Coluna 0117 -
07.01.2017 edita@rnasser.com.br
De Carro na República Dominicana
República Dominicana fica no Caribe,
meio caminho entre Américas do Sul e Norte. Pouco lembrada, foi o ponto de
inflexão do desenvolvimento mundial quando, em 1492, Cristóvão Colombo aportou,
logo instalando o primeiro Vice Reinado extra europeu. Diego, seu filho, foi
pioneiro Vice Rei a operar no Continente Americano e seu palácio, o Alcazar de
Colón, construído em 1512 até hoje remanesce como atração no Centro Histórico,
contando história com auxílio de mobiliário e utilidades de época, auxiliado,
em seu entorno pelos primeiros prédios erigidos nas América: administração,
igreja, forte, alguns ininterrupta e secularmente ocupados pela gestão do
poder. Como lembrança, o Brasil foi descoberto oficialmente em 1500, mas os
portugueses registraram e largaram. Os franceses pilharam o país até 1565
quando expulsos por Estácio de Sá, representando a Coroa. Na prática o Brasil
começou em 1565 no Rio de Janeiro, nas proximidades de onde hoje está o
abandonado Hotel Glória.
Superfície do país é de 48.500 km2, soma
aproximada de Alagoas e Sergipe, e divide com o Haiti a Ilha Hispaniola,
segunda maior – primeira é Cuba. O dividir é ao pé da letra. Haiti, primeiro
país a tornar-se independente nas Américas, é o mais pobre do Continente;
população predominantemente negra; assinalado por desastres naturais
inexplicavelmente limitados às fronteiras. Sua população tem melhor situação de
educação, conhecimento e interpretação, e menor acidentalidade com veículos. Os
dominicanos são arrepiados com os vizinhos.
Pouca industrialização, economia de base
com criação de gado, plantio de cana, arroz, produção de sal, os dominicanos
demoraram a demarrar-se em integração pelo deficiente sistema de ligação e
transportes, tomando muitos anos evoluir dos cascos dos animais, ferrovias, às
estradas de rodagem. E destas apenas as novas, de instigação turística, tem boa
qualidade.
Legenda
02: RD, mapa geral
Sua economia foi traçada como dependente
dos gastos dos muitos turistas. Dados de 2015, país teria imaginados 11 milhões
de habitantes, e recebera quantidade quase igual de visitantes, e facilita, sem
necessidade de Visto e por pagamento de US$ 10 por pessoa à chegada no
Aeroporto. Na ocasião você entende a lógica da operação: há duas pessoas para
processar o tíquete de entrada: uma entrega, outra recebe ...
Nas localidades dedicadas ao turismo
estão, ao Norte, Punta Cana, com enorme quantidade de hotéis no sistema all
inclusive - fácil entender: é um enclave americanizado, sem cidade dominicana
nas proximidades e, assim, os hotéis devem criar a própria ilha de serviços
para atender aos hóspedes. Estes, em sua maioria, norte-americanos de renda
média e baixa, brasileiros. Vai-se pela Ruta 3, a 250 pesos de pedágio.
Outro lugar recente e demandado, a
Leste, é Samaná, cercado por mar e lagoa, dividido com Las Terrenas. Resorts
novos, hotéis, pousadas e a utilidade de apoio e turismo do comércio e serviços
da cidadezinha, simpáticos e descompromissados como o são os das cidades
praianas do Continente Sul. Poucos hóspedes brasileiros, outros de língua
espanhola, canadenses, italianos, franceses, alemães. Pela Ruta 7 e depois a
Estrada da Odebrecht... Punta e Samaná ficam a duas horas por rodovia.
Por lá
Sedãs, SAVs e SUVs são mandatórios aos
turistas demandando por Samaná e Las Terrenas. Hóspedes em Punta Cana
utilizarão o aeroporto da cidade, ou transfer de agências de turismo a partir
de Santo Domingo.
