Poucos eventos esportivos no mundo tem a mesma transcendência do que a 500 Milhas de Indianápolis e o Grande Prêmio de Mônaco. Nem por isso seus organizadores abrem mão de evitar a coincidência de datas. Ironicamente na centésima edição do primeiro e na septuagésima quarta da segunda os acontecimentos e resultados em ambas dificilmente poderiam ter sido mais bizarros.
Comecemos pela mais tradicional: Alexander Rossi, californiano que já tentou a sorte na Europa e esteve com um pé — o errado, diga-se de passagem — na F-1, foi obrigado a recomeçar sua carreira nos EUA e venceu a Indy 500 em sua primeira tentativa, algo que não acontecia desde 2001, quando Hélio Castro Neves logrou tal feito. Mais, Rossi conseguiu a proeza com uma equipe formada na base da amizade e na edição que marcou o centenário da competição que oferece o maior prêmio em todo o mundo: nos últimos anos o vencedor tem recebido um cheque de, em média, US$ 2,4 milhões. Este ano o prêmio chegou a exatos 2.548.743 de dólares. Descobrir quanto vale a vitória em um GP ou no campeonato de F-1 é tarefa praticamente impossível.
Este vídeo feito por Raul Boesel mostra outra característica da prova americana: o grid é aberto para quem se dispuser a comprar um ingresso que dê direito a entrar na “arena”, digo, pista. Tente fazer isso na F-1… Enquanto esta categoria opta pelo espírito de grife, exclusividade, a Indy explora o conceito de economia de escala e aqui você pode ver e ouvir o vencedor em sua primeira entrevista após a vitória.
E foi na base da economia de escala que Alexander Rossi conseguiu a vaga que inscreveu seu nome na história do circuito de Indiana: Michael Andretti e Bryan Herta somaram esforços e recursos para inscrever o Curb-Agajanian Dallara Honda número 98. À estrutura técnica do primeiro e ao dinheiro do produtor musical e ex-vice governador da Califórnia Mike Curb e do advogado e marqueteiro Cary Agajanian, Herta somou seu conhecimento no início do ano. Nessa época ele não tinha apoio suficiente para a temporada completa e por isso associou sua equipe com Michael Andretti e, pouco antes do início do campeonato assinou com Rossi.
Na corrida o californiano de Auburn largou num discreto 11o lugar e só ganhou destaque a partir das últimas 10 voltas, quando Hélio Castro Neves já estava fora da luta pelos US$ 2,5 milhões por cortesia de JR Hildebrand, que abalroou a traseira do carro do brasileiro; Tony Kanaan liderou a volta 184 e vinha forte, mas a sete voltas da quadriculada foi obrigado a parar no box para pôr mais combustível. A chave da vitória de Rossi foi uma tocada sutil nas últimas 37 voltas para ir até o final da prova; o cálculo de Bryan Herta foi no limite: após receber a bandeirada de vitória Rossi parou por pane seca no meio do circuito.
Rejeitado pela F-1 (ele foi piloto de testes da BMW/Sauber, Team Lotus, Caterham, Marussia e Manor, equipe pela qual disputou as cinco últimas provas de 2015), Alexander Rossi venceu a edição icônica de uma prova centenária. Esse triunfo o alça à condição de herói nacional em um dos principais mercados do mundo, o mesmo onde a categoria de Bernie Ecclestone tem dificuldades históricas para se firmar. Não se surpreenda se o nome do vencedor de 2016 na Indy 500 voltar a circular nos rumores da temporada de fofocas (a “silly season” no jargão da F-1) que se inicia.
Se ao circo da Indy interessa o consumo de massa e o esforço comunitário, na F-1 o foco é outro, radicalmente oposto. O que se viu no último fim de semana foi uma sucessão de erros e desentendimentos que refletirão nas definições das equipes para 2017, quando os carros terão pneus mais largos, ainda em rodas de aro 13”, e maior peso total: de 702 passa para 722. O erro mais crasso foi, sem sombra de dúvida, cometido pela Red Bull. Tal qual Lewis Hamilton foi privado de uma vitória praticamente certa em 2015, este ano tocou a Daniel Ricciardo viver o mesmo sofrimento: o australiano foi chamado aos boxes quando a equipe ainda não tinha os pneus corretos prontos para a troca. Segundo Christian Horner “por causa do espaço apertado dos boxes de Mônaco”, explicação que cabe como sinônimo de “foi culpa do estagiário”.
Se ao circo da Indy interessa o consumo de massa e o esforço comunitário, na F-1 o foco é outro, radicalmente oposto. O que se viu no último fim de semana foi uma sucessão de erros e desentendimentos que refletirão nas definições das equipes para 2017, quando os carros terão pneus mais largos, ainda em rodas de aro 13”, e maior peso total: de 702 passa para 722. O erro mais crasso foi, sem sombra de dúvida, cometido pela Red Bull. Tal qual Lewis Hamilton foi privado de uma vitória praticamente certa em 2015, este ano tocou a Daniel Ricciardo viver o mesmo sofrimento: o australiano foi chamado aos boxes quando a equipe ainda não tinha os pneus corretos prontos para a troca. Segundo Christian Horner “por causa do espaço apertado dos boxes de Mônaco”, explicação que cabe como sinônimo de “foi culpa do estagiário”.
