Alta Roda nº 916/266 – 25 /11 /2016
Fernando Calmon |
Poucos atentaram, pelo fato de o Salão do Automóvel de
São Paulo ter drenado muito da atenção de todos. Mas no penúltimo dia da
exposição, em 19 de novembro, completaram-se seis décadas do primeiro carro
fabricado no Brasil sob as regras de nacionalização (por peso) anunciadas em 16
de maio de 1956. Era uma DKW F91 Universal, station de origem alemã, duas
portas, ainda com índice quase simbólico de componentes produzidos em São Paulo
pela Vemag, empresa de capital nacional. Batizada depois de DKW Vemaguet, teve
apenas 156 unidades montadas até o fim daquele ano.
Sempre existirá a polêmica sobre se o Romi-Isetta foi o primeiro automóvel de
produção brasileira. Modelo revolucionário para a época, com apenas uma porta e
sem espaço para bagagem, transportava só dois passageiros e esta limitação (não
o número de portas) o deixou de fora dos incentivos do governo federal. O
microcarro não convencional, de fato, saiu na frente, em 5 de setembro do mesmo
ano. Sua relevância histórica, porém, continua relativa.
O crescimento da indústria automobilística foi lento, pois dependia do poder
aquisitivo dos compradores e das condições econômicas do País, entre elas a
dificuldade com o processo inflacionário e a opção governamental de taxar os
automóveis em nível inexistente no mundo. Apenas em 1978 conseguiu romper a
barreira de um milhão de veículos produzidos por ano.
Como costuma ocorrer, houve ciclos bons e ruins do mercado. A década de 1990,
porém, foi marcada por uma segunda fase de expansão, pois até então o mercado
de veículos era dividido pelas três marcas pioneiras – Ford, Chevrolet e
Volkswagen –, além da Fiat, estabelecida em 1976.
Por problemas gerados pela crise do petróleo de 1973 e falta de divisas, o
governo lançou o Proálcool em 1975 e no ano seguinte suspendeu a importação de
qualquer veículo. Somente em 1990 automóveis importados voltaram ao País.
Existe a tendência de apontar esse marco com mais importância do que realmente
teve.
Outras três decisões, somadas, alcançaram peso bem maior: fim da superprotecionista
lei de informática e do controle de preços, além do programa do carro popular
de 1993 e das câmaras setoriais que destravaram o mercado interno. Um programa
de atração de novos investimentos na Argentina levou o Brasil a criar também
incentivos. Chegaram Renault, Honda, Toyota, Mercedes-Benz e Peugeot-Citroën.
O país precisou de 26 anos para ultrapassar a barreira de 2 milhões de veículos
produzidos anualmente, em 2004, sem contabilizar unidades desmontadas para
exportação. Apenas quatro anos depois, já passávamos dos três milhões. Havia
sinalização de que este ano deixariam as linhas de montagem mais de 4 milhões,
mas com sorte vamos retornar ao patamar de 2004.
A crise atual é a terceira de alta gravidade pela qual passa a agora sexagenária
indústria automobilística. Ao longo desse período, marcas saíram e voltaram,
produzindo ou importando, e as nacionais não sobreviveram. O potencial de
crescimento, no entanto, continua intacto. Com a quinta maior população
mundial, voltaremos em ano ainda incerto a ser o quarto mercado mundial e, quem
sabe, quinto ou sexto produtor.
RODA VIVA
NOVO EcoSport finalmente chegará aos Estados Unidos no fim de 2017, depois
de mais de uma década de negativas. Modelo apresentado agora no Salão de Los
Angeles é igual ao que será fabricado aqui no segundo trimestre do próximo ano,
mas manterá estepe externo. Voltará o câmbio automático convencional no lugar
do atual, automatizado de duas embreagens.
ORGANIZAÇÃO Internacional de Construtores de Automóveis (Oica) revelou
pesquisa indicando que 67% dos entrevistados entendem o primeiro carro como uma
das principais conquistas da vida. Assim, sugeriu certa imprecisão de outras
pesquisas sobre o aparente desinteresse dos jovens em dirigir. Haveria um
momento em que a necessidade ou o desejo falaria mais alto.
IMPRESSIONA ao volante como carro, tem estilo de station com maior altura
de rodagem (21 cm), motor de seis cilindros horizontais opostos de 260 cv e
tração 4x4 permanente. Subaru Outback acrescenta espaço interno e para bagagem
que deixa alguns SUVs com inveja. Desenho se apresenta conservador e algo
generalista. Precisaria também perder algum peso.
PREVISTO desde o lançamento, Renegade 2017 recebe agora o mesmo motor de
1,8 litro flex da picape Toro. O ganho foi de 7 cv – agora 139 cv – e o torque
teve acréscimo simbólico de 0,2 kgf.m. Só agora dispensou auxílio de gasolina
em partida com etanol em dias frios. Há ainda modo Sport por meio de botão no
painel. Preços subiram: R$ 79.490 a 136.990 (diesel).
MAIOR parte da cota de importações da JAC será de
agora em diante do T5. O crossover chinês recebeu câmbio automático CVT de seis
marchas virtuais e, por tempo indeterminado, terá o mesmo preço da versão de
câmbio manual: R$ 69.990. Este é o modelo previsto para montagem em Camaçari
(BA).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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