Alta Roda nº 900/250 – 04 /08 /2016
Fernando Calmon |
Tradicionalmente o mercado brasileiro recebe influência
do europeu, em particular pela preferência por modelos de menores dimensões. O
Brasil, no entanto, seguiu alguns caminhos próprios ao criar dois segmentos. Um
deles só existe aqui, até hoje: picapes pequenas com capacidade de carga de até
quase 700 kg. A pioneira Fiat 147 surgiu em 1978. Outra “criação” nacional foi
o SUV compacto derivado de um hatch convencional, ou seja, com
estrutura monobloco. O Ford EcoSport estreou em 2003 e só oito anos depois chegou
um rival direto, o Renault Duster.
O fenômeno de crescimento dos SUVs de todos os tamanhos se iniciou nos Estados
Unidos. No ano passado, pela primeira vez, americanos compraram mais
utilitários esporte que automóveis. Na Europa, segundo dados da consultoria
Jato referentes a 2015, aquele segmento atingiu 22,5% de participação e, também
pela primeira vez, ultrapassou os compactos que ficaram com 22%, embora
automóveis continuem a dominar o cenário. O crescimento é firme no mundo todo:
passou de 20% de participação em 2010 para quase 28% no ano passado. Inclusive
na China, maior mercado mundial, os utilitários avançam.
Aqui, pelo menor poder aquisitivo dos compradores (SUVs são mais caros), o
processo segue um ritmo próprio, porém acelerado. No primeiro semestre deste
ano, por exemplo, a soma de todos os utilitários esporte representou 16% das
vendas de modelos de passageiros, enquanto o subsegmento de SUVs compactos foi
o único a crescer em relação ao mesmo período de 2015.
Uma das marcas que aumentou suas apostas neste ramo é a Renault. Acaba de
apresentar a segunda geração do Koleos, fabricado pela Renault Samsung na
Coreia do Sul (de onde será importado sem taxas) e na China. Ele se junta ao
Captur (compacto baseado no Clio IV) e ao Kadjar (médio-compacto). No
lançamento mundial em Paris não anunciou o preço, pois só estará à venda na
Europa no começo de 2017. A fábrica o classifica como SUV médio-grande.
Entretanto, curiosamente, indicou como rivais diretos modelos menores como
Honda CR-V e Toyota RAV4 (VW Tiguan não foi citado). Ao mesmo tempo elegeu
outros alvos, Kia Sorento e Hyundai Santa Fe, que são realmente médios-grandes.
A fórmula de maior espaço a preço competitivo graças a uma simplificação
construtiva é bem conhecida. O Koleos agrega a isso um visual bem agradável e
espaço para joelhos no banco traseiro de confortáveis 29 cm. Na versão de topo,
o acionamento é elétrico para os dois bancos dianteiros e a tampa do
porta-malas (movimento do pé por baixo do para-choque libera a abertura).
Vem recheado de equipamentos de assistência eletrônica ao motorista e a tela
tátil multimídia de 9 pol. no formato vertical amplia a área de leitura de
mapas. O modelo avaliado tinha tração 4x4 sob demanda. Saiu-se bem em trecho
fora de estrada graças ao vão livre de 21 cm e a bons ângulos de entrada (19°)
e de saída (26°). Na estrada mostrou equilíbrio e boa dirigibilidade. Motor a
gasolina 4-cilindros/2,5 L/170 cv, de origem Nissan, é áspero em acelerações
fortes.
O Koleos estará no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro. A importação
para o Brasil começará no fim de 2016. Preço estimado de R$ 170.000, na cotação
atual do euro.
RODA VIVA
CARLOS GHOSN, presidente da Renault Nissan, afirmou que o Kwid “não
obrigatoriamente será o modelo mais barato do mercado brasileiro”. Empresa se
empenha para este subcompacto chegar às lojas no fim do ano. Logo em seguida
virá o Captur (mesma arquitetura Logan/ Sandero/Duster), SUV pouco maior que o
Duster e cerca de 10% mais caro.
GRUPO VOLKSWAGEN superou o Grupo Toyota no primeiro semestre do ano no
total de vendas mundiais de automóveis e veículos comerciais leves. Diferença
foi de 120.000 unidades (5,12 milhões contra 5 milhões). Toyota teve
dificuldades de produção por causa de terremotos no Japão. Já a VW sofreu com o
escândalo diesel nos EUA. Briga boa até o fim de 2016.
FLEXIBILIDADE em obter mapas de 130 países e traçar rotas mesmo sem
conexão de dados são vantagens do aplicativo de mobilidade Here WeGo para
telefones inteligentes. Alternativa ao Google Maps no mercado mundial por
permitir baixar para o celular mapas de cidade, estado ou país que interessar
por meio da rede Wi-Fi. Instalação e desinstalação são livres.
ENTRE AS INCOERÊNCIAS da nova lei que obriga a ligar os faróis baixos em
rodovias e trechos urbanos cortados por elas, está a falta de previsão para
estradas de terra. Neste caso os faróis acesos são bem mais úteis em razão da
nuvem de poeira a cada passagem de veículo. Como multar nessas condições fica
difícil, os legisladores nem se preocuparam...
EMPRESA de transporte alternativo Uber pode enfrentar mais dificuldades
regulatórias. Associação Nacional dos Organismos de Inspeção sugere que os
carros particulares sejam vistoriados uma vez por ano por razões de segurança,
a exemplo dos táxis. Companhias de seguro, por sua vez, querem cobrar prêmios
maiores para motoristas desse serviço.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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