências eletromagnéticas há muito são monitoradas em
exaustivos testes até se alcançar blindagem contra elas. Quando automóveis
Toyota nos EUA se acidentaram em razão de acelerações descontroladas, uma das
hipóteses, sem comprovação, foi de frequências exóticas de bases militares.
Telefones celulares, em aviões, ainda têm restrições de uso.
Em veículos terrestres esse parece um assunto superado. Porém, interferências
reais por meio de hackers – especialistas em programação de computadores –
geram preocupações nos EUA. Os chamados hackers do bem, que descobrem
vulnerabilidades em sistemas, demonstraram ser possível controlar um automóvel
à revelia do motorista. Fizeram brincadeiras como colocar o som no máximo
volume e até desligaram o motor em um Jeep Cherokee de cobaia. Parecia coisa de
ficção, mas não era.
Situação ficou séria, pois levou a FCA a convocar 1,4 milhão de unidades para
mudar programação do sistema multimídia. A fábrica optou pelo envio de um pen
drive de atualização. O órgão de segurança veicular do governo americano
(conhecido pela sigla NHTSA) investiga se outros fabricantes poderiam
igualmente ser afetados. Anomalias semelhantes, mas sem perdas nos controles de
motor, direção e freios, já tinham sido detectadas e solucionadas pela BMW e
suas subsidiárias MINI e Rolls-Royce.
Até mesmo a Tesla, marca americana de sedãs elétricos de luxo, sofreu um ataque
planejado em baixa velocidade. A empresa se vangloriava de ser mais competente
que os outros, mas dois especialistas em segurança cibernética demonstraram a
ação. A Tesla reconheceu a vulnerabilidade e corrigiu o problema, embora
alegasse que o teste fora executado a bordo e não a distância. Desculpa
fraquinha.
Metade dos 75 milhões de veículos leves vendidos em todo o mundo este ano terá
algum grau de conectividade. E daqui a 10 anos acredita-se que serão até 250
milhões, desde os convencionais até os de condução autônoma. Automóveis também
deverão receber programas antivírus como os computadores pessoais de hoje?
Improvável que aconteça. Fabricantes de veículos e de sistemas de informática
já estão bem entrosados contra ações de hackers do mal. Atualizações poderão se
tornar eventuais nas linhas de montagem, nas concessionárias ou mesmo por meio
remoto e de forma automática, sem necessidade de recall. Mas, nunca se sabe...
O fato é que nada vai parar os avanços de conectividade. Nem o primeiro
acidente com feridos leves do modelo de condução autônoma da Google nos EUA,
apesar de provocado por um veículo comum. Uma prova do interesse crescente
nesta tecnologia foi uma rara união de três grandes marcas rivais, Audi, BMW e
Mercedes-Benz, para comprar por US$ 3 bilhões a plataforma de mapas digitais
Here, da Nokia. Precisão e confiabilidade de rotas são essenciais em um veículo
que se autodirige e, também nesse caso, atualizações são cruciais para
segurança e sucesso deste recurso.
RODA VIVA
ENQUANTO o índice de confiança dos compradores não melhorar – só no
segundo trimestre de 2017, segundo analistas – vendas de veículos continuarão
deprimidas. Julho teve dois dias úteis a mais que junho e mesmo assim estoques
diminuíram de 46 para 45 dias apenas. Exportações reagiram 11%, mas produção
total até julho ficou 18% abaixo de igual período de 2014.
NISSAN chegou a cogitar e desistiu de trazer do México o Note para não
prejudicar cota de importação do Sentra. Também não vai produzi-lo em Resende
(RJ) pela má fase do mercado brasileiro, apesar da mesma arquitetura do March.
Guarda forças para o crossover Kicks. Fit manterá, então, domínio de 50% dos
monovolumes pequenos, embora pareça mais um hatch de teto alto.
RENEGADE está próximo em vendas do líder HR-V, mas luta permanece
indefinida. SUV compacto da Jeep tem vantagem de oferecer sete versões, dois
motores (flex e diesel) e três câmbios (manual de 5 marchas e automático de 6 e
9 marchas). Suspensões são inigualáveis pela relação conforto/estabilidade,
confirmada no uso diário. Materiais de acabamento interno, também muito bons.
REFORÇOS estruturais para desempenho fora de estrada levam o Renegade a
pesar mais do que o ideal. Dessa forma, motor flex (principalmente com câmbio
automático) é pouco e versão a turbodiesel de preço elevado até sobra, mais
pela grande diferença de torque do que de potência. Espaço no habitáculo
impressiona bem, porém porta-malas de 260 litros perde para concorrentes.
PORSCHE acaba de instalar filial própria no País. Passo natural para a
marca que vê um mercado em expansão, como demonstram as vendas do segmento
premium e, mais que isso, o potencial. O fabricante alemão atingiu 200.000
unidades/ano no mundo, crescimento assombroso. Há duas décadas vendia apenas
18.000 carros/ano.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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