Equipes ainda indecisas sobre novos métodos
Bernie vira presidente emérito.
Bernie Ecclestone fora da F-1 sempre foi a maneira
mais fácil de fazer alguém lembrar de 1º de abril, data mundialmente conhecida
como o Dia da Mentira. Mencionar essa possibilidade no começo do ano soa até
como as tendências de marketing adotadas pelos supermercados brasileiros, que
durante o carnaval ensaiam as primeiras ofertas de ovos de Páscoa. Desta vez,
porém, é oficial, carimbado e tem firma reconhecida: o grupo Liberty Media,
novo proprietário da categoria, não está disposto a perder tempo para impor um
novo padrão de trabalho e anunciou ontem que o cargo do veterano veterano
inglês agora é ocupado por Chase Carey. Ecclestone, de 86 anos, assume a
posição de “presidente emérito”, algo bem distante daquela ocupada desde
que começou a criar seu império no início dos anos 1970. Ele mesmo ainda não
sabe as atribuições de sua nova posição, de acordo com suas palavras à revista
alemã Auto Motor und Sport:
“Não sou mais o chefe da empresa, meu lugar agora é
ocupado por Chase Carey. Minha nova posição é algo como presidente honorário,
embora eu não saiba o que isso significa.”
Já houve tentativas de eliminar Bernie da equação de
negócios do universo Fórmula 1, tanto no lado administrativo (nas décadas de
1970/80 o então presidente da Federação Internacional do Automóvel, Jean-Marie
Balestre era o adversário número 1) quanto financeiro, algo mais recente. Na
briga contra a FIA chegou-se a anuciar a criação da WMSF, ou Federação Mundial
do Esporte a Motor conforme a sigla em inglês. Mais recentemente Ecclestone
teve que pagar multas milionárias para manter-se à frente quando o fundo de
investimentos CVC Partners assumiu o controle acionário da categoria. Desta
vez, 66 anos após sua estréia como piloto, em Brands Hatch, é para valer.
O estilo do inglês sempre teve como único foco obter
lucros cada vez maiores e deixar em segundo plano os aspectos técnico e
esportivo que muitos insistem em enxergar como a razão de existência da F-1. Se
nos anos 1950 havia interesse das fábricas em usar a categoria para promover e
desenvolver tecnologias, a partir da década seguinte esse interesse
praticamente desapareceu à exceção de fabricantes de pneus e uma ou outra marca
de automóveis. Durante um bom tempo o mundo dos Grandes Prêmios foi quase que
exclusivamente uma opção de entretimento que reunia elites, aspirantes a
celebridade e alguns pilotos de destaque. Para cada campeão mundial ou vencedor
de Grande Prêmio que existiu – pilotos em sua essência -, havia sempre um
múltiplo de milionários e diletantes que completavam os grids. Não fosse isso
os construtores não teriam vendido tantos automóveis a equipes particulares e
aos mecenas de plantão. A partir de 1980 grandes marcas entraram e saíram da F-1
ao sabor dos ventos soprados pela situação econômica vivida por cada uma.
Isso não depõe contra a categoria, pilotos, construtores
ou mesmo Ecclestone, que enxergou na falta de liderança dos construtores uma
forma de ganhar muito dinheiro e gerar riqueza para todos eles, nem sempre de
forma equilibrada, diga-se de passagem. Esses ganhos vieram da venda dos
direitos de transmissão por TV e rádio, taxas cobradas de promotores locais,
publicidade nas pistas, venda de espaços VIPs e, nos últimos tempos, de
governantes ansiosos por reposicionar seus países no mercado internacional de
turismo e opções de investimento. De lado ficaram a tradição e a atenção ao
público aficionado como aquele que acampava em autódromos; ou seja, esqueceram
que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco.
Ao investir algo além de US$ 8 bilhões no negócio F-1 a
Liberty Media não tem dúvidas que recuperar esse investimento exigirá um
trabalho ainda mais impressionante. Tanto quanto pela fama de
centralizador, Bernie também será lembrado por capacidade incrível de trabalho.
Para dar conta do recado Carey anunciou ontem a contratação de dois pesos
pesados em suas especialidades para dividir as tarefas: Ross Brawn será o
responsável pela área esportiva e Sean Bratches (ex-ESPN) pelas operações
comerciais.
Ideias, projetos, projetos para tanto não faltam: cortar
o bônus anual que a Ferrari recebe por ser Ferrari – Ecclestone sempre nutriu
admiração pela marca e, principalmente, por seu fundador Enzo Ferrari -,
transformar cada etapa do Mundial de F-1 em um evento semelhante ao Super Bowl
americano, a final do campeonato de futebol norte americano – sim, o futebol
“deles”-, prestigiar os circuitos mais tradicionais do calendário, que perderam
espaço para países como Azerbaijão, India e Turquia (os dois últimos já
eliminados do calendário), explorar mercados mais interessantes, como Nova
Iorque e Los Angeles...
A lista é longa e no meio do caminho há muitas pedras,
não apenas uma, entre elas aquela que pode entrar no sapato dos novos
administradores: tornar as equipes acionistas do negócio. A ideia da Liberty
para manter os times motivados e envolvidos no negócio ainda não convenceu os
executivos dos principais construtores a aderir à proposta, nem mesmo
oferecendo os papéis por um preço subsidiado. Quem sabe porque essas ações
não tenham direito a voto, quem sabe porque essas equipes fabricam carros de
corrida e não são companhias de investimentos, quem sabe...? Se não é fácil
mudar hábitos e padrões de comportamento em qualquer empresa mesmo
quando toda a força de trabalho canta no mesmo tom, imagine num coral onde
a globalização começa pelo número de nacionalidades envolvidas desde os
camarins onde se fabricam os carros de corrida, passando pelos artistas e
chegando ao local onde o picadeiro é montado...
Manor, esperança é a última que morre
Há meses a Manor Grand Prix ocupa a UTI da F-1, mas
o time inglês ainda mantém bem ativos os sinais vitais: o dinheiro que tem em
caixa pode garantir a presença da equipe primeira sessão de testes de
pré-temporada, entre os dias 27 de fevereiro e 2 de março. Isso, porém, só vai
acontecer se aparecer alguém disposto a bancar a temporada 2017 do time antes
do hora marcada para o último suspiro, dia 31 de janeiro.
Segundo o site da BBC, o empresário Ricardo Galael
(proprietário da KFC e várias outras empresas na Indonésia) estaria interessado
em investir, até mesmo adquirir a operação F-1 da Manor. Sean, o filho de
Galael, disputou a GP2 no ano passado pela equipe Campos e seria um dos motivos
desse interesse. O nome de Ron Dennis também foi ventilado como possível
participante de um consórcio para salvar a equipe. Caso o negócio prospere o
time inglês disputaria as primeiras três provas da temporada com o carro de
2016 e somente no GP da Rússia (Sochi, 30 de abril) estrearia o modelo
construído de acordo com o regulamento deste ano, que permite monopostos e
pneus de maiores dimensões.
Começa temporada paulista
O autódromo de Interlagos recebe neste fim de semana sete
categorias para disputar a rodada de abertura do Campeonato Paulista de
Velocidade no Asfalto, com treinos na sexta-feira e competições no sábado e
domingo. As categorias admitidas no programa que você pode ver aqui são
F-Inter, F-1600, F-Vee (prova extra-campeonato), Força Livre, Classic Cup,
Marcas e Pilotos e Clássicos de Competição.
WG
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