2014 não foi ótimo, nem foi péssimo. Seus resultados finais apenas não
repetiram o caminho ascensional dos seis anteriores, e os 9% perdidos em vendas
tem a ver com a indigesta combinação. Misturaram-se o menor número de dias
úteis, com a falta de competência gerencial do país, apenas superada pela
Argentina. Copa do Mundo e eleições, e todos os dias em seu entorno, dividiram
atenções e bolsos. O descontrole da economia forçou aumento de juros, redução
do prazo de funcionamento, filtros menores para aprovar cadastros, auxiliaram a
puxar o mercado para baixo. Ainda assim os meios, instalações, insumos e
mercado forte em autopeças e demanda garantiram resultados impossíveis de serem
criticados: fazer 3,3 milhões de veículos é coisa para gente grande.
No sobe e desce de mercado e vendas já fomos maiores. Terminamos 2014
sem saber se fomos superados pelo ascendente México, desfrutando de bom projeto
industrial, aberto a acordos comerciais externos, colhendo os resultados na
recuperação econômica do mercado estadunidense, seu cliente maior.
Queda em demanda não significa pasmo. A indústria automobilística, numa
imagem, é como um transatlântico manobrando. Mesmo decidindo parar ou dar
marcha à ré, ainda assim a grande massa se move para a frente. As reações são
lentas. Na prática, os investimentos programados são mantidos pois seu espectro
de tempo atende a estudos com maior prazo, incluindo construção de fábricas,
projetos para produtos e agregados, lançamento de veículos. A indústria – do
automóvel e bens duráveis de elevado valor – não considera o presente. A
pequena janela temporal não inibe planos estudados durante prazo maior. Os R$
50 bilhões anunciados para aplicação em três anos, foram e estão mantidos.
2015 deverá ser igual ou levemente superior a 2014; 2016 pequeno salto,
nivelando-se aos resultados de 2013. Crescimento, 2017.
Caso da Coluna, imodestamente foi ótimo. Não
quantificadas antecipações de informações, análises corretas, corajosas – como
vaticinar, para surpresa de jornalistas europeus, que o então apresentado VW
XL1 não passava do demonstrar poder pessoal maior do presidente do Conselho da
VWAG, de desenvolver componentes para conseguir consumo em torno de um número
mágico: 100 km/litro. Depois, permear os ganhos tecnológicos a outros produtos,
ajudando a Volkswagen a abrir caminho para aumentar economia e diminuir
emissões, tudo dentro do projeto de ser líder mundial em 2018. Acertou.
Também, ocasião de verbalizar opinião em eventos internacionais, e
participar de indicações de produtos e motores em dois prêmios internacionais e
um brasileiro. Se 2013 se encerrou contabilizando em torno de nunca imaginados
5 milhões de leitores, e veiculada em 23 veículos impressos e
eletrônicos, 2014
fez melhor, mudando números: arranhamos 10M de leitores com publicação
em 28 meios de imprensa. Balanço resumido, faltou um item
importante: não consegui dirigir o AMG GT – apesar de presente ao lançamento na
Alemanha.
Internamente o conjunto de números mostra contração. Vendas domésticas
caíram em torno de 9%; exportações baixaram mais. Em motos números aproximados,
porém a caracterização maior é a mudança de perfil de produtos. Os de menor
cilindrada, de maior presença, têm sido ofuscados pelo crescimento das marcas
famosas, de motos maiores e mais caras, aportando ao mercado, com montagem nos
favorecimentos da Zona Franca de Manaus.
Na indústria foi ano de novidades. Começou com a surpresa da centenária
e familiarmente controlada Peugeot pedir água e aporte de capital para socorrer
o caixa. Outra surpresa, a rapidez de decisão do governo francês em socorre-la,
adquirindo 15% de suas cotas, para impedir de a chinesa Dongfeng, também
presente na adesão, superar o quantitativo de ações da família Peugeot,
assumindo o mando da empresa. Na área, empresa faz cortes porém mantém
investimentos, mas reduziu acordos com a GM para dividir plataformas e motores.
Medida para mostrar-se viva, ativa e de volta à competição no mercado, fez da
linha DS, antes modelos Citroën, nova marca.
Novidade tecnológica e industrial foi trazida pela Ford, aplicando na
cabine e carroceria 70% em alumínio em seu produto mais vendido, o picape F
150, em nome de baixar peso total, obedecer regras e patamares de consumo e
emissões.
