Por: Renato Pereira - www.truecar.blogspot.com.br - Especial para Autos&Máquinas
É, houve um tempo, nem tão
absurdamente distante assim, em que havia fabricantes de automóveis, e esses
fabricantes faziam questão absoluta de que seus veículos fossem muito
diferentes dos concorrentes. As décadas de 30,40,50 e 60 foram, positivamente,
as mais emblemáticas com relação principalmente ao design, e era sempre
possível distinguir-se a distância o que era um Plymouth, um Dodge, um Ford ou
um Chevrolet, um Fiat, um Renault, um Mercedes-Benz, um BMW, um Aston Martin um
Jaguar etc. São apenas alguns exemplos – senão eu precisaria de 5 páginas A4
para citar fabricantes – de uma época em que havia estilo; é certo dizer
que a industrialização, os volumes atuais, as necessidades, a globalização e
mais mil rótulos e desculpas justifiquem uma certa massificação em todos os
setores da indústria. Mas é errado afirmar que esses rótulos e desculpas
justifiquem a absoluta falta de identidade dos veículos atuais. A ideia geral
que se tem é de que hoje em dia existe um estúdio de design, provavelmente na
China, pra custar bem mais barato, que desenvolve projetos em linha de
produção, os arquiva por carroceria (sedan, hatchback, pick-up etc.) e vão
aplicando as logomarcas de acordo com a montadora-cliente...
Desde 1922, os ingleses William Lyons
e William Walmsley se empenhavam na tarefa de criar carros o mais próximo
possível da perfeição, e a marca SS Cars Ltd foi ficando cada vez mais
respeitada em todo o Reino Unido em particular e no mundo em geral. Foi em 1935
que um de seus modelos utilizou pela primeira vez o nome que se tornaria
posteriormente a marca oficial da empresa, o SS Jaguar 2,5 Liters. O nome SS
Cars Ltd. esteve presente em todos os modelos fabricados até 1945 quando,
fugindo da conotação desfavorável proveniente da sigla SS (SchutzStaffel), que eternizou o exército de elite de
um austríaco louco na Alemanha, os carros (e a fabrica) foram rebatizados para Jaguar Cars Ltd, E podemos dizer que essa é uma
das chamadas “ironias do destino”; a Alemanha pós-guerra estava pobre, falida,
endividada e suas fábricas transformadas em destroços. Mercedes-Benz, BMW, e
todas as marcas que se transformaram na atual Audi, estavam as voltas com
tentar voltar a produzir automóveis, já que passaram longos anos focados na
indústria bélica. A Volkswagen, nascida por ordem do mesmo austríaco louco,
continuava se empenhando na produção do rejeitado Fusca (os Aliados recusaram
os espólios da fábrica, porque julgaram que o carro era feio, barulhento e
ninguém iria querer um) e, tanto a elite dominante estrangeira que dominou o
país, quanto os próprios alemães que enriqueceram rapidamente através de
atividades ilegais e criminosas (mercado-negro, falsificação e venda de
documentos etc) procuravam, principalmente na Jaguar Cars Ltd., os automóveis
de luxo e alto desempenho com que sonhavam. Isso, logicamente, na República
Federal da Alemanha, no lado Ocidental, porque na República Democrática Alemã,
o lado Oriental dominado pela União Soviética comunista, somente os membros do
governo podiam ter um carro de verdade, importados da “outra” Alemanha e da
Rússia.
O Jaguar XK 150 S foi, sem dúvida, um
dos principais objetos de desejo de 100 entre 90 novos-ricos na Alemanha, e de
todas as pessoas de bom gosto – com dinheiro na conta bancária – de todo o
mundo. Criado em 1957 e produzido até 1961, o modelo teve a árdua missão de
superar seu antecessor, o XK 140, tarefa que cumpriu à risca e rapidamente, nas
versões FHC (coupé capota fixa), DHC (coupé capota removível), e OTS
(roadster); vale lembrar que nenhuma das versões foi idealizada pensando em
transportar mais de dois ocupantes, apesar de dois mini-assentos estarem
montados nas versões FHC e DHC, e totalmente eliminados no OTS.
O estilo e as linhas de sua carroceria lembravam apenas vagamente os
modelos XK120 e XK140, já que o XK150 S apresentava traços “pessoais”
marcantes. O para-brisa único substituiu o duplo com divisão, comum até então.
As linhas laterais ficaram mais altas, o capô do motor foi alongado, e é
indiscutível o bom gosto e a elegância de toda a carroceria com sua fluidez,
limpeza e até a traseira, área sempre negligenciada pelos departamentos de
design até hoje, combinava perfeitamente com todo o conjunto. Internamente,
qualidade e requinte eram as palavras de ordem. Painel completo, com acabamento
em couro, as portas com perfil mais fino, aumentando o espaço interno, tudo foi
pensado para proporcionar o máximo possível de luxo e beleza no novo Jaguar.
Inicialmente, o XK 150 S era impulsionado pelos motores seis cilindros
em linha, 3,4 litros, DOHC, com 180 Cv de
potência, porém uma leve alteração em sua arquitetura rapidamente elevou sua
potência para 210 Cv, em 1958 um novo retrabalho elevou essa potência para 250
Cv e, em 1960, o XK 150 S ganhou um novo motor, também 6 cilindros em linha,
também DOHC, mas aumentado para3,8 litros e 260 Cv, e o carro
com 4.496mm de comprimento, 1.580mm de largura e quase 1/5 tonelada de peso
atingindo 217 Km/h de velocidade máxima.
A produção do Jaguar XK 150 S foi encerrada em outubro de 1960, e suas
vendas totalizaram 9.382 unidades, sendo 4.445 FHC (coupé capota fixa), 2.672
DHC (coupé capota removível) e 2.265 OTS (roadster).
Colecionadores de automóveis de todo
o mundo estão sempre à procura de um exemplar de qualquer versão do Jaguar XK
150 S. Modelos perfeitamente restaurados, tão impecáveis quanto no dia em que
saíram das linhas de montagens, quando leiloados atingem valores que variam
entre € 150.000 a € 190.000.
Depois de diversas fusões e
separações com outros fabricantes, em 1989 a montadora
inglesa foi comprada pela Ford e, desde dezembro
de 2012, a Jaguar
Cars faz parte do grupo Jaguar Land Rover Automotive PLC, uma subsidiária
da montadora indiana Tata Motors.
Renato Pereira – blogtruecar@gmail.com
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