Alta Roda nº 889/239 – 19 /05 /2016
Fernando Calmon |
O
mercado americano de veículos continua a reservar surpresas, como o
impressionante poder de recuperação depois do mergulho para além do fundo do
poço com a crise econômica de 2008/2009. Alguns chegaram a vaticinar que nunca
mais o recorde anual de 17 milhões de unidades seria repetido. Enganaram-se. Em
2015 foram 17,5 milhões de veículos leves e pesados e este ano caminha para 18
milhões. Relatório do Bank of America Merrill Lynch, da semana passada, prevê
que até 2018 sejam 20 milhões, embora outros analistas sustentem que o ponto de
saturação esteja iminente.
Automóveis de passageiros (hatches e sedãs convencionais), de fato, perderam
espaço para a soma de SUVs, crossovers, picapes e vans (nessa ordem). Mas ainda
respondem por pouco mais de 45% das preferências dos compradores. Os três
modelos mais vendidos continuam sendo picapes, pela oferta concentrada de
modelos com mesmo nome. Há enorme fracionamento entre automóveis, porém
aconteceu algo interessante no mês passado. Um compacto (na classificação deles)
apareceu pela primeira vez no quarto lugar geral e líder entre automóveis.
Trata-se do novo Civic, que pegou embalo depois da décima geração lançada no
último trimestre de 2015. No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, o
Toyota Camry – médio para eles – continua a liderar, mas o desempenho do Honda
é surpreendente. Deixou o Corolla para trás, como já acontecera em 2012 e 2013,
e deve se repetir lá em 2016.
Dentro de três meses este Civic estará também no Brasil. No entanto, há
diferenças sutis em relação ao mesmo modelo de topo vendido nos Estados Unidos,
que a Coluna pôde avaliar em Los Angeles, Califórnia, e o que será fabricado
aqui. Cabe ressaltar que a reformulação total – primeira executada pela
American Honda – inclui crescimento em todas as dimensões internas, externas e
ainda do porta-malas (passou para 530 litros), ponto fraco das duas últimas
gerações. O estilo é ousado, como nunca antes, e apesar de a altura ter
diminuído em 2 cm há mais espaço para cabeça no banco traseiro.
Pormenores do interior distinguem bem os pensamentos entre o consumidor
americano e o brasileiro. Nos EUA é possível vender versões mais despojadas
porque é “pequeno” para os padrões de lá, embora o Civic atual tenha porte
próximo ao do Accord de uma década atrás. Na versão Touring, a mais cara, há
porta-revistas apenas no encosto do banco dianteiro do passageiro e a tampa do
porta-luvas não dispõe de abertura amortecida. Para o Brasil esses itens serão
“corrigidos”. Fora isso, o carro é exatamente igual.
O motor de quatro cilindros 1,5 L turbo, de 177 cv e 22,4 kfgm, mostra
desempenho de um aspirado de 2,2 L, só que mais econômico no consumo de
combustível. A caixa de câmbio automática CVT, com marchas virtuais, tem
respostas próximas do padrão mais aceito aqui, de “trocas” rápidas e bem
definidas. Campo de visão à frente melhorou significativamente. A
dirigibilidade também, graças à nova caixa de direção eletroassistida de
relação variável, bitolas maiores, suspensão traseira multibraço retrabalhada e
buchas reprojetadas. O Civic ganhou em conforto de marcha e absorção de
irregularidades do piso.
RODA VIVA
NOVA fábrica de motores da Toyota, em Porto Feliz
(SP), além de ser a mais moderna do grupo no mundo, tem flexibilidade para
produzir tanto motores 1,3 e 1,5 L do Etios como os do novo Corolla. Este chega
ao mercado dentro de no máximo 18 meses. Usinagem e fundição estão sob o mesmo
teto em posições vizinhas e com menor poluição possível.
ENQUANTO o País esteve focado no processo de
impeachment da presidente da República na Câmara dos Deputados, no mês passado,
uma diligente Comissão Especial aprovou projeto de lei, de 2011, para liberação
de automóveis a diesel. Relator Evandro Roman ignorou problemas ambientais,
inclusive de CO2. Em plenário, será difícil de aprovar nos termos propostos.
INDÚSTRIA automobilística japonesa avançou na
consolidação inevitável de suas nove marcas de veículos. Nissan adquiriu
participação controladora (34%, de início) na Mitsubishi. Isso fortalecerá a
aliança Renault-Nissan mundialmente. Por coincidência, o conglomerado Fuji
decidiu mudar de nome para Subaru Corporation e assim revigorar a divisão de
automóveis.
CITROËN terá identidade visual e mesmo alguns produtos
bastante diferenciados da Peugeot. O grupo franco-chinês PSA anunciou essa
estratégia como definitiva e se soma à submarca DS. No Brasil, hatch compacto
C3 receberá o novo motor de três cilindros, 1,2 L, Pure Tech, que estreou no
208, logo no início de junho. Algumas unidades já estão em concessionárias.
PRODUTORES brasileiros de couro, representados por
curtumes, apertam o cerco sobre fabricantes e concessionárias contra o termo
couro sintético ou ecológico. Dificulta para o consumidor identificar o produto
correto porque visualmente são semelhantes. Algumas marcas usam os dois
materiais nos bancos e nem todos percebem as diferenças táteis e de qualidade.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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