Wagner Gonzalez |
OBVIEDADES E DESAFIOS DO TEMPO
Mais do que o status de quem é quem entre pilotos e
equipes, o Grande Prêmio da Alemanha, disputado no último fim de semana, deu
uma ideia bem clara sobre o panorama atual da F-1 em relação a regulamentos
futuros e o interesse do público.
Esse drama teve três atos, bem claros e
facilmente perceptíveis e que formaram a trilogia do povo, proteção e
comunicação, algo como obviedades e
desafios ao tempo. Arquibancadas interditadas para receber painéis
publicitários não ajudaram a preencher as tribunas que permaneceram disponíveis
aos torcedores, contradições brotaram entre pilotos e chefes de equipe sobre a
opção de adotar o protetor “halo” em 2017 e uma nova reviravolta nas regras
aconteceu, desta vez para liberar a comunicação entre pilotos e equipe.
Hamilton, Ricciardo e Verstappen aproveitaram o erro de
Rosberg na largada (Foto Mercedes)
Dentro da pista, Lewis Hamilton (foto de abertura, o
retrato da F-1 2016) mais uma vez aniquilou a concorrência e venceu sem dar
chance para ninguém. Desta vez em uma corrida que poderia marcar a ressurreição
do outro piloto da equipe Mercedes, Nico Rosberg. Pole position, o alemão
voltou para a casa com um quarto lugar e a decepção de ter sido batida pelos
pilotos da equipe Red Bull: Daniel Ricciardo (segundo) e Max Verstappen (terceiro).
Ruim para Rosberg, pior para os brasileiros Felipe Massa e Felipe Nasr (que não
completaram a prova) e para a Ferrari e Williams, equipes que desafiam o tempo
ao caminhar para trás na concorrência com seus rivais diretos.
Ricciardo celebra o segundo lugar de maneira original
(Foto Red Bull Content Pool). Se o entusiasmo do torcedor alemão for levado em conta, é
possível concluir que o interesse da galera local não anda lá no mesmo ritmo
que o Mercedes de Lewis Hamilton ou mesmo o de Nico Rosberg. O ritmo de Pascal
Wehrlein e seu Manor-Mercedes parece o mais indicado para definir o apelo que a
F-1 provoca nas bandas da Bundesrepublik Deutschland. Preço dos ingressos e
ausência das disputas de anos atrás são razões endossadas por quase todos.
Ferrari tem uma longa estrada para voltar a ameaçar
Mercedes e a Red Bull (Foto Ferrari). Enquanto isso, os responsáveis pelos regulamentos da
categoria convencem cada vez mais que fazem uma pós-graduação em alquimia,
tamanho o número de erros e tão raros os acertos em suas últimas decisões. A
instalação de sensores nas zebras, para evitar que os pilotos atirem seus
carros sobre as demarcações da pista, o lenga-lenga sobre a comunicação via
rádio e detalhes importantes sobre a estrutura dos carros para 2017 são
exemplos disso.
Force India pode tirar o quarto lugar da Williams entre
os Construtores (Foto Sahara Force India).Se muitos de nós aprendeu a gostar do automobilismo ao
apreciar a habilidade de pilotos que batiam recordes e faziam ultrapassagens
nos espaços recobertos unicamente com asfalto, pouco a pouco foram adotadas
exigências que acabaram com as áreas de escape em nome da segurança e que
fizeram a alegria das empreiteiras contratadas para pavimentar o que já foi
barranco, grama, areia, caixa de brita e coisas do gênero. Os políticos de
cidades onde os autódromos são estatais, caso de Interlagos, agradecem,
desnecessário descrever as obviedades.
Os autoentusiastas, no entanto...
Tertúlia que há tempos sofre interferências e exploração
digna de chamar a atenção da Comissão de Direitos Humanos da ONU, a comunicação
via rádio recebeu sua frequência de alforria, pelo menos até que outras
chibatadas sejam perpetradas. Soaram como sinos desafinados as tentativas dos
cardeais da FOM (Formula One Management) e da FIA (Federação Internacional do
Automóvel) em catequizar pilotos e equipes a fazer bom uso desse recurso. Num
circo onde o deus maior é representado pela luxúria, estava claro que todos
cobiçariam o recado do outro em nome da ganância de ganhar uma posição.