Alargou a trilha de outros fabricantes em espectro menor, aplicando-o em
carrocerias especiais, como o Audi A8, e suspensões. Utilizá-lo em veículo apto
a suportar trabalho duro facilita a outros fabricantes incrementar percentuais
de uso – como pretende a Jeep na próxima edição do Wrangler.
No caminho das surpresas, a Fiat SpA, a matriz italiana, conseguiu
negociar e assumir a totalidade das ações da norte americana Chrysler LLC.
Somou o caixa da Chrysler com o da Fiat e criou holding, a
FCA, sede na Holanda, ações na Bolsa de Londres. Pagou, no total, US$ 6,3
bilhões pela companhia. Barato. A antiga dona, empresa de participações
Cerberus LLC comprara 80% da Chrysler à Daimler, por US$ 7,4B. E esta assumira
o controle acionário pagando US$ 36B.
Da Fiat, outra surpresa maior: colocou em sinuca Luca de Montezemolo, há
décadas bom presidente da Ferrari, fazendo-o sair. E, inimaginado, colocou
ações de tal mito no mercado, para fazer caixa e subsidiar os custos de novos
projetos. Dona das mágicas, mudou o nome das empresas regionais e, nos EUA,
berço da Chrysler, suprimida da razão social. Agora é FCA US. Aqui, FCA Latam
(de Latin America).
Mercedes surpreendeu em 2014 com o GLA
derivado da plataforma de entrada no mercado. Também, com o novo Classe C,
extremamente bem dotado e identidade focada no insuperado Classe S. Arrematou o
ano lançando o AMG GT, esportivo com plataforma e carroceria em alumínio,
valente para concorrer com Porsche 911. A Mercedes quer números, lucros, voltar
à liderança dentre automóveis alemães.
Disputa mais
acirrada em 2014 foi entre o VW Gol, líder de vendas à 27 anos, e o Fiat Palio,
surpreendendo ao assumir a liderança, mantendo-a por seis meses.
Não se sabe quem
venderam mais. Vésperas do Natal VW fez pacote em vendas corporativas e
promocionais e ultrapassou o Palio em 900 unidades. Fechará o ano como o mais
vendido? Ou a Fiat terá carta guardada para virar o jogo?
Colocados contra a parede, peitados por um
adicional de impostos, fabricantes alemães – exceto Porsche -, passaram o ano
implantando fábricas no Brasil. Na prática pequenas montadoras, produtos com
pouca nacionalização, baixa quantidade, resultado do projeto oficial
Inovar-Auto para conseguir ter preço no mercado interno. Farão grandes lucros.
No mercado de importados Audi cresceu mais,
com produtos bem escolhidos e atrevimento comercial. O modelo A3 sedan com
motor 1.4 e preço em torno dos R$ 100 mil ajudou a acelerar crescimento de 105%
em relação a 2013.
Mercedes passou período ruim, sem produtos
entre o fim da geração anterior do C e a chegada da nova, mas vendeu 25% mais.
No projeto de abrasileirar-se BMW foi mais ágil e inaugurou sua pequena fábrica
em Santa Catarina. Montagem com pouca nacionalização – carrocerias vem da Alemanha
montadas e pintadas. Cresceu pouco em vendas, porém manteve a liderança dentre
as marcas alemãs em instalação.
Em Jacareí, SP, fábrica inaugurada,
dificuldades com mão de obra, a chinesa Chery iniciou produzir e estocar o
Celler. Quer vende-lo a partir de janeiro.
Grupo SHC, representante da também chinesa
JAC conseguiu montar fórmula com a matriz chinesa passando-lhes 2/3 do capital
da fábrica a ser feita em Camaçari, Ba. Diz, novo sócio assinará contrato de
financiamento com novo governo baiano e erigirá fábrica em um ano. Grupo SHC
mantém, 1/3 da fábrica e toda a distribuição.
Outra chinesa gaguejou, tossiu, parou e deu
marcha a ré. A Geely iniciou costurar acordos para montar automóveis da marca
no Uruguai, vender no Brasil, mas não viabilizou o principal: rede de
revendedores. Quem, de sã consciência, quer investir mínimos R$ 3
milhões para montar loja para vender pequenas quantidades? O grupo
Gandini, importador, deu uma travada geral no projeto. Sobrou até para o
advogado Ivan Fonseca e Silva, ex presidente da Ford, emprestando aval
institucional ao exercer a presidência da Geely.
