quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Fernando Calmon - Alta Roda


Alta Roda nº849/199– 13/08/2015
Fernando Calmon
Uma nova fonte inesperada de problemas para a indústria automobilística surge à medida que aumenta o número de carros conectados à internet por vários aparelhos, do telefone inteligente às centrais de multimídia. Interferências eletromagnéticas há muito são monitoradas em exaustivos testes até se alcançar blindagem contra elas. Quando automóveis Toyota nos EUA se acidentaram em razão de acelerações descontroladas, uma das hipóteses, sem comprovação, foi de frequências exóticas de bases militares. Telefones celulares, em aviões, ainda têm restrições de uso.

Em veículos terrestres esse parece um assunto superado. Porém, interferências reais por meio de hackers – especialistas em programação de computadores – geram preocupações nos EUA. Os chamados hackers do bem, que descobrem vulnerabilidades em sistemas, demonstraram ser possível controlar um automóvel à revelia do motorista. Fizeram brincadeiras como colocar o som no máximo volume e até desligaram o motor em um Jeep Cherokee de cobaia. Parecia coisa de ficção, mas não era. 

Situação ficou séria, pois levou a FCA a convocar 1,4 milhão de unidades para mudar programação do sistema multimídia. A fábrica optou pelo envio de um pen drive de atualização. O órgão de segurança veicular do governo americano (conhecido pela sigla NHTSA) investiga se outros fabricantes poderiam igualmente ser afetados. Anomalias semelhantes, mas sem perdas nos controles de motor, direção e freios, já tinham sido detectadas e solucionadas pela BMW e suas subsidiárias MINI e Rolls-Royce. 

Até mesmo a Tesla, marca americana de sedãs elétricos de luxo, sofreu um ataque planejado em baixa velocidade. A empresa se vangloriava de ser mais competente que os outros, mas dois especialistas em segurança cibernética demonstraram a ação. A Tesla reconheceu a vulnerabilidade e corrigiu o problema, embora alegasse que o teste fora executado a bordo e não a distância. Desculpa fraquinha. 

Metade dos 75 milhões de veículos leves vendidos em todo o mundo este ano terá algum grau de conectividade. E daqui a 10 anos acredita-se que serão até 250 milhões, desde os convencionais até os de condução autônoma. Automóveis também deverão receber programas antivírus como os computadores pessoais de hoje? Improvável que aconteça. Fabricantes de veículos e de sistemas de informática já estão bem entrosados contra ações de hackers do mal. Atualizações poderão se tornar eventuais nas linhas de montagem, nas concessionárias ou mesmo por meio remoto e de forma automática, sem necessidade de recall. Mas, nunca se sabe... 

O fato é que nada vai parar os avanços de conectividade. Nem o primeiro acidente com feridos leves do modelo de condução autônoma da Google nos EUA, apesar de provocado por um veículo comum. Uma prova do interesse crescente nesta tecnologia foi uma rara união de três grandes marcas rivais, Audi, BMW e Mercedes-Benz, para comprar por US$ 3 bilhões a plataforma de mapas digitais Here, da Nokia. Precisão e confiabilidade de rotas são essenciais em um veículo que se autodirige e, também nesse caso, atualizações são cruciais para segurança e sucesso deste recurso. 

RODA VIVA

ENQUANTO o índice de confiança dos compradores não melhorar – só no segundo trimestre de 2017, segundo analistas – vendas de veículos continuarão deprimidas. Julho teve dois dias úteis a mais que junho e mesmo assim estoques diminuíram de 46 para 45 dias apenas. Exportações reagiram 11%, mas produção total até julho ficou 18% abaixo de igual período de 2014. 

NISSAN chegou a cogitar e desistiu de trazer do México o Note para não prejudicar cota de importação do Sentra. Também não vai produzi-lo em Resende (RJ) pela má fase do mercado brasileiro, apesar da mesma arquitetura do March. Guarda forças para o crossover Kicks. Fit manterá, então, domínio de 50% dos monovolumes pequenos, embora pareça mais um hatch de teto alto. 

RENEGADE está próximo em vendas do líder HR-V, mas luta permanece indefinida. SUV compacto da Jeep tem vantagem de oferecer sete versões, dois motores (flex e diesel) e três câmbios (manual de 5 marchas e automático de 6 e 9 marchas). Suspensões são inigualáveis pela relação conforto/estabilidade, confirmada no uso diário. Materiais de acabamento interno, também muito bons. 

REFORÇOS estruturais para desempenho fora de estrada levam o Renegade a pesar mais do que o ideal. Dessa forma, motor flex (principalmente com câmbio automático) é pouco e versão a turbodiesel de preço elevado até sobra, mais pela grande diferença de torque do que de potência. Espaço no habitáculo impressiona bem, porém porta-malas de 260 litros perde para concorrentes. 

PORSCHE acaba de instalar filial própria no País. Passo natural para a marca que vê um mercado em expansão, como demonstram as vendas do segmento premium e, mais que isso, o potencial. O fabricante alemão atingiu 200.000 unidades/ano no mundo, crescimento assombroso. Há duas décadas vendia apenas 18.000 carros/ano. 



PERFIL
   
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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