Alta Roda nº 861/211– 05 /11 /2015
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Fernando Calmon |
Tradicional
discrição japonesa no 44º Salão de Automóvel de Tóquio –
aberto ao público até o próximo dia 8 – foi trocada por atitudes mais ousadas
dos fabricantes locais e uma aposta no hidrogênio como alternativa às baterias
dos carros elétricos. Na verdade, o governo do país incentiva fortemente essa
tecnologia cuja principal vantagem é tempo de abastecimento (três a cinco
minutos, contra horas de uma bateria), mas a infraestrutura, além de muito
cara, precisa ser construída a partir do zero.
O Japão acredita muito também na direção autônoma. Estima-se que será o
primeiro país a regulamentar seu uso em 2020, contando com a alta disciplina
típica dessa sociedade. Assim, uma das atrações da exposição é o elétrico
conceitual autônomo Nissan IDS, caracterizado pela versatilidade e um sistema
de volante revolucionário com manche retrátil para se adequar aos desejos do
motorista.
A Toyota pretende entregar 700 unidades do Mirai no mercado doméstico este ano,
primeiro carro elétrico com pilha a hidrogênio vendido em série, e no salão
apresentou uma evolução, FCV Plus, que no futuro permitirá ao próprio veículo
gerar eletricidade com ajuda de fonte externa de hidrogênio. A quarta geração
do híbrido Prius, bastante diferente da atual do estilo ao chassi, estará à
venda no Japão em um mês. A marca já não esconde que poderá fabricá-lo em
pequena escala no Brasil, com motor flex, como reflexo dos estímulos fiscais
anunciados agora pelo governo federal.
Outro carro bem interessante da Toyota, o crossover conceitual compacto C-HR,
tem linhas praticamente definitivas. Trata-se de um híbrido, mas em versão
convencional reúne boas chances de produção aqui, principalmente por ser
concorrente direto do Honda HR-V.
Por sua vez, a Honda apresentou o sedã médio-grande Clarity, elétrico também
com pilha a hidrogênio (autonomia recorde de 700 quilômetros), pouco maior que
o Mirai, disponível a partir do início de 2016. Mesmo com altos subsídios do
governo, seu preço será o dobro de um Accord. Entre as tecnologias de segurança
a fábrica mostrou um sistema capaz de desviar o carro de um pedestre distraído,
quando não for o caso de precisar frear automaticamente para evitar o
atropelamento.
Em evento à parte para jornalistas, a Honda demonstrou a forma evoluída de um
carro autônomo no seu campo de provas de Tochigi. Em um circuito demarcado de
cerca de 500 m com curvas de diferentes raios, um Accord adaptado se autoguiou
com maestria, acelerando e freando fortemente, além de fazer tangências
corretas. Cumpriu a tarefa sem o menor erro, ajudado por antenas em volta do
circuito e mapa de bordo de altíssima precisão. Pormenor: o aspecto externo do
carro não foi alterado, o que serviu para demonstrar o alto limite de interação
com a via.
A participação de marcas ocidentais na exposição é modesta, apenas 13 europeias
de cinco conglomerados. A Mercedes-Benz entrou no clima com seu conceito Vision
Tokyo, espécie de perua de grandes dimensões, cujo interior foi pensado em
função do melhor aproveitamento do tempo livre dos ocupantes, quando os carros
se autoguiarem em um futuro não tão distante em estradas adaptadas para este
fim.
RODA VIVA
MERGULHO de um milhão de veículos vendidos a menos
este ano, em relação a 2014, ajuda a aumentar as agruras que o Governo Federal
enfrenta para fechar as contas públicas. Somente em impostos diretos, perda de
arrecadação é de R$ 16 bilhões. Montante corresponde a 50% do valor total da
CPMF, caso esse imposto retrógrado passe a vigorar em 2016.
FÁBRICA inteiramente nova e pronta, mas sem produção.
Esta situação inédita na história da indústria automobilística brasileira
acontece nas instalações da Honda, em Itirapina (SP). A marca japonesa freou o
quanto podia o cronograma, mas a situação de mercado, que continuará em
declínio em 2016, forçou a decisão. Talvez no fim de 2016 produção comece com o
Fit.
PEUGEOT 308 2016 é o reflexo da situação do mercado,
mas também das limitações financeiras da marca francesa. O hatch médio-compacto
recebeu leves retoques de estilo e um câmbio automático mais moderno que
funciona particularmente bem com o motor 1,6 turboflex de 173 cv. Recebeu
equipamentos a preços subsidiados, que vão de R$ 69.990 a 82.990.
APESAR de fabricantes japoneses, como Honda e Toyota,
apostarem nas pilhas a hidrogênio para eletricidade a bordo em automóveis
elétricos, ainda há incerteza quanto à durabilidade, além dos desafios já
conhecidos. O ângulo cauteloso foi passado por Thomas Lukaszewiczm, da Ford
alemã, em seminário, em São Paulo. Mercedes-Benz é parceira da Ford nessas
pesquisas.
AERODINÂMICA impôs certas limitações ao desenho dos
carros durante muito tempo. Hoje, porém, esse conflito acabou e um automóvel
aerodinamicamente apurado pode ser até mais bonito do que outro em que o fator fluxo
de ar externo foi menos considerado. Afirmação a esta coluna de Edward Welburn,
vice-presidente global de estilo da GM, em Detroit.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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