Land Rover Jaguar finalmente soltou o freio
de mão e fixou pedra fundamental de fábrica a ser construída em Itatiaia, RJ.
Land Rover convive com o rótulo de Carro do Mal Feito. Nos governos
petistas um Defender foi presente a Silvinho Land Rover, orgulhoso
corrupto agraciado com modelo da marca, e recentemente o mal afamado Paulo
Roberto Costa, levou modelo Evoque do poderoso doleiro Alberto
Youssef.
Novidades locais, ano rico. Começou com
o up!, corajosa quebra de parâmetros pela Volkswagen, mudando
conceitos de construção e de motorização, três cilindros, 1.ooo cm3, e 80 cv,
motor em alumínio, conjunto muito bem acertado.
Para fazer o up! a VW foi
instada a mudar motores, atualizando-se como o 1.0 de três cilindros, logo em
seguida o EA 211, quatro cilindros, e a novidade a ser vista neste ano, o
primeiro com injeção direta de combustível, turbo – aliás, furo da Coluna.
Além do up! e dos novos motores, aprimoramento dos processos e capacidade de
produção do picape Saveiro, agora incluindo versão cabine dupla.
Da marca, o fim do Golf geração 4 e ½, parte
da política de internacionalização – produzir veículos iguais aos das outras
usinas da empresa pelo mundo.
Outro lançamento, longo parto, inúmeras
apresentações de pedaços, o Ford Ka, projetado na Bahia, produção prevista a
outros mercados em desenvolvimento, os BRICS. Ford também aderiu ao motor de
três cilindros, embora com bloco em ferro, aplicando-o ao Ka e sedã K+. Motores
Ford são os mais modernos do país.
Preferência popular redesenhou a operação
Peugeot, preferindo versões luxuosas, desprezando as de menor preço e
equipamentos. Daí, marca acabou com as mais simples, equipou-as, refinou-as.
Quer vende-las como carros de charme, saindo das faixas iniciais de preço e
lucro menores. Vender menos, ganhar mais.
Outra marca da PSA, a Citroën também mudou
por decisão do público. Seu modelo C4 Lounge com mix projetado de 70% do motor
2.000 aspirado e 30% do 1.6 injeção direta e turbo, sofreu inversão por demanda
do público. Agora 70% turbo e 30% aspirado. Citroën desenvolveu versão flex para
o turbo.
Renault encerrou a ampliação de sua fábrica,
aumentou capacidade industrial e voltou a crescer baseada nos produtos sobre
plataforma Dacia – Logus, Duster e Sandero. Cortou para si 7% do bolo do
mercado. Quer mais. Em 2015 lançará pick up médio
anabolizado.
Associada Nissan inaugurou fábrica em
Resende, RJ, fazendo o modelo de entrada March em duas versões, atualizada e antiga.
Percalços, dificuldades com o mercado, acontecimentos exigindo rápidas
respostas, mas não comprometem o projeto maior de querer 5% das vendas.
Japonesas Toyota e Honda foram-se bem.
Primeira, cortando preço e fazendo pequenas mudanças no Etios. Tirou-o da
condição de mico, mas não consegue posição de liderança como
os outros produtos da marca. Na Honda sorri-se: Fit e City renovados cresceram
nas vendas.
Mitsubishi iniciou montar o sedã Lancer no
Brasil. Conteúdo maior, preço menor.
Gasolina mudou de formulação, para ser menos
poluente. Álcool, combustível renovável, em crise, atrelado ao seu preço. E
esta, oriunda de petróleo, cujo preço caiu quase 50% em três anos – US$ 110 a
US$ 60. O valor pode inviabilizar o Pré Sal.
Em termos de tecnologia aplicada ao conforto
dos usuários, dois programas tiveram sucesso em 2014. Por aplicativo gratuito
o Easy Taxi localiza o taxi mais próximo, indica o tempo a
chegar até o cliente, permite pagar eletronicamente por cartão. Ideia boa
atraiu investidores estrangeiros.
Também, o CittaMobi facilita a vida: aplicativo
gratuito para celular, fornece horários de ônibus, horário de chegada ao ponto
onde está o usuário, soa alarme para o usuário saber se vai descer, em um ano
opera em doze cidades. Aplicativo especial faz o indicativo para pessoas sem
visão.
