ACIDENTES ACONTECEM
Wagner Gonzalez |
O
entrevero entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton vai muito além da quebra de uma
invencibilidade de sete corridas do primeiro, a manobra mal calculada do
segundo ou o fato que pela primeira vez desse o GP do Cingapura de 2015 que
nenhum piloto da Mercedes sobe ao pódio de uma etapa do Campeonato Mundial de
F-1. O que tornou isso possível foi um investimento dos mais altos e mais bem
estruturados da história da categoria, razão suficiente para que a casa alemã
não tome nenhuma atitude drástica neste momento. As circunstâncias certamente
azedaram por um bom tempo, quem sabe até definitivamente, a amizade que um dia
houve entre os dois, o que deixa claro como será o ambiente nos boxes a partir
de agora. Dito isso, evitar que esse clima ponha um dos principais programas de
marketing e pesquisa da Mercedes torna-se tão ou mais importante do que a
própria disputa pelos títulos de pilotos e construtores.
Apontar o dedo para o alemão ou para o inglês é algo
esperado pelos fãs de um e de outro, ainda que uns poucos o tenham feito de
maneira pouco racional. A dinâmica do choque revela que Rosberg largou melhor
que o pole position Hamilton a ponto de assumir a liderança quando ambos
disputavam a freada para a curva 1. Metros adiante o motor do carro do alemão
perdeu potência e velocidade; o inglês quis se aproveitar da situação e tentou
a ultrapassagem pela direita. Assim como qualquer piloto com um mínimo de
malícia agiria dessa forma, igualmente o adversário em tal situação defenderia
sua posição da forma como o líder do campeonato o fez. Hamilton não aliviou e
jamais freou; como a aderência de qualquer carro que tem seus quatro pneus na
grama é comprometida, o monoposto do atual bicampeão rodou e acertou a traseira
do carro do adversário com a roda dianteira esquerda.
Neste vídeo fica claro que Rosberg reajustava o
acerto eletrônico do seu carro, que perdia potência e velocidade, ao mesmo
tempo que fechava a porta para Hamilton, que nunca se intimidou e jamais
aliviou; vale lembrar que os dois já tiveram momentos semelhantes algumas
vezes e em papéis invertidos. A perda de potência aparentemente aconteceu por
um erro do piloto, que teria selecionado o ajuste incorreto para o momento.
Rosberg falhou ao não ajustar corretamente o software do seu carro; Hamilton
errou ao arriscar demasiado.
Se faz
sentido pensar que para a Mercedes é mais interessante que Rosberg conquiste
seu primeiro título, o fato é que seu contrato termina no final deste ano e
Hamilton está garantido na equipe até 2018. Um problema a mais para a casa
alemã resolver: se Hamilton teria lugar em qualquer equipe grande, Rosberg
ainda não comprovou que está na mesma situação: ainda que tão instável quanto
ele no que diz respeito ao emocional, o inglês é notoriamente mais rápido.
O
abandono de ambos em Barcelona deixou o caminho livre para que as duplas da Red
Bull e Ferrari disputassem entre si as glórias de uma vitória caída de bandeja;
ironicamente, foram os supostos segundos pilotos que preencheram os papéis de
protagonistas: Max Verstappen e Kimi Räikkönen. Daniel Ricciardo e Sebastian
Vettel ameaçaram uma disputa interessante e, novamente, o alemão deste episódio
reclamou dos ataques do adversário, neste caso o australiano. Não tivesse o
próprio Vettel ter usado de táticas semelhantes frente a, entre outros, ao
também australiano Max Webber, suas queixas teriam maior consistência… A
Ricciardo sobrou um saldo nada interessante: deixou em aberto se ele terá
condição e, principalmente, atenção da equipe, para fazer frente ao já quase
ex-novato Max Verstappen.
O fato de que há pouco mais de dois anos Verstappen, que
completou 18 anos em setembro do ano passado, brilhava no kart e hoje é o mais
jovem vencedor na história da F-1 — categoria onde é o primeiro holandês a
ganhar uma corrida—, certamente terá um grande impacto sobre a modalidade. Por
mais que simuladores e videogames ajudem um piloto a conhecer traçados do mundo
inteiro e trabalhar no acerto de chassi, a experiência que o micromonoposto
proporciona continua tendo grande valia. Se a Federação Internacional do
Automóvel (FIA) não enveredar por caminhos que depõem contra a popularização do
esporte — na semana passada a entidade proibiu Nélson Piquet Júnior de disputar
uma prova do Europeu de F-3, em Pau —, atuações como a de Barcelona
transformarão Max Verstappen como sucessor de Ayrton Senna frente a jovens
kartistas do mundo todo.
Dito o
que você acabou de ler, vale lembrar que todas as equipes, exceto a Sauber,
participam de dois dias de treinos livres, hoje (17) e amanhã no circuito
catalão. No Campeonato de Construtores a Red Bull abriu 19 pontos de vantagem
sobre a Williams (65) e está em terceiro, a 15 da Ferrari, vice-líder atrás da
Mercedes, que tem 157. No campeonato de Pilotos, Rosberg segue líder isolado,
com 100 pontos, contra 61 de Räikkönen, 57 de Hamilton e 48 de Vettel e
Ricciardo. Verstappen subiu para sexto (38). O resultado completo da prova e a
situação do campeonato você encontra clicando aqui. A temporada prossegue dia 29,
com o GP de Mônaco.
WG
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