Alta Roda nº 890/240 – 26 /05 /2016
Ferrando Calmon |
No momento em
que o Brasil se volta, finalmente, a investir em parcerias público-privadas
para desatar o nó de uma infraestrutura de altíssima deficiência cabe analisar
alguns aspectos. Nada menos de 80% das estradas brasileiras (cerca de 1,3
milhão de quilômetros no total) não são pavimentadas. Essa proporção só se
encontra em países muito pobres.
Trata-se de referência bastante desfavorável para uma nação que tem a quarta a
maior superfície terrestre contínua do planeta (quinta, com Alasca incluído
como área descontínua dos Estados Unidos), a quinta população, um Produto
Interno Bruto (PIB) que o coloca em sétimo (tendência de cair) e um mercado
interno de veículos que já foi o quarto do mundo (hoje em sétimo e em queda).
Nada justifica uma rede asfaltada tão ridiculamente baixa dentro do conceito
“rodoviarista” de transporte de bens. Cerca de 60% das cargas viajam por
caminhão e esse porcentual não está muito acima de alguns países europeus e
mesmo dos Estados Unidos.
Só mais recentemente se abriu a possibilidade de, além de conservação do piso,
as concessionárias duplicarem as pistas e mesmo construírem novas vias. Outra
realidade é a incapacidade do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) de
controlar a frota real circulante. Se esse número fosse pelo menos próximo do
real, os interessados em infraestrutura estariam em condições de estimar o
crescimento do tráfego ao longo do tempo, pois os contratos estabelecem, em
geral, 30 ou mais anos de concessão.
Essa falha de planejamento ocorre por exigências exageradas para que motoristas
deem baixa no veículo ao fim de sua vida. Então são abandonados nas ruas (há
multa de R$ 16 mil na cidade de São Paulo, mas provavelmente ninguém a pagou
até hoje), em galpões, deixados ao relento no campo ou mesmo jogados em rios e
represas.
Saber, porém, quantos modelos, de que marca e tipo ainda circulam são tarefas
essenciais para produção de componentes de reposição. Por isso tanto o
Sindipeças quanto a Anfavea publicam estudos há mais de dez anos. Em 2015, a
primeira entidade estimou a frota brasileira (sem contar motos) em 42.587.250
unidades. A segunda chegou a números bem próximos. Algo como 35% abaixo do
total divulgado pelo Contran e Detrans. Refletem apenas emplacamentos originais
(via Renavam) e um número quase irrelevante de baixas espontâneas de registros:
apenas 1,8 milhão de unidades entre 1990 e 2015. A maioria, certamente, de
seguradoras com Perda Total (PT) em acidentes.
Agora uma terceira fonte também estuda a frota. A filial brasileira da
consultoria Jato Dynamics desenvolveu processo para cálculo de veículos em
circulação dividindo o mercado em 15 segmentos e analisando, caso a caso, cada
um deles. Estabeleceu curvas específicas de descarte de produtos por
impossibilidade mecânica de rodar ou consertar, roubos (com desmanches) e PT. A
empresa estima, em 2014, 38.564.843 veículos, uns 9% abaixo das referências
Sindipeças e Anfavea.
Em razão dos maus resultados de vendas desde 2015 é provável a frota brasileira
real diminuir, pois entrariam no mercado menos carros e veículos pesados do que
os que deixam de circular. As futuras concessionárias de estradas que fiquem de
olhos abertos.
RODA VIVA
NISSAN deu boa arrumada no meio ciclo de vida do
Sentra 2017. Frente modernizada e adição de itens de conforto e conveniência já
na versão de entrada somam-se a comando elétrico no banco de motorista e
alto-falantes Bose. Agora deixou de existir câmbio manual: todos têm o
automático CVT. Melhorou economia de combustível e a 120 km/h motor sussurra a
2.000 rpm.
QUANDO se exige mais do acelerador, mesmo na posição
“L” do CVT, resposta é um pouco lenta: rotação de torque máximo (20 kgfm) fica
apenas 300 rpm abaixo da de potência máxima (140 cv, pouco para um 2-litros
aspirado). Turbo seria ideal. Os preços aumentaram 7%, justificados por mais
equipamentos, e são competitivos: R$ 79.990 a R$ 95.990.
SOFISTICAÇÃO e equipamentos exclusivos estão no novo
BMW 740 Li M Sport, sedã de alta gama e referencial da marca alemã. Pretende
vender até 100 unidades/ano ao preço único de R$ 709.950. Nível de conforto
para o passageiro do lado direito do banco traseiro é ímpar. Alguns itens, de
tão avançados, exigem homologação específica no Brasil e não vêm agora.
VOYAGE 2017 não arrancou tão bem como o Gol em vendas.
Mas a repaginada na parte frontal e o novo painel interno (laterais continuam
iguais e também a parte traseira do sedã compacto) podem lhe dar mais fôlego.
Impressiona bem o desempenho do motor 3-cilindros/1 litro. No uso em cidade o deixa
bem próximo ao 4-cilindros e com vantagem em economia.
OBSTÁCULOS no asfalto para sinalizar vias, como os
temidos tachões ou “tartarugas” e mesmo inocentes “sonorizadores”, estão
proibidos por resolução do Contran desde 2009. Mas ainda se podem ver nas
cidades e estradas em desacordo com a lei. Afora os danos em pneus e suspensões
dos veículos, essas protuberâncias são muitas vezes causas de acidentes e danos
no asfalto.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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