Sem projeto, governo é lento em medidas. Sem
direção a seguir, apenas costura remendos na colcha de retalhos dos problemas
diuturnos, a indústria de autopeças sob controle nacional foi-se, assumida
pelas concorrentes estrangeiras. O índice de nacionalização se esvai, com
incalculável percentual hoje importado e, junto, a capacidade de competir – a
barreira tributária imposta aos veículos importados, não protege a indústria
local - apenas incentiva a falta de produtividade. Resultado, nossos veículos
só conseguem ser exportados com desvalorização do dólar.
Proposta de revitalização do mercado interno
teve proposta de Thomas Schmall, presidente da Volkswagen: renovação de frota.
Sem notícias.
A queda de importações, pela redução da
produção interna e vendas ao exterior, desbalanceou em US$ 8,6B. Para
facilitar, Governo Federal listou 111 grupo de peças para fazer veículos -
automóveis, caminhões, tratores -, reduzindo imposto de importação, da média de
15% para 2%. Debate-se, abrindo mão de receita, para manter o setor vivo. Não
fala em política setorial, objetivos a ser cumpridos, não se incentiva maior
desenvolvimento de componentes, nem se imagina porque, ou se explica o demérito
institucional de, dentre os maiores, ser o único país sem um reles veículo de
projeto e construção nacional. Coréia, China, Índia, começando depois,
conseguiram faze-los.
A política de refrear relações comerciais,
sem agilidade para fazer acordos internacionais, de manter o olhar curto,
focando no Mercosul, e a tentativa pelo Inovar-Auto, de aumentar a produção
local, mesmo com enorme conteúdo importado, gerou decisão de investigação
internacional no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Acusam o país de
praticar medidas protecionistas no citado programa. Se consideradas
procedentes, países autores poderão impor sobre taxação a produtos brasileiros.
Curioso, no rol dos reclamantes está a
Argentina, grosseira praticante dos mesmos atos.
Em matéria esportiva boas notícias. Ascendente
Filipe Nasr chegou à Fórmula 1, e Rubinho Barrichello, dela aposentado, foi
campeão em Stock Car. Gabriel Medina surpreendeu ganhando o inédito Mundial de
Surf. Jovem, mas safo. Não esperou a inexistente ajuda oficial das verbas
desaparecidas. Quis, preparou-se, foi e venceu.
Registro importante, o DVD Homem-carro,
sobre a criativa vida de Anísio Campos – piloto, empresário do
automobilismo, designer prolífico, pintor, escultor de
automóveis, amigo generoso, grande personalidade.
Antigomobilismo sofreu mudança em seus
principais eventos do Sudeste. O Encontro de Lindóia mudou-se para Campos do
Jordão, e quando se imaginava o evento perdido, outro preencheu o espaço. Agora
serão dois. Colecionadores de Alfa 2300, integrantes do grupo AlfaRomeoBR mostraram
fidelidade à paixão: fizeram périplo incluindo o espaço onde foi a Fábrica
Nacional de Motores e à da Fiat, onde o modelo foi produzido.
Como cultura do automóvel se expande em
participantes, criação de clubes, em estruturas de restauração, movimento
superior à inércia da Federação do setor.
Falta de reclamação e demanda por uma
política talvez indique seja a imobilidade o desejo de todos.
Boa novidade foi a aquisição pelos
passofundenses irmãos Azambuja, do imóvel onde operou o Museu Anos Dourados,
em Canela, RS. Ampliado o espaço, será reinaugurado expondo acervo próprio.
Detém a melhor coleção de nacionais.
Continua a novela do Museu Nacional
do Automóvel, em Brasília, peitando o governo federal na Justiça, para
impedir o Ministério dos Transportes remova o acervo para colocar no espaço,
como diz, “arquivo morto de órgão extinto.” A promessa do governo
do DF em levá-lo ao ocioso espaço do multi milionário estádio de futebol ficou
na promessa. A direção do Museu acredita na renovação do governo local
substituindo a inconsequência do PT.
Dificuldades consideradas apenas pelo ângulo
do prejuízo são apenas perdas, e estas devem ser assim lançadas na sua
contabilidade pessoal do último dia do ano. Perdeu, está perdido. Valem as
experiências.
Nossos
problemas econômicos não tem, como prioritariamente alegado pelos governos,
origem estrangeira. O problema está aqui, no despreparo, no foco diverso ao que
deveria ser feito, na sobrevivência do sistema, no enriquecimento ilícito. E
isto só mudará, e o país, o espetáculo, apenas melhorará se cada um dos
pagantes reclamar da qualidade do espetáculo.