Wagner Gonzalez |
Emoções e reações marcam GP
Últimas voltas deram tom do
futuro próximo
Os acontecimentos que marcaram as últimas 15
das 71 voltas do GP do Brasil mostraram como o esporte é imprevisível. Em um
fim de semana no qual o holandês Max Verstappen esteve acima dos seus rivais, o
que remete à sua identificação com o circuito de Interlagos, o francês Pierre
Gasly conseguiu seu primeiro pódio em uma prova onde seu algoz Alex Albon foi
tirado da prova por ninguém menos que Lewis Hamilton. O inglês hexacampeão
mundial
Porção generosa de molho a la arrabiata
(aquele famoso pela quantidade de pimenta nele utilizada) coroou o fim de
semana da Ferrari. O alemão Sebastian Vettel mostrou ter perdido a frieza
tedesca e provocou um acidente que eliminou a si próprio e seu companheiro de
equipe, o monegasco Charles Leclerc, da prova em que ocupavam o quarto e
quinto
lugares quando faltavam poucas voltas para a bandeirada. Este pequeno resumo
do evento de anteontem indica o que podemos esperar da prova que encerra esta
temporada, o GP de Abu Dhabi (dia 1º de dezembro) e até mesmo do campeonato de
2020.
Com o título decidido, novos nomes entre os
três primeiros, mais uma crise na Ferrari e o progresso dos motores Honda, a
F-1 promete manter o crescendo de emoções que caracterizou o segundo semestre
deste ano. Junte-se a isso a ansiedade das equipes Haas, Racing Point e,
principalmente, Williams para terminar uma das piores — no caso desta última sem
dúvida a pior da sua história —, e há campo para
Otimismo, aliás, que não
pode ser confundido com a afirmação de que o final emocionante do GP do Brasil
deste ano se deve às características de Interlagos. Verdade que a pista
paulistana tem tradição e trechos que demandam técnica, caso das curvas S do
Senna e Laranjinha. Daí a afirmar que as atuações bem-sucedidas de Verstappen,
Gasly, Sainz e companhia, e a presepada da Ferrari, só aconteceram porque a
corrida foi em São Paulo — como exaltaram alguns críticos —, há uma longa
distância
Vida que segue e a ausência de Toto Wolff no
paddock paulistano (primeira ausência do austríaco em GPs em muitos anos),
mostra que a Mercedes não esmorece e implica em considerar como rumores as
notícias que pregam a interrupção do seu programa de F-1, tema em que até o
todo-poderoso Roger Penske foi anunciado como possível comprador. Penske
desmentiu o rumor alegando que a recente aquisição do Império Indy já é
bastante para saciar seu apetite.
O sueco Ola Kallenius, primeiro estrangeiro a
ocupar o cargo de presidente-executivo da Mercedes-Benz, declarou recentemente
em um encontro com investidores em Londres que esse programa esportivo “mais do
que pagou o seu custo financeiro e deve ser cisto como um investimento que vale
a pena”. Apesar disso, a marca de Stuttgart ainda não confirmou sua adesão às
regras que entrarão em vigor em 2021, tema ainda em discussão.
Apesar da maior torcida e dos investimentos
que a Ferrari dispõe em relação aos seus rivais, o desempenho dos carros da Red
Bull e da Toro Rosso em Interlagos consolidou o progresso dos motores Honda a
ponto de permitir enxergar essas equipes como concorrentes mais fortes na
próxima temporada, em particular a primeira. Na tradicional Scuderia teme-se
uma repetição da crise 023/3, categoria em que os pilotos desertam o time em
função de disputas internas. Exemplos disso são o abandono de John Surtees após
vencer o GP da Bélgica de 1966 e Alain Prost no GP da Austrália de 1991.
No primeiro caso, nem o fato de ter o carro
mais competitivo da temporada (vencida por Jack Brabham, a bordo de um
Brabham-Repco) evitou o desastre provocada por divergência de opinião com a
direção do time; no segundo, o francês foi sumariamente demitido às vésperas
daquela prova após externar sua opinião não elogiosa sobre a administração do
time. Em tal cenário, Vettel parece mais perto de um rompimento com a Scuderia
do que Leclerc.
No caso da Honda, o
cenário tem cores mais orientais e tons mais relaxantes. Após a frustrada
reedição de sua bem-sucedida associação com a McLaren, os japoneses trabalharam
em silêncio e conseguiram em Interlagos a primeira dobradinha da marca
desde...desde...1991! Abandonos e acidentes contribuíram, mas o francês Pierre
Gasly andou forte o suficiente durante a prova para aproveitar a chance que
caiu no seu colo. Ironia do destino, essa vaga no pódio seria o coroamento da
campanha muito bem-sucedida do estreante Alex Albon, o anglo-tailandês com quem
foi obrigado a trocar de lugar no meio da temporada. Espantosamente, para os
padrões da F-1, Albon inocentou Hamilton de qualquer culpa no acidente.
A destacar as atuações de
Carlos Sainz e do australiano Daniel Ricciardo, o que destaca a resistência do
motor Renault. O espanhol largou do último lugar do grid, consequência de não
ter disputado a prova de classificação, e manteve um ritmo forte durante a
prova, mostrando um amadurecimento contínuo. O australiano fez duas paradas e
foi punido com cinco segundos (consequência de um toque com Kevin Magnussen na
curva Chico Landi), mas conseguiu marcar pontos e manter a crescente fase de
resultados pontuáveis.
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