Alta Roda nº 947/297 – 29 /06 /2017
O Brasil tem matriz energética
privilegiada em relação aos combustíveis líquidos.
Enquanto os países do chamado mundo desenvolvido precisam apelar para soluções
caras e difíceis de implantar com resultados que podem levar décadas para
apresentar redução sensível de emissões de gás carbônico (CO2), principal
responsável pelo efeito estufa, o País pode contar com biocombustíveis desde
já.
Mudanças climáticas e aumento da temperatura do planeta previstos para este
século provêm de várias origens. O setor de transporte responde por cerca de
25% do CO2 emitido mundialmente, mas as outras fontes são bem mais difíceis de
controlar. Por esse motivo se fala tanto em carro elétrico. Entretanto, para
recarregar baterias é necessária uma fonte de eletricidade que gere baixa
emissão de CO2 e isso não parece tão simples. Energias solar e eólica são
caras; energia atômica gera resíduos perigosos; hidroeletricidade (competitiva
aqui) não contempla muitos países.
Etanol de cana-de-açúcar, além de permitir cogeração de eletricidade, consegue
capturar 90% das emissões de gás carbônico no ciclo de vida (do poço à roda).
Mas, este setor foi marcado por uma trajetória errática ao longo de mais de
quatro décadas desde o início de produção em larga escala. Estímulos e
desestímulos se alternaram.
A décima edição do Ethanol Summit (Cúpula do Etanol, realizada bienalmente), em
São Paulo esta semana, apresentou uma convergência positiva, finalmente. Foi
assinado, no evento, um memorando de entendimento entre Anfavea e Unica (esta
representa mais de 50% da produção brasileira do biocombustível) para uma
agenda integrada em busca de maior eficiência energética e redução de emissões
na matriz de transporte veicular.
O Governo Federal teve papel indutor em 1978, quando liberou a venda dos
primeiros carros a etanol, e depois em 2003 com o advento dos motores flex.
Agora o acordo se dá apenas entre agentes privados e com abrangência de grande
alcance.
Esse novo cenário é importante porque acrescenta peso a outras duas iniciativas
governamentais. Renovabio e Rota 2030 estão em gestação com metas de médio e
longo prazo. Os efeitos não serão imediatos, mas pelo menos se acrescentam
previsibilidade e visão estratégica, algo que no Brasil costuma rarear. Os dois
programas são coordenados sob liderança do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, porém o de Minas e Energia tem exibido mais
dinamismo em busca de soluções.
Durante o seminário ficou claro que há uma situação que precisa ser resolvida
em curto prazo. O Brasil é o terceiro maior consumidor de combustíveis do mundo
(atrás dos EUA e da China), mas entre os refinadores ocupa apenas a oitava
colocação. Essa situação incomoda porque o País, embora crescente exportador de
petróleo, precisará importar seus derivados cada vez mais. Como a Petrobrás não
tem planos para construir novas refinarias, o País precisaria aumentar a produção
de etanol para, pelo menos, manter sob controle sua dependência de combustíveis
do exterior.
Como a utilização do etanol ajudaria nas metas de controle de gás carbônico,
ajustadas no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, não há mais como adiar essas
decisões.
RODA VIVA
FORD tem fatiado o pré-lançamento do novo
EcoSport. Na versão de topo Titanium com o conhecido motor 2-litros/176 cv
(etanol), destaque para o câmbio automático convencional de seis marchas
(substitui o de dupla embreagem). Apenas a parte frontal recebeu atualizações,
mas o interior está muito bem cuidado, dos bancos ao sistema multimídia de
última geração.
ROUPAGEM de SUV deu ao novo Peugeot 3008 o status
que não tinha antes. Estilo agora é um dos pontos altos, em especial na
traseira. Teto solar panorâmico, 22 cm de vão livre, porta-malas de 520 litros,
bancos dianteiros com massageador, tecido no painel e laterais, além do bom
motor turbo, 1,6 L/165 cv formam conjunto acima da média. Há uma única versão,
bem completa e a preço competitivo para um importado: R$ 135.990.
APESAR dos 1.105 kg em ordem de marcha, Argo com o
equilibrado motor 3-cilindros de 1 L/77 cv (etanol) mostra agilidade em uso
urbano. Fiat encurtou o diferencial para que em estrada o novo compacto pudesse
oferecer segurança em ultrapassagens, mesmo com carga total. Ganho em consumo
de combustível é a principal vantagem, além do preço menor (R$ 46.800).
PARA o Sindipeças, a frota atual de 42,9 milhões
de automóveis e veículos comerciais envelhecerá nos próximos anos. Mas não há
chance de redução da frota desde que as vendas anuais superem 1,72 milhão de
unidades/ano. Esse risco, portanto, está afastado. Para compensar o avanço da
idade só com crescimento robusto da economia e mais crédito ao consumidor.
RESSALVA: sobre a referência aos motores V-4 na
história dos automóveis, na coluna da semana passada, faltou citar a Lancia. A
marca italiana, além de pioneira no uso dessa configuração, manteve-se fiel por
mais tempo: de 1922 a 1976, segundo a Wikipedia.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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