Alta Roda nº 744/95– 15/08/2013 |
Fernando Calmon |
Frase curta do
presidente da Fenabrave, Flavio Meneghetti, refletiu simples desabafo durante a
abertura, semana passada em São Paulo, do 23º Congresso anual da entidade que
engloba mais de 7 mil concessionárias do País. Cerca de dois terços delas focam
seus negócios em automóveis e comerciais leves.
De fato, existe tendência de demonizar os motoristas pela maior parte dos
males, em especial o trânsito, das cidades. Poucos falam é que todo o setor
automobilístico representa em torno de 5% do PIB (soma de tudo que um país
produz), mas responde por 12% da arrecadação total de impostos. Em outros
termos, os veículos geram recursos bem mais do que suficientes para
investimentos em transporte de massa sobre trilhos, infraestrutura viária e
ferramentas modernas de gerenciamento de trânsito.
Basta um exemplo. Fortaleza, capital do Ceará, tem 55% de sua rede de semáforos
centralizada e controlada em tempo real. Em São Paulo, maior e mais rica
capital do País, não chega a um terço e boa parte sem manutenção. Para melhorar
a fluidez não adiantam só medidas oportunistas, como fez a prefeitura
paulistana ao criar corredores para ônibus em avenidas apenas pintando faixas
no asfalto. Prioridade para transporte coletivo obviamente deve existir, mas
sem improvisação ou avaliação incorreta de custo-benefício. Castigar quem paga
a conta está longe de resolver a situação.
Para sorte de quem faz política demagógica no trânsito, o dinheiro dos impostos
continuará a fluir a rodo nos próximos anos pelo que se viu e ouviu no Congresso
e Exposição Fenabrave. No entanto, há preocupações de curto prazo como o que
acontecerá em 2014, quando estímulos fiscais provisórios terminarem em 31 de
dezembro próximo. Exigências legais de segurança (airbags e freios ABS) terão
impacto nos custos de modelos de entrada, a partir de 1º de janeiro próximo.
Na realidade, a forte concorrência atual e nos próximos anos ajudará a segurar
preços reais (descontada a inflação). Hoje, 14 marcas produzem no Brasil; em
2017 serão 23. Segundo o economista Ricardo Amorim, em 15 anos, modelos de
entrada passaram do equivalente a 55 salários-mínimos (SM) para menos de 40 SM,
considerada carga fiscal cheia. Poder aquisitivo maior também explica um
fenômeno nos últimos quatro anos. De acordo com Alexandre Abelleira, da VW,
enquanto preços médios de venda subiram de R$ 34.000,00 para R$ 42.000 (carros
mais equipados), a média dos mais baratos caiu de R$ 28.000 para R$ 26.700.
Lidar com massa de informações é um desafio para quem compra e quem vende. Até
12 fontes estão disponíveis para o consumidor, desde dicas de um conhecido às
mídias tradicionais e digitais, além da própria concessionária. Facilidades
criadas pela internet representam uma ferramenta de enorme valor: 70% dos
compradores utilizam mecanismos de busca eletrônica, dos genéricos aos
específicos.
Por outro lado, veículos seminovos terão papel ainda mais relevante nos
próximos anos. Concessionárias e fabricantes deverão ampliar ações específicas
e ofertas. No total, usados representam três vezes mais que os novos em vendas
anuais.
RODA VIVA
NOVO Focus argentino
chega no final de setembro e será o primeiro produto com motor flex de injeção
direta de combustível (mais potência, menos consumo). Potência do 2-litros
estará na faixa dos 170 cv com etanol. Dois projetos estudados (monovolume BMax
e versão de 7 lugares do EcoSport) foram descartados, mas SUV Kuga continua nos
planos.
HONDA investirá 1 bilhão de reais em outra
fábrica no interior de São Paulo. De Itirapina, a 200 km da capital, sairá o
SUV compacto baseado na arquitetura do Fit/City exibido no Salão de Detroit
este ano, ainda como modelo-conceito. Essa nova unidade também produzirá
compactos de entrada, hatch e sedã, que estão em desenvolvimento por equipes do
Japão e do Brasil.
RENAULT aproveitará sua cota de 9.600
unidades/ano (sem superIPI) basicamente para importar o SUV compacto Captur
(início de 2014). Cupê Megane R.S. também virá porque há nicho a descoberto.
Além do motor turbo de 2 litros/265 cv, o modelo tem sofisticação rpara quem gosta de acelerar: diversos ajustes finos, acelerômetro e cronômetro.
APESAR de carros elétricos contarem com
apenas 0,2% das vendas mundiais (2012), eles permitem acelerações instantâneas
e muito rápidas em uso urbano. De 30 a 70 km/h, por exemplo, o BMW i3 (de 170
cv) crava 2,7 s e acelera de 0 a 60 km/h em 3,7 s. São números equivalentes a
de um Mini Cooper S que se destaca pela agilidade acima da média.
FORNECEDORES já executam testes avançados de
motores (consumo e emissões) a fim de atender ao programa Inovar-Auto. Magneti
Marelli investiu R$ 30 milhões no laboratório de Hortolândia (SP), agora apto a
ciclos automáticos nos dinamômetros. Seu centro técnico tem praticamente a
mesma área das instalações da matriz italiana, em Bolonha.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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