Alta Roda nº 898/248 – 21 /07 /2016
Fernando Calmon |
A
Nissan precisava mesmo de algo diferenciado para dar impulso às vendas no
Brasil e diminuir a ociosidade da fábrica de Resende (RJ), até agora restrita
ao March e ao Versa. A aposta nos SUVs compactos (em cincos anos o segmento
passou de 2% para 10% do mercado), com o lançamento em 5 de agosto próximo do
Kicks, veio com o produto certo, na hora certa. A marca tem pressa. Vai
importar do México pelo menos 3 mil unidades/mês e o carro estará disponível
primeiro aqui. No início de 2017 começa a produção brasileira.
O estilo marcantemente rebuscado de um verdadeiro crossover atrai, de fato, a
atenção. A frente mostra uma grade cromada em V, faróis avantajados e
“assinatura estilística” em LED (não é DRL). O desenho do teto em leve
inclinação e a solução da coluna traseira lembram o Ranger Rover Evoque, muito
bem aceito em todo o mundo. Na tampa traseira uma série de recortes acompanha o
contorno das lanternas em forma de bumerangue. Coeficiente de forma
aerodinâmica (Cx) de 0,34 está entre os melhores do segmento.
Arquitetura reforçada nos locais certos é a mesma do Versa, mas a distância
entre-eixos de 2,61 m (1 cm a mais que o sedã) coincide com a do HR-V.
Comprimento igual ao crossover da Honda, largura e altura também muito
próximas, não deixam dúvida sobre o adversário-alvo. O interior do Kicks,
porém, é mais ousado e moderno. Além da tela multimídia de 7 pol., traz como
exclusividade no segmento o quadro de instrumentos totalmente digital com 12
configurações. Na versão de topo SL, única oferecida de início, parte do painel
frontal revestida em couro (três cores disponíveis) busca certo refinamento,
mas há ainda grandes áreas de plástico duro. O volante ajustável agora não
“desaba” mais ao se soltar sua trava.
Entre outros recursos eletrônicos, destaca-se o sistema de visão de 360° por
meio de quatro câmeras: traseira, frontal e duas sob os retrovisores externos,
sem dispensar o sensor traseiro de obstáculos. O banco traseiro tem ótimo
espaço para joelhos e cabeça. Há dois airbags frontais e quatro laterais. Volume
do porta-malas, de 432 litros, também é muito bom (apenas 5 litros menos que o
do HR-V).
O motor de 1,6 litro da linha March/Versa tem 114 cv (3 cv extras) com etanol
ou gasolina e torque de 15,5 kgf.m (0,4 a mais). Taxa de compressão de 10,7:1
poderia ser mais alta. Consumo recebeu nota A do Inmetro: 8,1 km/l na cidade e
9,6 km/l na estrada (etanol); 11,4 km/l e 13,7 km/l, respectivamente, com
gasolina. Graças aos 1.142 kg de peso em ordem de marcha, o Kicks se desloca
com alguma desenvoltura, mas o desempenho não é um ponto forte.
Seu câmbio CVT apresenta uma característica interessante. Quando o motorista
pisa além da metade do curso do acelerador, o sistema simula passagem de
marchas de automáticos convencionais. Apesar de trocas virtuais lentas, houve
uma evolução em termos de sensações. Os bancos dianteiros oferecem conforto
acima da média e o diâmetro de giro, de apenas 10,2 m, facilita as manobras de
retorno e de estacionamento. Faz falta o freio de estacionamento eletrônico.
Preço desta versão completa é de R$ 89.990, cerca de 10% mais em conta que o
HR-V de topo. A briga promete ser boa.
RODA VIVA
AINDA sem divulgação pela PSA, os motores turbo avançam na linha de
médios-compactos. Citroën C4 Lounge, Peugeot 308 e 408, produzidos na Argentina,
não são mais importados com motor aspirado de 2 litros. Agora, apenas o 1,6 L
turbo THP, mais potente e econômico. Todos de olho na média de consumo de frota
do Inovar-Auto, a ser declarada em outubro próximo.
POTENCIAL de confusão ainda maior sobre a
obrigatoriedade, incorreta no entender da Coluna, de ligar faróis comuns de dia
em rodovias. Alguns modelos novos têm apenas “assinatura” em LED e não faróis
DRL que são eficientes e estão “liberados” com a improvisação de sempre. Faróis
de xênon, por exemplo, quase não têm utilidade de dia. Legisladores se
perderam.
HYUNDAI HB20 de um litro com turbocompressor é um
motor flex que, ao utilizar etanol, tem desempenho claramente superior. Uma
pena não dispor de injeção direta de combustível, que dispensa assistência de
partida com gasolina em dias mais frios. Torque máximo, também por isso um
pouco menor, só surge com vigor acima de 2.500 rpm e aí impressiona bem.
PNEUS não param de evoluir, inclusive os de alto
desempenho para aros de 17 e 18 pol. como o Pilot Sport 4, da Michelin. Em
provas comparativas do instituto alemão TÜV SÜD esse modelo conseguiu distância
de frenagem (80 km/h a 20 km/h) até 2 metros inferior em pista molhada e 1
metro menos no seco (100 km/h a 0 km/h) em relação à média de outros desse
tipo.
EMBORA limitado às rodovias federais, a segunda edição
do Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro é um trabalho de alto nível
do fabricante de caminhões Volvo (independente da marca homônima de
automóveis). Aponta os trechos mais perigosos, causas dos acidentes e os mais
letais, além de tipos de veículos envolvidos.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Nenhum comentário:
Postar um comentário