O país possui cinco aeroportos e exceto
Punta será mandatório alugar carro, havendo como opcional ônibus de operadores
de turismo e os Guagua, como se chamam os micro ônibus tropicalmente
desorganizados, com lotação superior à capacidade técnica, folclóricos e
desaconselháveis.
Folheto de turismo distribuído nos
hotéis enfatiza as belezas naturais, as praias, estradas, florestas, grutas e
faz curioso alerta quanto ao comportamento social: o rápido é para amanhã. É uma das cláusulas pétreas da operação
dominicana: não há pressa – ou noção de produtividade. Assim, quando você, por
internet, faz e paga a reserva de um eventual SUV para sete lugares em locadora
internacional, chega ao balcão, exibe o comprovante, nada garante a
disponibilidade de tal veículo, e o fato será problema exclusivamente seu. O
atendente da locadora informa ter havido erro no sistema; não haver o carro
reservado; e que se quiser, procure em outra – onde haverá, mas a preço
duplicado. E cobram, por cinco dias, US$ 1,200 por um SUV com mais de 100 mil
km rodados – e dê-se por satisfeito, incluindo a demora. Não adianta ficar
valente. Restará como opção os carros de turismo –US$
200/pessoa/aeroporto-hotel !
Na República Dominicana não procure por
identidade física nacional. Eles se orgulham ser produto de mescla entre
índios, europeus e negros, e isto se espelha nas lembranças turísticas:
bonequinhas não tem rosto.
Cuidado
Conduzir na capital, cidades
periféricas, estradas, exige condicionamento de extrema atenção, exercício de
tensão. Tudo, mesmo o inacreditável, pode acontecer: parar na alça de acesso
para alguém descer; idem na via de velocidade deixando a Capital, o Guagua para
junto à defensa para passageiro usar o micro ônibus como degrau para saltar
sobre a barreira e cruzar correndo a pista de velocidade; picapes com mais de
dezena de pessoas em pé na caçamba, são usuais e você reza para que nenhum caia
no asfalto à sua frente. Parar com meio carro na estrada; retornar entre as
fila do pedágio e sair na contra mão do acostamento; ultrapassagem sem
visibilidade, sobre faixa dupla; sobre pontes. O inimaginável no trânsito
acontecerá.
Termômetro
Por hábito me valho de embaixada
brasileira para entender os lugares e ter referência em caso de necessidade. Um
dos nossos diplomatas recomendou: aconteça o que acontecer, não proteste, não
buzine, não reclame. As pessoas andam armadas e podem se sentir ofendidas com
alguém querendo organizar a desordem. Fique quieto e espere a confusão se
diluir.
Convívio com armas, coisa a nós inusual,
faz parte do dia-a-dia. Nos postos de pedágio o segurança é do Exército e usa
uma arma longa, fuzil ou escopeta. Nas estradas o policiamento é intenso:
picapes com a sigla do Ministério de Obras Públicas e Comunicações, guardas com
coletes refletivos, e armas longas na mão. Fiscalizam, ou fazem presença.
Anda-se na velocidade definida: 80 km/h. Abordado ouvi conversa mole de a
polícia estar ali para garantir a segurança dos viajantes, que o pagamento
estava atrasado e por isto pedia uma colaboração. Respondi em alguma coisa
parecida com francês e, ante a falta de compreensão, mandou seguir.
Na entrada do estacionamento de
supermercado, o guarda usa arma longa. Em compensação, se você estiver armado,
não será permitido, como informa o cartaz.
Vais estacionar na rua da ultra
movimentada Santo Domingo? – um terço da população ali habita. O flanelinha tem
espaço definido por cones próprios. Ele o remove para você estacionar... No
desencontro de preços, quatro horas de estacionamento custaram preço menor ao
de uma garrafa de água italiana. Quase tudo é importado.
