Wagner Gonzalez |
F-1 EM FÉRIAS, SÓ NA PISTA
Em meio a um período digno de sistema elétrico de 6
volts, daqueles que sugeriam Fuscas e Gordinis serem equipados com faróis que
iluminavam, a trupe da F-1 vive supostas férias, só nas pistas, em meio ao
maior calendário da sua história.
Nem por isso o dínamo da categoria deixou de
funcionar: ao contrário, o aparato segue gerando energia para alimentar a
avant-première de mudanças e pseudomudanças para 2017. O que o amanhã reserva
para os Felipes brasileiros segue em suspense gênero meia-boca: é praticamente
certo que Massa deixa a Williams e ninguém duvida que Nasr também procura
alternativas.
Novela que se arrasta há mais tempo que East Enders
(série criada por Julia Smith e Tony Holland, lançada em fevereiro de 1985 e
que já soma mais de 5.300 capítulos), a história da semana extrapola o universo
da F-1 e envolve o destino do autódromo de Silverstone. Formado a partir de um
aeródromo da II Guerra Mundial, o traçado clássico as muitas mutilações
impostas ao seu traçado original foram compensadas por instalações mais
funcionais, porém sempre custosas. Bernie Ecclestone não esconde sua birra em
exigir sempre mais e mais do British Racing Drivers Club, o administrador e
titular do local, atitude que muitos enxergam como uma tática para
eventualmente ele mesmo adquirir Silverstone.
Enquanto “seu” Bernie não vem, soam cantos de diversas
sereias, com acompanhamento de cítaras e compassos de polca. Recentemente o
Grupo Tata fez uma oferta para comprar Silverstone e transforma-lo em um centro
de desenvolvimento, hotel, lazer e memória das marcas Jaguar e Land Rover,
enfim, uma verdadeira Disneylândia a motor, negócio que superaria os R$ 120 milhões.
Ocorre que a Porsche opera uma escola de pilotagem no traçado de
Northamptonshire e tem um contrato com os administradores do autódromo que
impede que outra marca use as instalações por mais de 45 dias por ano; os
alemães deixaram claro como uma cerveja bávara, daquela de trigo, que não estão
dispostos a renegociar essa condição. E eis que entrou em cena Lawrence
Tomlinson (empresário e, entre outras empresas, dono da Ginetta), disposto a
adiantar R$ 24 milhões e garantir pagamento anual superior a R$ 4 milhões
durante míseros 248 anos…
Enquanto empresas e empresários lutam para explorar
Silverstone de forma profissional, cá entre nós Interlagos segue como uma
galinha de ovos de ouro para contratos, reformas e eventos secretos. Seus
atuais administradores tratam o automobilismo local com desdém, ignorando que é
a atividade regional que gera empregos e impostos para paulistanos e todos os
brasileiros que trabalham no setor.
Sem dúvida, para os governantes municipais
é melhor negociar com promotores de shows musicais e campeonatos privados e dar
migalhas aos que votam. No último fim de semana carros de linhagem esportiva e
um exemplar histórico do automobilismo brasileiro — o Porsche 908 de Luiz
Pereira Bueno — ocuparam a pista e os boxes que entram em seu terceiro ano de
reformas.
Infelizmente, a Porsche Cup é um evento bem organizado
apenas para os bem-aventurados que podem dar-se ao luxo de corre com os
esportivos alemães. Pior, a menção de que as arquibancadas estavam abertas ao
público soou como engodo: quem se atreveu a ir acompanhar a prova das tribunas
encontrou “null” de informação sobre o que ocorria na pista, “nichts” de opção
para comer ou beber e nenhum banheiro “verfügbar”. Não precisa ir ao tradutor
automático: “null” equivale a zero, nichts significa nada e “verfügbar” quer
dizer disponível. A questionar por que a Confederação Brasileira de
Automobilismo dá status de campeonato brasileiro à essa manifestação privada.
Voltando à F-1: a diretoria da Ferrari vive uma situação
extremamente oposta. Como é normal com tudo que diz respeito à Scuderia,
resultados, mudanças, contratações, dispensas, tudo ali é carregado em vermelho
passional. Afastado da direção da empresa com a ascensão de Sergio Marchionne,
Luca Di Montezemolo pit-stop-e-meio dá seus pitacos sobre a situação da marca
na F-1, sempre com notas de frustração nas entrelinhas. Nos últimos dias, o
vício de Montezemolo foi demonstrado com um “eu amo muito a Ferrari por isso
prefiro não comentar sobre o que está acontecendo”.
Como sói acontecer com a história no reino de
Maranello-Fiorano, consta que ligaram para Maurizio Arrivabene avisando que o
gato dele subiu no telhado, uma nova “estrutura horizontal” será implementada
na gestão da equipe, e que a partir de agora tudo será diferente etc e tal.
Renove seu estoque de brunello, pois essa história vai longe….
Já no lado da França a Renault admite que aumentou seu
investimento na F-1 e que procura um piloto carismático para liderar sua equipe
e muita gente já fala que esse piloto seria Valteri Bottas. Enquanto os
franceses alargam seus limites, cresce no paddock a movida para diminuir a
extensão das pistas para a faixa do asfalto: a ideia de adotar o chá de radar
que assola paulistanos no trânsito diário para punir os infratores que ultrapassam
as zebras para andar mais rápido ou tentar ultrapassagens não deu nada certo.
Figuras como Toto Wolff, o homem forte da Mercedes na F-1, defende a volta das
caixas de brita ou areia como forma de conter excessos e liberar emoções.
Atualmente muitas áreas de escape são exploradas com
mensagens publicitárias ou institucionais e se a ideia de voltar a usar brita
ou areia vingar haverá queda de faturamento. Talvez por isso Bernie Ecclestone
estaria considerando vender publicidade embutida nas comunicações de rádio
entre equipes e pilotos, como se fosse um programa de fofocas ou a transmissão
de um jogo de futebol. Seja o que for, Ecclestone continua lépido e faceiro em
descobrir novas formas de faturamento.
Sobre os brasileiros o suspense ainda é grande. A
imprensa inglesa dá como certa a saída de Felipe Massa da equipe Williams, e as
últimas atuações do brasileiro permitem concluir que a relação desses parceiros
não é das mais animadas. Por seu lado, Felipe Nasr também procura alternativas
para o ano que vem. Haas, Renault e Williams parecem ser as suas maiores
possibilidades.Apesar de tudo que você leu até aqui, o que quase todo mundo
quer na F-1, é estabilidade nas regras, algo que anda meio em falta no
segmento.
Christian segue líder
Christian Fittipaldi e o português João Albuquerque
terminaram em segundo lugar a etapa de Road America válida para o MSA
WeatherTech SportsCar Championship e seguem na liderança do campeonato. A
competição marcou mais uma dobradinha da equipe do brasileiro, que cruzou a
linha de chegada separado por apenas 0”686 do Corvette pilotado por Dane
Cameron e Eric Curran. O brasileiro Ozz Negri terminou em terceiro lugar. O
campeonato prossegue dia 17 de setembro, em Austin, Texas.
WG
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