Quando a TV mostrou o RBR número 3 erguido nos macacos rápidos por segundos que pareciam uma eternidade, cangurus davam o último suspiro na terra do “down under”. Talvez por causa da distância entre Mônaco e Canberra, 16.636,9 km, quando a corrida terminou a cara de Ricciardo ainda espelhava o pesar dos seus fãs australianos. Não demorou muito e ele botou a boca no berrante, afinal sua equipe tem touros chifrudos até no nome:
“Eu me ferrei nos últimos dois fins de semana de corrida, isso é ruim. De qualquer forma foi bom ver o público enfrentando a chuva para ver a corrida em Mônaco. Quanto ao que aconteceu no pit stop, sinceramente, não quero falar sobre isso. Só digo que me chamaram para entrar, obedeci e eles deveriam estar prontos…”
O que a TV não mostrou foi a reação de Helmut Marko e Christian Horner ao calcular os prejuízos decorrentes das três batidas de Max Verstappen em treinos e corrida. O holandês mostrou que é arrojado e afoito, mas até hoje ainda subsiste o “Teorema de Gilles Villeneuve”, onde a soma de manobras espetaculares é um número inversamente proporcional à resultante (de títulos+vitórias)…
As asas da Red Bull não foram as únicas a ajudar Lewis Hamilton a voltar a vencer após oito corridas. Após o entrevero com Nico Rosberg em Barcelona, a Mercedes se viu envolta em uma crise de grandes proporções e, ironicamente, na corrida de Monte Carlo o carro do alemão não rendeu como o do inglês. Rosberg à frente, ele recebeu ordens para deixar o inimigo de equipe ultrapassá-lo e o fez na subida após a curva de Saint Devote e, a partir de então foi caindo posições a cada vez que narradores de TV lembravam das inúmeras vitórias do Mr. Mônaco brasileiro a ponto de perder o sexto lugar para Nico Hulkenberg na última volta. Falando em Hulkenberg, a Force India brilhou no domingo monegasco a ponto de Sergio Pérez ter conquistado um excelente terceiro lugar.
Falando de Rosberg, voltaram a circular rumores de crise interna por causa do acidente de Barcelona e a sempre inflamada imprensa italiana enxergou até ameaças de Hamilton deixar a equipe em plena temporada quando ninguém da Mercedes ficou do seu lado na análise da batida. Mais, a renovação do contrato de Rosberg, que termina este ano, teria sido oferecida por um ano apenas, o que, em tese prestigia Hamilton, que fica até 2018. Por outro lado, não é difícil que essa decisão, caso verdadeira, e a ordem para o inglês superar o alemão na 16a volta tenha a ver com essa ação “panos quentes” dentro de casa.
“Panos quentes” é uma sensação vivida pela metade nas esquinas de Maranello: lá os panos sumiram e a temperatura subiu: Sebastian Vettel mostra que está sob pressão, Kimi Raikkonen vai comendo pelas beiradas, os carros da Red Bull estão andando mais que os da Ferrari, Ricciardo já tem tem 66 pontos no campeonato, contra 61 de Räikkönen (61) e Vettel (60). O finlandês terá seu contrato renovado em função do seu desempenho nesta temporada; por enquanto ele está à frente de Vettel. A briga com a equipe dos energéticos que dão asas deve alçar voos mais turbulentos Red Bull e Renault fizeram as pazes e a equipe do touro terá os motores franceses pelas duas próximas temporadas; de quebra, a Toro Rosso também usará o mesmo trem de força, sinal que Mario Illien conseguiu resolver os problemas do V-6 francês e alcançar a Mercedes passou a ser algo viável enquanto superar a Ferrari ganha tons de fato consumado .
Com dois clientes garantidos, a Renault melhora o caixa e já pode pensar em contratar pilotos mais experientes, e caros, para atingir suas metas. Ainda que o chassi deste ano não seja a melhor opção das galáxias, o desempenho de Kevin Magnussen e Jolyon Palmer anda no mesmo nível. Por isso o nome de Felipe Massa começa a ser ventilado como possível primeiro piloto da equipe francesa em 2017: o mercado latino-americano e a necessidade de um piloto experiente e com potencial para liderar uma equipe em reconstrução são suas vantagens. Para seu lugar fala-se de Jenson Button: candidato a perder o lugar na McLaren para o belga Stoffel Vandoorne, o campeão mundial de 2009 encontraria abrigo na equipe onde estreou na F-1 no ano 2000. Há duas temporadas considerado em decadência, Button assim como Massa, precisa de uma oportunidade para encerrar a carreira de forma grandiosa.
Nestes links você encontra os resultados completos da 100a 500 Milhas de Indianapolis e do 74o GP de Mônaco.
WG