O país é bonito e variado, das grandes
superfícies planas, às montanhas. O mar é matizado, azul caribenho na faixa
banhada pelo Pacífico, na direção de Punta Cana, e verde com faixas azuladas na
região banhada pelo Atlântico, onde está Samaná, servida por estradas
particularmente boas ligam-na a Samaná. Bem sinalizadas, limpas, árvores
plantadas nas laterais, capim cortado, placas visíveis. A via cruzando o Parque
Nacional dos Haitis, mescla plano e serra, com paisagens como festa para os
olhos, foi construída recentemente pela ora midiática Odebrecht. Dizem os
locais, o pedágio também é da companhia. É dos mais caros do mundo para trecho
sem telefonia de apoio ou serviço de socorro: 520 pesos – US$ 11, R$ 40 - para
andar uns 17 km. Tenha-o em pesos. Se for pagar em dólares a cotação variará de
acordo com o cálculo do caixa, uns 35 pesos x dólar. No comércio praticava-se
46x1.
Como no Brasil a Odebrecht responde a
processo por corrupção para a conquista de obras públicas.
Seleção
Poucos dados a respeito da frota
circulante, exceto o índice de motorização 3 habitantes/veículo, envolvendo o
universo das motos. Como em todo país abaixo dos EUA seria razoável ver
unidades dos velhos e resistentes carros de tal origem. Não os vi, exceto
caminhões de marcas pouco lembradas no Brasil, como International e Mack,
muitos de frotas novas ou surradas unidades trabalhando sem condições de
segurança. Também velhos, remendados, japoneses dos anos ’90. E motos de
pequena cilindrada, maioria chinesa, muitíssimas. É a condução do pais.
Veículos de produção brasileira, usuais
em mercados de baixa cultura automobilística por resistência e preço, vi apenas
duas exceções: velho Fiat Marea e Ford EcoSport da primeira geração. Automóveis
caros, poucos: Mercedes 500, Audis RS8 e Q7, um Ferrari entrado em anos.
As estradas exibem a nítida separação de
classes, privilegiando os estrangeiros.
Explicou o mesmo diplomata, quando o
país optou pela economia baseada no turismo, elevou ou liberou o preço dos
pedágios. Assim, os US$ 21 gastos entre Santo Domingo e Samaná, quase 1.000
pesos locais, excluem os dominicanos. Na estrada veem-se veículos novos com
turistas, seus ônibus, as vans coreanas convertidas em micro ônibus Guagua, e
motocicletas de baixa cilindrada, muitas e em estado a ser imaginado como
padrão dominicano: pelo menos duas pessoas, sem capacete, falta de luz
traseira, ausência de retrovisores. Motos não pagam pedágio.
País convive com o maior índice de
acidentes das Américas, empatado com a Venezuela, mais de 40 mortes/ano/100 mil
habitantes. Brasil, lamentavelmente líder na América do Sul, o índice é de
21,5% - e questiona-se a exatidão das estatísticas. Entendimento da Organização
Mundial da Saúde mostra a renda da população ligada diretamente à
acidentalidade. Menos renda, educação deficiente. A pouca vivencia com os
veículos deve ser considerada. Convívio com automóveis não se aprende em apenas
uma geração.
Vá
Vale a pena ir à República Dominicana?
Vale. O leque de atrações, seja para o esportista – mergulho, snorkel, nado, surf,
golf -, seja para os contemplativos, para os aventureiros em busca de lugares
interessantes e de acesso difícil, ou a pasteurização norte-americana dos
hotéis all inclusive. Tudo há e a preços inferiores aos praticados no Brasil.
População amena, de trato sul americano. Recomendações usuais. Se insistir
ficar em Santo Domingo, prepare-se como se fora passar uma semana na Baixada
Fluminense, onde bobo vira estatística. Tenha um bom veículo, um bom hotel,
escolha bem o lugar e despreze acampar. Tenha cuidado, paciência, seja zen, entre
no clima quando a sobremesa anteceder a salada.
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