Alta Roda nº 925/275 – 26 /01 /2017
Fernando Calmon |
Uma notícia pouco comentada neste início de ano foi a
redução de quase 40% no prêmio (preço) do DPVAT – Seguro de Danos Pessoais
Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres – também conhecido como
"seguro obrigatório". Ele é pago anualmente com a primeira parcela do
IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) ou sua cota única.
Infelizmente, muitas distorções surgiram com o tempo desde sua criação, em
1966. Foi uma iniciativa para tentar amparar as vítimas de trânsito desde o
pedestre até motoristas e ocupantes de todos os tipos de veículos em circulação
em cidade e rodovias, em qualquer ponto do País. A indenização é paga
independentemente da apuração de culpados.
Por seu caráter obrigatório, às vezes confunde-se com um imposto. Para
administrar esses quase R$ 6 bilhões de arrecadação anual (dados de 2015) foram
criados um pool e uma empresa chamada Seguradora Líder. Ao contrário do que se
pode pensar, nem todas as seguradoras fazem parte dessa união. Algumas de
grande porte simplesmente abandonaram o negócio.
O tempo acabou por criar algumas disparidades. O número de indenizações por
mortes se aproximou de 60 mil em um único ano. Por mais que as estatísticas
brasileiras tenham falhas e/ou subnotificações, trata-se de um volume de
dinheiro que exige bastante atenção. Para um prêmio, em 2016, de R$ 105,65, no
caso de automóveis (motos pagavam quase três vezes mais), morte ou invalidez
total permanente em acidente de trânsito levava a uma indenização de R$ 13,5
mil ou R$ 2,7 mil para despesas médico-hospitalares.
Há quem defenda que em vez do desconto no preço da apólice deveria ter sido
melhor aumentar o valor das indenizações. Também surgiram críticas sobre o fato
de o SUS (Sistema Único de Saúde) perder R$ 1,5 bilhão por ano, pois 45% da
arrecadação bruta do DPVAT segue direto para compensar as despesas dos
acidentados no trânsito junto à rede hospitalar pública.
Esses argumentos, no entanto, são fracos. No ano passado instalou-se uma CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) para tentar passar a limpo os valores
envolvidos e possíveis fraudes. Nas confusões típicas dessas comissões pouco se
apurou com provas cabais e existe até um movimento para nova CPI.
O tema, de fato, precisa ser mais bem estudado do ponto de vista técnico, sem
contaminação política. Mas a decisão de abater o prêmio do DPVAT é bem-vinda. O
proprietário do veículo deveria ter opção de contratar um seguro a favor de
terceiros. Por pouco mais de R$ 80, por exemplo, é possível obter uma cobertura
de R$ 100 mil para danos corporais e R$ 11 mil por morte ou invalidez
permanente. Se esse mercado crescesse, haveria mais concorrência entre as
seguradoras.
A imposição de um prêmio sem transparência devida, as possibilidades de golpes
e fraudes e o volume de arrecadação impressionante precisam mesmo de um
controle muito maior por parte do governo e da sociedade. É um equívoco partir
da premissa de que o valor desembolsado todos os anos, ao renovar o certificado
de licenciamento e registro, já foi “assimilado” pelos proprietários de
veículos.
Qualquer redução, por menor que pareça, precisa ser aplaudida. O bolso do
motorista tem fundo, sim.
RODA VIVA
TENDÊNCIAS na indústria automobilística são pendulares. Caso da estratégia
One Ford anunciada em 2007 para que os modelos da empresa fossem iguais em
todos os mercados. Agora o pêndulo volta. Altos custos envolvidos e avanço da
direção autônoma não permitirão mais esse alinhamento automático. Cada região poderá
ter estilo e equipamentos diferenciados.
GRUPO PSA investirá US$ 320 milhões (R$ 1 bilhão) na Argentina para
modernizar as arquiteturas atuais de seus carros médios-compactos (Peugeot
308/408 e Citroën C4 Lounge). Apesar de as vendas só começarem em 2019, será
grande avanço em relação aos modelos atuais. Brasil produzirá o C4 Cactus
utilizando a arquitetura do C3 atual com entre-eixos alongado.
CADA PAÍS exige caminho próprio quando uma marca quer se tornar mais
conhecida ou ganhar participação de mercado. Foi assim, por exemplo, com os
cinco e seis anos de garantia total no Brasil. O que falar então do México? A
Fiat tem dificuldades por lá. Não titubeou: oferece sete (!) anos de garantia
no Mobi. Trata-se apenas de táticas de marketing.
CÂMBIO automático do tipo CVT deu bom impulso nas vendas do JAC T5,
crossover chinês de linhas modernas e bom espaço interno. No entanto, há certo
descompasso entre motor e câmbio. Até a metade do curso do acelerador as
respostas são inadequadas, para não dizer pífias. Tecnologia CVT tem evoluído,
mas neste caso falta maior desenvolvimento.
PEDIDA CPI na Câmara Federal para investigar radares de trânsito. De
autoria do deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), foi aprovada com 186
assinaturas (15 a mais que o necessário). Não é o caso de demonizar esse
equipamento eletrônico, mas o uso desvirtuado. Estudos técnicos falhos,
contratos à base de comissão por multa e outras mazelas banalizaram tudo.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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