Alexander Wurz, presidente da GPDA, defende a adoção do
"halo" em 2017 (Foto GPDA).Presidente da Associação dos Pilotos de Grande Prêmio, a
conhecida GPDA, o austríaco Alexander Würz não gostou nada de saber que a
decisão de postergar para 2018 a adoção do “halo” (uma proteção do habitáculo
que lembra as tiras de uma sandália Havaiana em torno do capacete do piloto).
Würz bradou que todos os pilotos assinaram um documento para adotar o
acessório, mas antes mesmo que suas palavras ecoassem paddock afora, alguns dos
seus liderados e um e outro chefe de equipe desmentiram essa unanimidade. Do
jeito que os regulamentos da categoria andam evoluindo, não será surpresa se
até a abertura da próxima temporada essa decisão tenha crises de ioiô.
Novidade por novidade, a Ferrari testou ontem pneus de
chuva nas medidas que serão usadas em 2017. Sebastian Vettel teve o privilégio
de avaliar esse componente na pista de Fiorano, onde andou com um chassi
adaptado com as asas mais largas já aprovadas para os carros do ano que vem.
Hoje (terça) o alemão cede lugar para o mexicano Estebán Gutiérrez e amanhã e quinta
a Red Bull se junta à Scuderia para mais testes em Mugello, circuito
administrado pela Ferrari. As novas medidas são 305/670-13 no eixo dianteiro
(atualmente é 245/660-13) e 405/670-13 no eixo traseiro (atualmente é
325/660-13). Até o final do ano outros 20 dias de testes serão realizados
por diferentes equipes.
Vettel já andou com os pneus de 2017, mais largos, ontem,
em Fiorano (Foto Ferrari).Falando em pneus, Vettel tentou passar uma borracha na
divergência que rolou entre ele e Maurizio Arrivabene durante o GP da Alemanha,
quando o piloto deixou claro que não obedeceria ao chamado para trocar esse
equipamento.
Trocas, aliás, tem criado grande tumulto na Scuderia: a saída de
James Alisson do cargo de diretor técnico significou uma promoção para o engenheiro
de motores Mattia Binotto. A ideia de convencer Ross Brawn a deixar de pescar
(seu hobby, junto com degustar vinhos), ainda respira, mas num mais para roxo
do que para o vermelho característico da equipe.
Mattia Binotto, especializado em motores, é o novo
diretor técnico da Ferrari (Foto Ferrari).A crise na Ferrari encontra similar na Williams. Se os
italianos já foram superados pela Red Bull, os ingleses estão perto de
experimentar uma ultrapassagem da Sahara Force India. Nas últimas quatro corridas
a Red Bull somou 157 pontos, a Ferrari 108, a Williams e 6 e a Force India, 22.
Fica fácil notar quem está em viés de alta ou de baixa... Quer saber todos os
números da temporada e o resultado completo do GP da Alemanha? Simples, clique aqui.
Cara nova na F-E
Carro da F-E para 2016/2017 tem novo bico dianteiro;
testes oficiais serão no fim do mês (Foto F-E). Fortemente inspirado no monoposto fabricado para estudar
uma versão de carro autônomo de competição, a versão 2016/2017 do F-E ganhou um
bico dianteiro que pode ser considerado, no mínimo, diferente. Baseado no
conceito de asa biplana, a nova solução será testada oficialmente nos primeiros
testes coletivos da categoria, marcados para os dias 24 e 25 de agosto. A
temporada começa dia 9 de outubro, em Hong Kong e marca a estreia de duas novas
equipes: a Jaguar, que será operada pela Williams Grand Prix Engineering, e a
Techeetah, bancada por uma das maiores empresas de marketing esportivo da
China.
José Asmuz e Eduardo Cardoso
Eduardo Cardoso (1952-2016) e José Asmuz (1928-2016)
(Fotos de arquivo).O automobilismo nacional perdeu nos últimos dias dois
nomes de peso: o gaúcho José Asmuz e Eduardo Cardoso, mineiro radicado em
Goiás.
Asmuz era um dos últimos representantes da época áurea dos carreteras e nos últimos anos atuou como
dirigente do seu clube favorito, o Internacional; ele sucumbiu a uma parada
cardíaca. Cardoso, um dos mais generosos e simpáticos pilotos da safra surgida
com a inauguração do autódromo de Goiânia, teve um infarto fulminante quando
praticava trilha com sua motocicleta, outra de suas paixões junto com a música.
Aos seus familiares e amigos, a coluna expressa as maiores condolências.
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