Alta Roda nº 724/84 – 14/03/2013 |
Fernando Calmon |
Aberto até 17 de março, Salão de Genebra impressiona pelo
número de lançamentos. Nessa 83ª edição, veículos elétricos e híbridos saíram
de uma ala específica e se misturam aos demais. Não quer dizer que representem
algo palpável do mercado suíço, um dos poucos na Europa ainda sem enormes
recuos. Em 2013 responderão por apenas 3% das vendas. Já os nada racionais SUVs
e crossovers vão capturar cerca de 40%, o que ajudou a quase aniquilar as
inteligentes stations (peruas), cuja boa aceitação permanece na Alemanha.
Interessante que os híbridos se destacam entre as maiores atrações em
extremidades opostas. LaFerrari, legítimo sucessor do modelo Enzo, além de
desenho arrebatador, entrega nada menos de 963 cv com ajuda de um motor
elétrico (mesmo recurso do McLaren P1, também muito bonito, e “apenas” 916 cv).
Supercontraste em relação ao VW XL1 e seus motores de 2 cilindros (48 cv) e
elétrico (27 cv), primeiro carro no mundo a consumir incrível 1 L/111 km. Ele
ainda não tem preço, ao contrário de R$ 3 milhões do LaFerrari. Mas, por
enquanto, será até mais exclusivo: apenas 250 unidades (iniciais), contra 499
da série especial da marca italiana.
Em primeiro contato com o XL1, nos arredores de Genebra, o carro de dois
lugares de carroceria extremamente aerodinâmica (Cx 0,19), bastante baixo (1,15
m) e portas do tipo asa de gaivota surpreendeu pelo contraste entre a
silenciosa tração elétrica e o ruidoso motor diesel. Sua autonomia elétrica
pode chegar a 50 km, desde que não se queira pedir ajuda ao motor a combustão e
acelerar de 0 a 100 km/h em razoáveis 12,7 s (dado de fábrica).
Ainda sobre propulsão alternativa, a PSA Peugeot Citroën aposta suas fichas em
um híbrido diferente. Associa motor a gasolina e ar comprimido, sem baterias e
sem complicação mecânica do motor elétrico adicional, ambas de alto custo. Essa
tecnologia, em parceria com a Bosch, parece promissora, porém ainda carece de
mais testes e comprovação de viabilidade financeira.
Como a busca por economia é foco constante, o Range Rover Evoque se apresenta
como primeiro veículo com caixa de câmbio automática (da alemã ZF) de nada
menos que nove marchas. Também estará em outros carros, pois é tão compacta que
permite uso com motor transversal.
Mercedes-Benz atiçou entusiastas com o incrível Classe A 45, da sua divisão
esporte AMG. Dá para imaginar um compacto com motor de 2 litros turbo, de 360
cv/46 kgf∙m, maior potência específica já alcançada por um automóvel de
produção seriada, de apenas quatro cilindros, até hoje?
Entre lançamentos que interessam ao Brasil, destaque para o SUV compacto
Peugeot 2008, cuja versão definitiva surgiu em Genebra e será fabricado no
Estado do Rio de Janeiro, no final de 2014. O sedã compacto anabolizado CLA, da
Mercedes – estreia mundial no salão suíço – também será um dos escolhidos para
produção aqui (decisão até meados de 2013). Outro estreante, crossover compacto
Renault Captur, poderá ser opção de importação para a marca francesa, único
fabricante nacional que só traz carros do exterior da Argentina.
Alfa Romeo 4C também atraiu muita atenção: serão apenas 3.500 unidades do cupê,
de baixo peso (80% para os EUA). Em princípio, nenhuma para o Brasil.
RODA
VIVA
ESTRATÉGIA de
produção dos fabricantes, em fevereiro, foi de aumentar os estoques totais de
29 dias para 39 dias, a fim de atender aquecimento da demanda este mês. No
final de março haverá nova subida do IPI e o tradicional apelo de “compre antes
do aumento”. Primeiro bimestre do ano foi recordista em vendas: 547.000
unidades (veículos leves e pesados).
HYUNDAI acertou,
de novo, no estilo do HB20S. Versão sedã do hatch compacto mostra equilíbrio de
linhas e um terceiro volume sem parecer adaptado. Isso lhe custou, entretanto,
volume no porta-malas: 450 litros, um dos menores do segmento. Manteve três
versões de acabamento, além de motor de 1 litro (80 cv) e 1,6 litro (128 cv),
ambos os mais potentes entre aspirados para a respectiva cilindrada.
DESDE as
versões de entrada, há bom nível de equipamentos como ar-condicionado, sistema
de som com bons recursos (Bluetooth e MP3), comandos elétricos para vidros,
travas e espelhos, ajuste de altura do banco (não tão eficiente) e da coluna da
direção em dois planos, entre outros. Melhor seria assistência elétrica na
direção, no lugar da hidráulica. Repetido o erro de sonegar os freios ABS na
versão básica, embora não esteja sozinho nessa política torta.
SUSPENSÕES têm
correto compromisso conforto/estabilidade, mas continuam ruídos de batentes em
descida de quebra-molas ou buracos profundos. Câmbio automático, mesmo com
quatro marchas, é adequado. Faltam freios a disco nas rodas traseiras, pois se
trata do compacto mais rápido do mercado. Somando sedã e hatch, HB20 deve se
consolidar entre os cinco mais vendidos, em boa briga com Onix/Prisma. Já
incluso IPI de abril, quando começam as vendas, preços vão de R$ 39.495 a R$
53.595.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga
também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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