Alta Roda nº 941/291 – 18 /05 /2017
Fernando Calmon |
Fica
difícil de acreditar que o Latin NCAP continue a ignorar a diferença entre
apontar falhas de segurança em testes de colisão e lançar confusão e dúvida em
razão de protocolos de testes malfeitos. O objetivo da organização parece ser o
confronto, em busca de fama, sem construir base propositiva adequada à
realidade da região.
São incomparáveis os esquemas técnicos montados pelo Euro NCAP e sua
improvisada contraparte latino-americana. A União Europeia (UE) sem fronteiras
obrigou a unificação de exigências de segurança, apesar de diferenças de padrão
de riqueza entre seus membros, que antes resultavam em carros ocidentais muito
mais seguros que os orientais. Foi um longo caminho de adaptação e conflitos
resolvidos pelo diálogo.
O Brasil não tem fronteiras livres com todos os seus vizinhos nem moeda única
nem livre mercado como na UE. Mas o Latin NCAP escolheu a picape Ford Ranger
básica, vendida na Colômbia, para “punir” o fabricante que nem comercializa
aquela versão no Brasil. Os Nissan March fabricados aqui e no México são
iguais, mas a confusão formada por protocolos mudados, sob escassa discussão
prévia com fabricantes, provoca dúvidas no consumidor e a perda de “estrelas”.
Simplificando: a temperatura é a mesma, mas o termômetro, diferente.
Como se faz na EU? Simplesmente não se submete a testes o mesmo carro com
protocolos diferentes antes de seis anos. Em abril do ano passado, o Euro NCAP
criou um mecanismo chamado Dual Rating (em português, Dupla Classificação). Lá
continuam colisões de modelos básicos de cada marca. Mas o fabricante pode
patrocinar outra rodada de testes com equipamentos de segurança adicionais e
conseguir galgar uma ou duas estrelas extras.
Segundo a própria entidade europeia, esse sistema “permite gradualidade nas
opções de compra, mantendo carros a preços acessíveis (grifo
da Coluna), mas ao mesmo tempo dando oportunidade aos consumidores de obter
importantes tecnologias de segurança”. Isso ocorre porque o custo alto da
proteção adicional é insuportável para todos os consumidores. E ocorre em zona
econômica de alto poder aquisitivo ante o Brasil e vizinhos.
Essa possibilidade, pelas regras da Latin NCAP, não melhoraria a nota zero do
Onix na proteção do passageiro adulto, mas talvez mudasse as três estrelas para
passageiro infantil. Em outros casos, como do Peugeot 208, poderia fazer
diferença, pois 90% dos modelos são comercializados com airbags laterais. O
Euro NCAP, por exemplo, faz testes de bancos infantis à parte, diferentemente
da forma mal executada nesta região.
O Latin NCAP costuma dramatizar seus relatórios com frases apelativas como
“grande desilusão” ou “ficamos decepcionados”. Sua associada local, Proteste,
propõe recall para retirar de circulação modelos reprovados no teste de colisão
em laboratório. Trata-se apenas de sensacionalismo barato e sem previsão em
qualquer legislação no mundo.
O Brasil, no entanto, avança, apesar de piruetas técnicas daquela “brilhante”
entidade. A norma NBR 16204 regulamenta teste de colisão lateral nos veículos e
entra em vigor em 16 de agosto de 2018. Entretanto, exigirá ainda
regulamentação pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
RODA VIVA
ENQUANTO em países centrais 95% dos carros ao final de
vida são reciclados, aqui mal chegam a 1,5%. Pensando que um dia esse cenário
pode mudar, a siderúrgica Gerdau criou sete estações móveis de reciclagem para
automóveis, motos e caminhões. Antes de encaminhar as estruturas metálicas para
o triturador, há completa descontaminação ambiental das carcaças.
RECÉM-APOSENTADO Ed Welburn, um dos mais famosos
chefes de estilo da GM, recebeu algumas condecorações. Em entrevista à Car and
Driver destacou o Cadillac CTS-V Coupé como seu favorito. Sem identificar o
modelo, apontou um em que frente, laterais e traseira pouco se entendiam e a
grade frontal parecia com a cara do Darth Vader. Desconfia-se do Pontiac Aztec.
COROLLA ALTIS se destaca pelo acabamento, espaço interno,
solidez e um câmbio CVT que simula troca de sete marchas ao apertar firme o
acelerador. Faltou modernizar o painel. Sistema de projeção de velocidade no
para-brisa tem aspecto improvisado. Versão esportivada XRS merecia, pelo menos,
rodas de aro 18, embora as de aro 17 tenham bonito desenho.
RESSALVA: Na coluna da semana passada, vendas de
veículos acumulados no primeiro quadrimestre de 2017 sobre igual período de
2016 tiveram queda de apenas 2,4%. O recuo de 17% se deu na comparação entre
abril e março deste ano em razão de menos dias úteis do mês passado.
Provavelmente em maio a base comparativa acumulada seja zerada.
SEGUNDO a Procondutor, especializada no mercado de
educação de trânsito e cursos de educação digital, são alarmantes os números de
flagrantes em todo o País de motoristas dirigindo sem carteira de habilitação.
Isso aliado à má formação teórica e prática colabora para o quadro péssimo de
acidentes em 90% das vezes causados por imperícia, imprudência e negligência.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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